Que não teve uma palavra, um gesto, para o opositor derrotado depois de ter conduzido – bem ou mal, não vem agora, já, ao caso… – o partido no período mais negro da sua história. Costa acabrunhou-se durante 3 anos à espera de uma oportunidade. À espera que o povo, que acossou Sócrates, se esquecesse que era ele o nº2 daquele. Um povo que, agora, o aclama, como uma espécie de Dom Sebastião. Olvidando, senão ignorando, tudo o que está para trás… O mesmo povo que nos últimos 40 anos tem permitido tudo, e não quase tudo, tudo o que de mais negativo pode haver numa democracia. Não admira portanto que aclame como solução quem foi e é boa parte do problema.
Dizem que aquilo foi uma demonstração de força da democracia. Seguro foi esmagado. Lá força, Costa mostrou. Não mostrou propostas para o país, não mostrou querer unir o partido, mas ainda assim, foi aclamado. E foi uma aclamação, de facto. À boa maneira das cortes reais. Um acto próprio de uma poliarquia… Um vencedor em braços, um derrotado que sai, apupado, pela porta pequena….
Quem perdeu não foi António José Seguro. Esse, nada tinha a perder… Quem perdeu, foi Portugal. Portugal perdeu, mas não foi por perder Seguro. Porque, nas palavras do próprio, nenhuma diferença existia quanto às ideias, ou à falta delas. Portugal perdeu, sobretudo, a memória. E talvez, também, a dignidade. Afinal, trata-se do homem que disse, preto no branco, que o acesso aos documentos da Câmara Municipal de Lisboa, que ele tão bem geriu, e que expunham derrapagens financeiras e ajustes directos com base em “estado de necessidade”, «abre caminho a que todas as decisões políticas […] fiquem sujeitas ao escrutínio público […]». E eu que pensava que era mesmo isso que importava num país fustigado pela corrupção…
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