A Tragédia Grega

partenon1)
Ensinava Aristóteles que o conhecimento é o conhecimento das causas – a causa material (aquilo de que uma coisa é feita), a causa formal (aquilo que faz com que uma coisa seja o que é), a causa eficiente (a que transforma a matéria) e a causa final (o objectivo com que a coisa é feita).
2)
A Grécia vive, há décadas, de subsídios e ajuda externa. Como é que um país sem produção e centrado no consumo, quase todo importado, se deu ao luxo de receber os Jogos Olímpicos em 2004? E diz, ou melhor, BERRA, que nada pensa mudar.
A lista das encomendas do Ministério da Defesa grego? Cerca de 60 aviões de combate do tipo Eurofighter, que rondaram os 3,9 mil milhões de euros. Fragatas francesas por mais de quatro mil milhões. Navios patrulha por 400 milhões; E a modernização necessária da frota helénica existente custará outro tanto. A isto somam-se as munições para os tanques pesados Leopard. E também é “preciso” substituir dois helicópteros Apache de fabrico americano. E também é “preciso” comprar submarinos alemães, por um preço total de dois mil milhões de euros.
Um Estado à beira da falência, que só sobrevive à custa de milhares de milhões de euros da União Europeia, vai fazer esta enorme compra de armamento?
3)
Uma coisa, é certa. Não resta alternativa à Grécia que não a “solidariedade europeia”. A Grécia não tem portanto como pagar a sua dívida. Nem tem como sobreviver pelos próprios meios. Nem tem sequer qualquer arma que lhe permita negociar seja o que for.
A Grécia tem um clima temperado/mediterrânico, mas o terreno é montanhoso e escarpado. O tabaco é a principal cultura do país. A indústria quase se reduz à construção naval. A Grécia não tem recursos naturais e a falta de combustíveis e de energia eléctrica foi um grande obstáculo ao desenvolvimento do sector industrial. A pesca é limitada e as esponjas (!) são o principal produto marinho destinado à exportação. A agricultura desempenha por isso um papel fundamental na economia da Grécia, a par do turismo. A insularidade só vem agravar o problema e a comunicação entre ilhas é muito mais difícil do que em qualquer país. O turismo é afectado pelo nulo investimento, pela poluição e pelo facto de não ter recursos humanos especializados. A corrupção está instalada no aparelho de Estado. E absorveu as ajudas que ao longo dos anos foram prestadas. Só o governo, tinha 7500 carros ao dispôr. E três aviões. Todos os deputados tinham direito a um carro. O ordenado mínimo, antes da crise, era qualquer coisa como 50 por cento superior ao de Portugal e quase 20 por cento acima de Espanha. A primeira coisa que Syriza fez enquanto governo, ainda com o caos instalado, foi aumentar o salário mínimo e prometer que “será reintroduzido o salário mínimo de 751 euros, de forma gradual, até 2016”.
4)
Nelson Mandela, em ‘Walk to Freedom’, disse que «Os valores da solidariedade humana que outrora estimularam a nossa demanda de uma sociedade humana parecem ter sido substituídos, ou estar ameaçados, por um materialismo grosseiro e a procura de fins sociais de gratificação instantânea. Um dos desafios do nosso tempo, sem ser beato ou moralista, é reinstalar na consciência do nosso povo esse sentido de solidariedade humana, de estarmos no mundo uns para os outros, e por causa e por meio dos outros.».
Mas a Grécia é um Estado Soberano.
Que obrigação têm os outros países de os ajudar?
Uma obrigação que provém, tão só e apenas, da solidariedade entre povos, que não está instituída como lei em lado nenhum.
Mas será mesmo solidariedade, aquilo que os Gregos “pedem”?
De facto, para começar, a solidariedade não se exige.
Muito menos se exige solidariedade ofendendo aqueles a quem ela é pedida.
5)
E será exigível a um cidadão que continue a ajudar o vizinho que se recusa a mudar a sua vida de forma a sair da miséria? Que promete não pagar, nem fazer pela vida de forma a não viver da caridade alheia?
Pois… O custo humanitário muda tudo mas… Ser um homem ou um povo, altera uma questão que é de princípio?
Aí é que está o problema…
6)
Mas… Será que a Grécia não tem mesmo argumentos?
Pois, tem. Mas tem um primeiro-ministro de tal forma incompetente, quenão sabe que os tem… Nem como os usar.
97% dos milhares de milhões das tranches de resgate da UE voltam diretamente para a UE, através dos bancos, para amortizar a dívida e pagar novos juros. Um terço das 165 mil empresas comerciais a fecharem as portas, um terço sem conseguir pagar os salários. Nesta atmosfera de miséria, o consumo (a economia grega foi sempre muito centrada no consumo) diminuiu de maneira catastrófica. Os casais com dois salários (onde o rendimento familiar representava até então 4000 euros), de repente, têm apenas duas vezes 400 euros de subsídio de desemprego, que começa a ser pago com meses de atraso.
Era isto, que o Syriza devia dizer: a “estratégia” dos credores, ancorada na austeridade, destruiu a economia Grega. Provavelmente, de forma irremediável.
Não diz.
E importa perceber porquê…
7)
Na minha opinião – e aqui, sim, é uma questão de opinião – está na cara.
Por um lado, o governo Grego é de coligação, entre o Syriza e a extrema-direita mais xenófoba da Europa (sim… Exactamente…).
Por outro lado, é o próprio FMI quem se recusa a aceitar que as encomendas de material militar sejam anuladas! Afinal, há que assegurar o “retorno”.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *