As águas de agosto

Entre vales, fomos ao encontro da água que se ajuntava em açudes e pegos debaixo de frondosos carvalhos e amieiros. Descemos depois a serra, atravessámos a planície para nos banharmos no mar.

Em agosto, procuramos a água por instinto. Quando ela nos envolve sentimo-nos purificados, renovados. Talvez  o calor, que nos estimula esta comunhão, seja apenas uma desculpa sensata para explicar o vício de mergulhar. 

A biologia e o mito explicam que viemos da água e somos também água.  Ela representa o sagrado e o essencial para a vida. Os nossos poetas cantam-na: Pedro Homem de Mello escreveu  “Povo que lavas no rio” para Amália cantar depois; Ruy Belo definiu que “Portugal é o que o mar não quer”, ou seja, aquilo que o oceano nos deixa usar.

Agosto traz um mar que nos leva os escolhos e  lava as nódoas. E assim renascemos sem dar conta. 

Porque não  institucionalizamos o rito de mergulhar como os hindus realizam no Ganges?  Porque se o fizéssemos, assumiríamos uma paixão, uma sujeição. E nós acreditamos  cada vez mais na falácia que  controlamos quase tudo. Eu, por mim, não resisto à água fresca em agosto. 

Luís Palma Gomes

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