Era uma vez uma madrasta bruxa e um espelho mau. Eram portadoras de deficiências nas rodas que faziam andar o motor do cérebro que os movia e gostavam de brincar a um jogo: “diz-me espelho meu quem é mais belo que eu?”.
O espelho respondia sempre :”tu!”.
Gostavam de guerras. Variadas. Ora guerras manchadas a vermelho, ora com mortes silenciosas e incolores. Ora com trincheiras, ora com bombardeamentos e internamentos em campos. Ora com moedas.
O que queriam era ficar no castelo a admirar o seu imenso poder estender-se pelos territórios e não haver ninguém mais belo.
Como em todas as guerras, estes dispunham de aliados e de dois botões: o da boa vontade e o da maldade. O do desprezo e outra da solidariedade. O da humilhação outro do compromisso. Um para fazer subir do poço, outro para deixar cair num poço sem fundo.
O povo faminto, doente, sem forças, cheio de medo de morrer, observava o campo relvado e fresco que levava ao poder do castelo da bruxa má e do seu espelho. Eram as mal fadadas Cinderelas.
As Cinderelas morriam lentamente sem se conseguir levantar dos duros e indignos golpes recebidos.
Por detrás do nevoeiro apareceram uns príncipes encantados, cansados de ver os malvados martirizar a sua Cinderela. Lutaram e lutam por uma salvação honrada.
Com a ajuda de fadas madrinhas do seu reino transformaram uma nação abóbora em carruagem e deram-lhe asas para que esta fosse livre.
Deram uma lição à bruxa má e ao seu espelho, mas estes, raivosos e espumando porque apenas conheciam o botão da vingança, largaram os dragões no seu encalço.
Alguns aliados começaram a ver o encanto dos príncipes e a não querer a espuma raivosa salivada pela bruxa má. Já todas as Cinderelas dos reinos estavam juntas de mãos dadas, rodeando o campo, sabendo que apenas tinham um caminho alternativo: aliarem-se no combate à bruxa má, ao seu espelho e aos seus aliados.
À pergunta: espelho meu,espelho meu existe alguém mais belo que eu, uma voz vinda de fora do castelo se ouve clamando: ” Cinderela é mais bela que tu”. Todas as Cinderelas.Mesmo que no leito da morte.
Estas são as respostas que a madrasta e o seu espelho não querem ouvir.
Ninguém sabe o desfecho desta história. A madrasta e o seu espelho podem ser empurrados para uma falésia, ou um empurrar o outro.
Se empurrarem uma Cinderela da falésia, talvez seja o fim do seu poder.
Ou carregar no botão certo e terminar a maldade como por magia. (Mas isso só acontece nos contos de fadas e não é este o caso).
Entretanto abriu-se uma brecha e as Cinderelas calçaram o sapato perdido na dura batalha, levantam-se, beijaram o príncipe recebendo o encanto.
Começam a perceber que precisam expulsar os bruxos dos seus reinos, e, só se carregarem no botão da união: na dor, ou na alegria, na riqueza e na pobreza poderão viver mesmo que com dor, felizes para sempre. (Talvez este conto seja mesmo de fadas).
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