Antes da extinção, uma chávena de bondade em reflexão

Sabemos por um relatório da ONU, que mais de um milhão de espécies está em extinção. Manifestações em massa acontecem por todos os lugares a implorar, para que salvemos esta casa que nos oferece abrigo e oxigénio junto com as outras espécies. Só a entreajuda, a cooperação e o respeito mútuo serão força de lei.

Enquanto perdemos direitos – especialmente as mulheres numa regressão perigosa e, enquanto enfrentamos o renascimento das direitas fascistas – faço aqui um jogo-teatro.

Tem início antes do prólogo. O cenário confunde-se numa numa farsa buffa travestida de casa republicana, com roupagens de reis e rainhas. Um écran passa uma mensagem – os governos mentem e escondem, das mãos que lhes dão o alimento.

O Estado-as mãos que dão de comer –  torna-se frágil, deixa de proteger e fortalecer as suas mãos. A anemia entra na corrente sanguínea do corpo de um povo. Decorre a tragédia e a glicose atinge índices deploravelmente baixos. 

Em cena, os apáticos e os violentos tornam-se acríticos. Bem à vista de quem lhes observa as veias. Estas esvaem-se na cobarde aceitação do ciclo de trabalho-comer-dormir- fazer-se mal – mal fazer- e com a imbecilidade ser entretido. 

Numa cena pesadelo, indivíduos e colectivo falham a missão de se encontrar, penando num louco frenesim, numa prisão encarcerados. 

Numa vertigem de forças centrífugas o mal e a corrupção tornaram-se banal, praticado sem nele pensar pelas mãos de gente banal, remediado, rico, pobre, funcionário, reformado, sem abrigo, desempregado, gerente, instrumentalizado, ministro, banqueiro, capitalista, condecorado, militar, padre, deputado, político, advogado, juiz, ou réu condenado.

O Estado enfraquecido capitula nas mãos dos que o comeram não sobrando migalhas para as mãos que o alimentaram e, de mão-estendida o ofereceram numa bandeja de prata servido.

O bem alternativo está lá, escondido no meio da encenação. É um corpo radical, pensado, faz-se enraizado. Uma força da natureza prestes a ser libertado. Como salvação da enorme massa. Precisa ser imaginado e concretizado. 

Cai um pano sobre as nossas cabeças.

Antes do epílogo,

O humano imaginou, o humano concretizou. É este o elo principal do adn que carregamos.

O humano imaginou sistemas económicos e sociais violentos que obrigariam o humano a eles se adaptar e neles viver.

Foram os casos da escravatura, do apartheid, da inquisição, do capitalismo, das religiões fundamentalistas.

A competição serve de base tendo Darwin como seu cientista. A lei do mais forte, dos mais aptos e capazes, aproveitada pelos cientistas do capitalismo selvagem, que assaltou as presas desprevenidas e isoladas nos seus pastos.

Porém, o ser humano tem como concretizar sistemas económicos que se adaptem à sua vida em comunhão com as leis da natureza que o acolhe. Basta imaginar para logo de seguida concretizar. 

Estes sistemas são possíveis com base na cooperação, tal como os sistemas observados na natureza, por cientistas desde Kropotkin que como Darwin, descobriu uma lei comum à maioria das espécies observadas. Mas ao contrário. Interagem e apoiam-se mutuamente para o bem do grupo (formigas, abelhas, macacos, zebras, elefantes, búfalos e tantos mais…). 

Com eles aprendemos que vem da entreajuda e do espírito de colectivo a evolução da humanidade.

Contra a lei do mais forte devemos perguntar se algum indivíduo mais capaz e inteligente seria forte e prosperaria existindo a solo? Haveria alguma razão para existir?

Chegados a séculos de existência da Humanidade já sabemos que mesmo os mais fortes precisam dos demais para dar sentido ao que significa viver.

Vamos para a sexta extinção na terra, desta vez tendo palco central as acções do humano. O humano desaparecerá porque não se estudou, não se entendeu, não se procurou, nem se encontrou com a sua essência. Nem com os demais. Nem com as leis da natureza. 

Criou sistemas que o destruíram. Criou uma doença auto-imune.

Parabéns espécie, o relógio não pára. Até agora prevalece o mais forte, o mais apto à estupidez, o mais cretino, o mais imbecil, o mais apto à corrupção.

Com base no que sabemos, podemos deixar uma pegada de carbono mais ligeira. Evoluir para seres como outras espécies na natureza. Mais cuidadosos, mais cooperantes, mais bondosos, mais conscientes.

A vida não é austeridade, juros, dívidas, impostos, mais valias, lucros, viver acelerado, a competir, a consumir, em concorrência, no ciclo que te impingem.

Relembro, o teatro está prestes a fechar a emissão. Na terra, a vida – mesmo sem nós – seguirá dentro de momentos. 

Anabela Ferreira

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