A luta social não é um acessório!

Sei que é uma moda semelhante ao anel que muda de cor como nos idos 90, consoante o humor do dono do anelar… Mas, tal como essa reles bijuteria, a sede de protagonismo ou (vou dar de barato) a ingenuidade de artistas e figuras públicas não pode desculpar o tempo de antena que se cede a instituições privadas, fazendo das mesmas a casa marmórea do bem Cuidar. 

Circula um vídeo que me recuso a postar em que algumas figuras públicas agradecem aos funcionários das instituições privadas, comparticipado pela CNIS… Estaria tudo muito bem porque se há quem mereça vénias pelo trabalho escravo que cumpre, são eles. 

Pena é que estes chavões em nada contribuam para o aumento de salários, para a formação condigna, para a redução de horários ilegais, para os abusos e sevícias que são do conhecimento público e de tantos sindicatos e dos próprios que assediam as alminhas que nisto alinham. 

Querem marcar a diferença? 

Juntem-se às lutas!

Há instituições particulares com trabalho incrivel e provas dadas de que, felizmente, nem todos são iguais nem na moral, nem na gestão! Mas já não houve denuncias, reportagens, mortes, internamentos hospitalares tornados publicos suficientes para se perceber que o que está errado não é a excepção mas sim a regra? Ainda vemos o governo a ceder à chantagem impia de que ou aumentam as comparticipações ou a coisa muda de figura?! Ainda vemos esta gente a ser premiada por organismos Europeus?!

Assistimos a uma lavagem de imagem que nos passa rasteiras e de que muitos só se aperceberão quando, por fatalidade, tiverem que lidar com a ignomínia que se recusaram olhar de frente. 

De facto, também me junto a esta vénia feita aos funcionários que fazem o trabalho que devia ser repartido por quatro; que não têm contratos de trabalho; que têm cláusulas de silencio nos seus contratos precários e que ficaram nos lares durante a pandemia quando os directores e provedores se puseram ao fresco e, ainda assim tiveram a distinta lata de exigir prioridade na vacinação porque, e cito: “são pessoas que cuidam de pessoas!”

Junto o meu agradecimento mas como particular e no anonimato quando lhes falo e lhes oiço os relato; quando luto pela mudança e pela sua dignidade e pela humanização dos Cuidados; quando exijo uma rede de Cuidados Pública na gerontologia, na deficiencia e na saúde mental!

Não agradeço a quem faz dos mais frageis o objecto de negócio, nem dos seus funcionários a conta de sumir nos cadernos de contas anuais!

Lutar contra o idadismo e, ao mesmo tempo defender o paternalismo economicista instalado há 500 anos nesta caridadezinhaé, no minimo uma indignidade!

Rita Maia

Ilustração: Zita Pinto

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