Recebi uma carta do Pai Natal que dizia não poder vir este ano. Começava a carta, “foda-se, este ano não vou!”.
Por causa das alterações climáticas a Lapónia está em estado de emergência, debaixo d´água, as renas estão sem pistões, o trenó mete dó, sem a bateria que carregava a música da maria carey. Continuava dizendo que já não lhe sobra lapcoins para pagar gasolina, graças à austeridade, o emprego deixou de ser seguro, o subsídio da época não chega para comprar e distribuir sonhos e aumentaram-lhe a idade da reforma, quando nem agora aos 50 anos, consegue emprego. Só trabalha uma vez por ano, a recibos verdes, algumas rabanadas e às vezes um pão por deus, de um caridoso homeless, sobrando-lhe os outros 364 dias em dieta vegana, amiga do ambiente, mas não tão amiga assim do buraco no estômago. Pergunta-se diariamente “onde estão o dinheiro e os papéis do Panamá?” mas nem o espírito santo lhe responde ou quer saber. Já só deseja que não lhe venham dizer que tem de voltar à indigência da idade média e lhe comecem a cobrar mais taxas e taxinhas para se deslocar quando vai comprar uma motherfoca para lhe comer umas gorduras, por razões de sobrevivência. Está uma lástima, deprimido e em solidão.
Em resposta escrevi-lhe que por mim, não se incomodasse. Estás velho, com dores nas cruzes e cansado da luta e já nem queres aparecer, compreendo-te meu kota. Os putos que prendam os psicopatas que gozam connosco e despejem ddt onde eles circulam, desabafei.
Disse-lhe que já me conformei com o desaparecimento dele desde os 5 anos de idade, tal como já quase perdi a ilusão de ver os pilares do conforto e da sustentabilidade, usando os privilégios da tecnologia ao serviço da prosperidade humana. Por outro lado, com o caminho sólido que o capitalismo trilha, a nós que estamos a mais e continuamos a viver acima das nossas possibilidades, resta-nos vir a esperar um trabalho aos 68 anos, já com Alzheimer e assim como assim, não nos lembraremos da localização do posto de trabalho. Acabem-se com as despesas e os benefícios para todos de uma vez na Saúde e na Pobreza, separemo-nos já antes que a morte nos venha buscar. Isto se não formos antes engolidos pela sexta extinção. Ou pela estupidez humana. Uma das duas acabará com a raça.
Pedi-lhe uma caridade, se ele não tiver nada para se entreter, que agradeça por mim, os cartõezinhos virtuais de natal que recebo, com as putas das músicas da maria carey ou variantes. É que já não aguento ser enchida, como o perú, com a falta de gosto. Ainda tenho um surto e saio pelas ruas, toda nua, a gritar, o que não vai ser bonito, rebentando com o espírito natalício, que nunca tive, não tenho, nem virei a ter.
Não haverá sacerdotisas no Tibete que tenham paletes de chuva dourada suficiente para me curar.
Assinei, a sacerdotisa subalimentada dos cuscurões.
Bom coiso!
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