A história conta-se rapidamente.
No estabelecimento Prisional de Vale de Judeus serviram, ao almoço do dia 24 de Dezembro, para festejar o Natal dignamente, uma feijoada com carne de porco que tresandava.
Dado que, na Ala D os 120 reclusos não cabem no refeitório, há que os dividir servindo metade de cada vez.
Os primeiros a entrar sentaram-se, recusaram comer, chamando o chefe de serviço a quem pediram para analisar a comida e que este desse ordens no sentido de a substituírem atendendo a que estava, nitidamente, imprópria para consumo.
O chefe de serviço não anuiu.
Os reclusos abandonaram o refeitório sem levantar qualquer problema.
Entraram os restantes 51 que se sentaram.
De imediato o chefe mandou fechar o gradão que dava acesso ao refeitório e ordenou que os reclusos que tinham saído fossem encerrados nas suas celas.
O que aconteceu sem que houvesse qualquer manifestação destes.
Os 51 que tinham entrado recusaram, também, almoçar.
Garantem que o cheiro dos pratos era nauseabundo.
O chefe de serviço recolheu os números de todos eles, fê-los regressar às celas e participou de todos alegando que podiam ter provocado um motim!
Os reclusos seguiram para as celas sem qualquer manifestação de má-educação e, menos ainda, de violência ou ameaça.
Soube-se agora o resultado:
A Direcção da cadeia retirou, aos 51 reclusos, a possibilidade de continuarem a trabalhar.
Continuam a considerar o trabalho, nas cadeias, como uma benesse e não um dever.
Estas tomadas de posição, para além de absurdas, são bem demonstrativas da falta de preparação, a todos os níveis, desde logo educacionais e humanísticos, de quem manda nas prisões portuguesas.
Um nojo!
Claro que a APAR vai fazer chegar esta notícia a quem de direito.
(Vítor Manuel Ilharco é secretário geral da Associação Portuguesa de Apoio ao Recluso)
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