À espera de Godot

Hoje há uma manifestação de artistas, produtores, encenadores, e técnicos ligados à vida das artes em frente ao TNDM às 18.00.

É a Ágora que deveria servir para sairmos todos em solidariedade. Em solidariedade com a Cultura? Sim. Infelizmente sim. Não seria necessário se já estivéssemos noutro patamar onde o respeito pela Cultura fizesse parte da nossa cultura.

A cultura é aquele recipiente onde colocamos todos os ingredientes para cozinhar o caldo que alimenta a consciência de um povo. É o antibiótico natural para combater bactérias e vírus, que por natureza se infiltram num corpo para o destruir. É a poção mágica de Panoramix.

Imagine-se a nossa aldeia ser assaltada por centuriões – armados em tiranos – e nós tomamos a poção “cultura”? Até os fazemos voar das sandálias! Porque estamos bem preparados, bem alimentados e bem protegidos pelo caldo mágico.

É isso que faz a cultura. Na sua ausência definhamos, ficamos com o sistema imunitário enfraquecido, deixamos que nos possuam sem luta, somos comidos com o molho que eles – os que nos querem aniquilar – escolherem, entramos em coma e morremos.

Traduzido, nascemos, somos formatados, consumimos, trabalhamos, pagamos e morremos. Cegos, surdos, mudos e incultos. Aplaudo de pé os que querem isto para a sua vida. Mas também agradeço que não me atrapalhem por eu querer mais e melhor.

Aos governos de “espertos” não interessa ter “aldeias gaulesas”. Percebo as razões. Mas não faço delas as minhas.

As artes educam, fazem pensar, tiram fora das linhas quadradas do pensamento aqueles que querem ver linhas de outras formas. As artes desenvolvem o pensamento de acreditar no poder criativo de cada um. É isto que algumas Escolas de Teatro Profissional fazem escolas estas que ficaram de fora dos apoios estatais. Entre tantas outras ligadas ao Ensino e à prática das artes. Queremos só um país de artistas? Preferia sim! Antes artistas de artes circenses, teatrais, musicais, da escrita, que artistas da vigarice.

Tenho lido por aí, protestos cruéis contra os artistas de teatro que vivem dos subsídios (menos de 1% de dinheiro do Orçamento do Estado é destinado à Cultura). Ou porque fazem peças que ninguém vai ver, ou porque os preços dos bilhetes são caros,ou porque o Estado (o dinheiro dos contribuintes) não deve dar palhaços para se fazerem palhaçadas….ou porque já acabaram de vez com a cultura e esta gente que é contra a cultura nunca a teve, logo, não lhe faz diferença. Enfim.

Ver pobres a defender ricos é o expoente máximo do estado da cultura desta aldeia. Foi o mesmo que ver pobres a defender a austeridade porque “não havia alternativa”.

E, ver o Estado a salvar o sector privado é o expoente ridículo dos ensinamentos do jogo “monopólio”. Claro, eu sou preguiçosa e vivi acima das possibilidades…

Claro, o Estado tem muito por onde gastar o dinheiro que o pobre e dependente lhe dá. Sim, porque quem pode fugir vai para o…Panamá.

Que pena não se insurgirem contra os muitos milhões (bem acima dos dois dígitos do Orçamento de Estado) injectados aos subsídio-dependentes da banca!

Esses sim, os verdadeiros artistas de um circo há muito falido.

Se forem por mim, antes dar dinheiro para me alimentar a alma e o conhecimento que ter dinheiro para pagar um cartão de crédito que alimenta o fingimento.

Se não fosse porque este site é um site decente diria uns palavrões. Assim mando só um recado aos artistas que estão contra os artistas das artes culturais: calai-vos e ide-vos foder! (tenho que ver se aprendo outra palavra, mas a minha cultura não dá para mais).

Hoje na Ágora, pela Cultura.

Anabela Ferreira

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