Enquanto a ANAC (Autoridade Nacional da Aviação Civil) nada diz e, pelos vistos, nada faz relativamente às sucessivas e grosseiras violações dos direitos dos passageiros com voos atrasados e cancelados, em especial no Aeroporto de Lisboa e com voos da TAP, a Administração desta soma e segue em termos de incompetência e mentira.
Perante o descalabro da manifesta insuficiência de trabalhadores para a empresa funcionar devidamente e responder à retoma da actividade, mas teimosamente não querendo nunca reconhecer nenhum destes factos, aquilo que a CEO Cristine Ourmières-Widener, e as “luminárias” da gestão em que se apoia, tem feito é, desde logo, adoptar um conjunto de medidas pontuais e de recurso, algumas delas ilegais e perigosas, que nada resolvem de fundo e que oneram ainda mais a empresa com acrescidos custos e encargos financeiros.
Assim, e como já tive oportunidade de denunciar, esses génios administradores puseram a Portugália a contratar aviões (Embraer), pilotos e tripulantes de cabine à Bulgaria Air; pediram dois aviões (A321 LR Neo) de empréstimo à gestora de activos espanhola Heed Capital, enviaram 4 aviões A320 para manutenção na companhia eslovena Adria Airways, preparam-se para enviar, para mudança de motores, vários aviões A330 para outra empresa exterior, e acabam de contratar à companhia Hi Fly (empresa do grupo Mirpuri e sucessora da falida Air Luxor) a cedência de uma outra aeronave, no chamado regime de ACMI (ou seja, avião, manutenção, tripulações e seguros), alegadamente para as rotas de Punta Cana, Viena e Varsóvia. Tudo isto sempre sem revelar os reais custos (decerto elevadíssimos) destas operações.
Ao mesmo tempo que teimosamente persiste em manter os violentos cortes salariais e em colocar fora da empresa os trabalhadores abrangidos pelo despedimento colectivo (mesmo aqueles que foram mandados reintegrar pelo Tribunal da Relação de Lisboa), a TAP teve que ir, entretanto, recontratar praticamente todos os tripulantes de cabine a quem, sob o pretexto da pandemia, tinha feito cessar os respectivos e fraudulentos contratos a prazo. Também acabou de anunciar que vai contratar mais 70 tripulantes de cabine até ao final do Verão. Mas, claro, quem sempre denunciou que a empresa não estava com trabalhadores a mais, em especial tripulantes e técnicos de manutenção (de que a TAP despediu mais de uma centena!), mas sim a menos, não foi ouvido e foi até silenciado pelos “especialistas” e “comunicadores” do costume…
Ora, bem sabendo que tudo isto não chega, a Administração da TAP vem tentando “tapar os buracos” das operações de voo, seja através da prática de patentes ilegalidades (como as das alterações unilaterais aos acordos de emergência, a transformação “automática” de trabalho em voos, entretanto cancelados, em períodos de “assistência”, que legalmente teriam de estar previstos no planeamento de cada tripulante, ou agora – uma das tais “brilhantes” medidas mais recentes – o pagamento de “incentivos”, por exemplo de 10% do vencimento base para que tais tripulantes (que não cederam até aqui aos namoros e até às pressões e ameaças das chefias) passem a trabalhar nas suas folgas, em detrimento dos seus períodos de descanso e, logo, da segurança de voo que sempre foi apanágio da TAP!
A arrogância e desfaçatez da Administração da Companhia, com a Madame Christine à cabeça, não parece ter limites. Além de não reconhecer que o chamado “plano de reestruturação”, tal como foi concebido e executado, foi um completo erro, também sempre altivamente se recusou a ouvir quem advertia que era preciso preparar, a tempo e com os meios materiais e humanos indispensáveis para tal, a retoma da actividade no início do Verão, preferindo antes invocar sucessivos pretextos para o seu monumental falhanço.
Agora perdeu mesmo qualquer pudor, persistindo na mistificação e mesmo na mentira pura e dura, ao vir proclamar em comunicado, e à laia de “justificação”, que há outras companhias ainda mais afectadas que apresentam cancelamentos duas ou três vezes superiores aos da TAP, como quem diz aos sacrificados passageiros algo como “aguentem-se, que isto é global!”.
Porém, é a própria e insuspeita DECO, através da sua coordenadora da área jurídica e económica, Sónia Covita, que vem revelar que, em 2022, a TAP – com 430 queixas! – já era, e de longe, a companhia de aviação com mais reclamações apresentadas pelos consumidores (passageiros), prejudicados pelos adiamentos ou cancelamentos dos seus voos. E só nos primeiros 8 dias de presente mês de Julho foram registadas 59 queixas contra a Easy Jet e 47 contra a Ryanair, enquanto contra a TAP as queixas ascenderam a… 108!
Por outro lado, no Portal da Queixa, a TAP, lamentavelmente, é também, e de longe, a companhia aérea com mais reclamações no 1º semestre do ano (44%), a que se seguem, mas à distância, as low cost Ryanair (19 %) e a Easy Jet (10%). Porém, mais grave ainda do que isso, as taxas de resposta e resolução das reclamações por parte da TAP são baixíssimas (cerca de 13%), o que significa, como bem explicou Pedro Lourenço, analista do Portal, que grande parte dos cidadãos (87%) fica sem resposta e sem resolução. E assim, depois de também ter mandado para o desemprego inúmeros trabalhadores de terra, designadamente do Call Center (para aí os substituir por contratados de empresas de trabalho temporário…), o deplorável resultado são centenas de chamadas sem resposta e horas de desesperante espera aos balcões ditos de atendimento.
Claro que a Comunicação Social, em especial a das televisões, tudo faz por ignorar em absoluto quer a delituosa e cúmplice inacção da ANAC, quer todas as ilegalidades cometidas pela TAP e as falsidades proferidas pela sua CEO.
Mas não nos deveremos nunca esquecer que, como se costuma dizer, se é possível enganar muita gente durante muito tempo, não é, contudo, possível enganar toda a gente durante todo o tempo. E é nossa obrigação, enquanto cidadãos activos e conscientes, não permitirmos que o golpe e a ilegalidade, o artifício, a chantagem e a mentira possam afinal triunfar.
António Garcia Pereira
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