Sobre a Páscoa (por Anabela Ferreira)

GetAttachmentAos 8 anos era a única criança na minha rua que não ia à Igreja nem à catequese. Num Portugal onde a Igreja Católica tinha pacto com o Estado.

O meu avô abordado pelo Prior da terra convidando-o a levar-me à casa santa,este em tempos de ditadura feroz tinha vistas largas, perguntou-se se eu queria ir.

Disse-lhe que podia tentar. O meu avô já me conhecia,por fazer muitas perguntas, às quais ele tinha todo o tempo, paciência e sabedoria para me responder. Era o meu “catequista” e juntos estudámos as várias religiões. E tudo o resto.

Fui à catequese talvez duas vezes…Tinha muitas dúvidas e muitas questões. As respostas não me satisfaziam.

Achei que as histórias que lá se contavam eram o equivalente hoje às séries de vampiros. Com muitos aderentes e fãs, mas sem sentido.

Muita invenção, que poderia ajudar a sermos criativos, mas tinha por fim não nos deixarem ser donos de nós próprios.

Uma espécie de colonização como a que acontecia nesse tempo na minha terra natal.

A catequista não fez questão que eu voltasse. Nem o senhor padre que era até boa pessoa.

O meu avô, do alto do seu 1,98, da sua cabeça redonda e calva, dos seus olhos claros e puros, da sua imensa sabedoria e calma, altas como ele, sorriu quando lhe disse que não estava interessada em voltar.

Era o que se passava na mente de uma criança de 8 anos.

É o que se passa na minha mente ainda hoje. As dúvidas as dúvidas. As questões que me afligem…Porque tantos acreditam sem questionar?

Até à passagem da vida para a morte (do meu avô), vivi naquele lugar e fui sempre a única criança até à adolescência a não ir à Catequese.

Cristo sim, merece-me respeito. Gosto da História que o envolve. No entanto ainda precisamos aprender tudo o que ele ensinou. E saber por onde andou.

O tempo da História marca-se com a sua chegada, por calendário Cristão. Em dois mil e quinze anos, estamos ainda longe de ter entendido a sua mensagem de Amor, Simplicidade e Paz. Nem a própria casa fundada em seu nome oferece exemplo.

Precisamos ainda de ver chegar a Passagem das trevas para a luz.

Que esta seja feliz.

PassaGem

Da sua origem,

tempo de passar das trevas para a luz,

tempo do equinócio da Primavera que anuncia

a Paskha (grego), a Pache (latim), “Peschad” (hebraico), numa celebração pagã

tempo que anuncia o fim do Inverno e o inicio da Primavera,

tempo de celebrar a libertação do povo de Israel do Egipto

tempo de festa pagã da Idade média de homenagem a Esther (Easter),

tempo transformado para celebrar uma heroína judia,

tempo aproveitado pela Igreja Católica para determinar

(sem explicações muito plausíveis) a passagem da vida de Jesus,

da sua terrível morte na cruz à sua ressurreição

em três dias que não são…

nesta passagem que agora vivemos,

veio o comércio e os vendilhões do templo,

e entre chocolate e invenção

venha o coelho e escolha a sua redenção.

Feliz Passagem.

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