A banalidade do mal

Ver os velhos dos Marretas durante uma boa parte do meu crescimento adulto, tornou-me um espécimen perdido para o sarcasmo e para a linguagem que vira os olhos. 

Vejamos – identificados que são de extrema direita o grupo de “milícias” que atacou imigrantes no Porto, quereis dizer-me que não houve racismo nem ódio? 

Que os cinquenta deputados eleitos para a AR não é parte da normalização da banalização do mal? 

São 1.1 a votar e a compreender que é preciso cuspir na “Geni”. A Geni é o outro, o imigrante, o desconhecido, o de cor de pele escura. O tal que vai dominar o branco. Pá, a sério que se deixam ludibriar pela teoria? Se sim, então isto está mesmo pior! Vou virar os olhos!

Recordai que nada sobre a desumanização de um grupo acontece de repente. Vem de mansinho, passo a passo, pacientemente, o bicho prepara o golpe com astúcia, como um assassino bem treinado. Diminuindo aqui, inventando ali, atirando uma cortina de fumo lá, criando uma distracção acoli, inventando uma teoria “científica” de uns que vão dominar outros, fingindo-se zangado, até ganhar a simpatia e o fervor casado com a indignação do resto do rebanho crédulo. 

Incrédula fico ao ver tamanho golpe ser perpetrado sem que a Lei se imponha sobre a selva. Ou que predomine a lei da selva ao permitir-se a tolerância sobre tamanho predador. 

A luta de classes está ao rubro, porque se trata do desprotegido contra o mais desprotegido na escala de desprotegidos. 

O assassino contratado tem o figurino bem montado e sabe o seu papel de cor. Depois do que vi na marcha em nome da Liberdade, a 25 de Abril, o que me surpreende é ainda ter gente que não percebe no boneco onde está o atirador assassino, deixando-se levar, compactuando com milícias desta natureza, aceitando-as e acolhendo-as de ânimo leve e coração aberto – “ vinde a mim que vos compreendo, falais a mesma língua que eu”. 

Milícias estas que deviam estar excomungadas pela Constituição que temos e os seus militantes presos. Sabemos que estes se reproduzem como serpentes malignas, e se mantêm no activo porque são psicopatas, narcisistas e cobardes, tendo o ódio como essência a ele apelando. O mais básico, primário e selvagem dos instintos humanos.

Crimes são crimes e ataques raciais e de ódio são crimes. Estas são as práticas dos animais que as seguem. E se alguém (imigrante ou outro) ataca velhinhos indefesos ou qualquer outro cidadão, existe um código penal num Estado de Direito para os julgar. O código de Hamurábi foi ultrapassado. Os mários machados desta vida, os demais elementos do Ali-babá na Assembleia já estão com a careca descoberta. Até os Marretas entenderam e se riem de quão básicos e cobardes são.  

Não percebeis a agenda? Não a entender é o mesmo que perguntar se bacalhau à Gomes de Sá pode ser cozinhado sem ovos. Se não percebeis o que é simples, sofreis de um desarranjo intestinal no córtex cerebral? Tendes medo de ficar sem o vosso cagueiro? Ides morrer, sabeis? Preocupem-se mais com um mundo melhor, liberto destes assassinos treinados.

Como boa notícia, hoje o mm – aquele que nos meus conceitos de avaliação como cidadã – deve sofrer de uma forte perturbação mental de ruptura das sinapses, foi condenado a pena de prisão efectiva de cerca de três anos (como réu reincidente – lembremos o assassinato de Alcindo Monteiro) por incitar ao ódio e à violação de mulheres de esquerda. Obrigada ao Tribunal que cumpriu o seu dever. Espero de esperançar, que  mesmo recorrendo da sentença estes bichos sejam colocados no lugar onde pertencem. Numa jaula. Pergunto – é esta sub-espécie humana que queremos à solta por aí?

Resta-me continuar neste meu lugar de “snipper” pela Liberdade, pela radicalização da Democracia. Nada mais posso fazer que desmascarar os assassinos violentos que usam a banalização e a normalização do mal. Recordem-se – os coitados apoiantes deste sub-grupo da espécie – se os deixarmos, um dia virão buscar-vos também…e não terão sequer um cozinheiro sueco a disparar tiros para o um repolho em vossa defesa. 

Serão o repolho. 

Anabela Ferreira

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