O que vou contar passou – se comigo hoje numa junta médica da Segurança Social, em Lisboa na Av. 5 de Outubro. À entrada uma fila enorme, onde chamavam os doentes de acordo com a hora marcada. Lá dentro não havia qualquer tipo de triagem, nem medição de temperatura ou obrigatoriedade de desinfeção das mãos com álcool gel.
Na minha vez, entrei na sala já cheia de gente e esperei meia hora além do meu horário de marcação para ser atendida, porque as médicas chegaram com meia hora de atraso. Chamaram a primeira senha já eu lá estava e eu era a quarta.
Entrei então para um gabinete com a porta toda aberta, duas médicas, um armário a dividir o espaço entre a secretária e a cadeira onde me sentei. Uma falava e a outra escrevia. Elas estavam protegidas. Uma disse – me que colocasse os papéis em cima do armário que nos separava para elas verem, que não precisava de dizer nada porque elas já sabiam tudo. Não queriam que eu falasse. Insisti e fui explicando o que achava importante, enquanto ela descartava documentos que não quis considerar: relatório de exames de otorrino ( consulta da fala) assinados pela médica e com o carimbo da Cuf não servia porque não tinha vinheta. O relatório da terapeuta da fala que está identificado com o número de cédula profissional e assinado não serviu porque a terapeuta não é médica, e, as provas respiratórias feitas em janeiro também não, porque devia ter outras feitas à data da baixa. Estas provas fazem – se uma vez por ano ou mais espaçadas e só servem para ver se o doente piorou porque estas doenças nos pulmões não regridem nunca, só podem progredir.
Ficou com o relatório do médico que me faz a neurotoxina, o da neurologista e o atestado do médico de família. Todos eles, referem as efeitos secundários deste medicamento, nomeadamente a insuficiência respiratória.
Por fim perguntou – me desde quando estava de baixa e respondi lhe que não estava de baixa, estava a trabalhar.
Tenho uma doença neurológica, uma distonia cervical e da face. É uma doença incurável que consiste no seguinte: o cérebro dá ordens erradas aos músculos que ficam em movimento permanente. Para para esses movimentos, no meu caso, da cabeça e da face a terapêutica usada e que será para toda a vida são injeções musculares de neurotoxina botulínica aplicadas no pescoço e na face trimestralmente e comprimidos tomados diariamente.
Também sou doente crónica pulmonar. Tenho DPOC e enfisema pulmonar. Todos os dias uso inaladores, comprimidos quando pioro e fisioterapia sempre. Tenho com frequência crises de insuficiência respiratória que se agravam quando faço neurotoxina porque a função desta é parar os músculos e por isso custa – me o dobro a respirar quando começa a fazer efeito o que demora entre três a dezassete dias após a aplicação.
Estive de baixa por causa da distonia até 12 de Março, quando uma comissão de verificação da segurança social achou por bem suspender – me a baixa que tinha até dia 26, embora fosse obvia a minha cabeça bastante torta e o meu cansaço respiratório. Fui trabalhar até trinta e um de Março e a um de Abril o médico de família deu – me baixa porque estava com insuficiência respiratória muito grande ou seja, a neurotoxina estava a fazer efeito e a minha insuficiência respiratória é diretamente proporcional ao pico da neurotoxina e dura entre um mês e meio a dois meses sempre. Em cada três meses vivo bem um. Melhoro da distonia e pioro da DPOC- Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica. Como essa baixa era por outra doença num período imediatamente a seguir à outra, depois de um mês e meio sem receber e de lhes enviar dezenas de emails a questionar o pagamento sem obter qualquer resposta, resolveram pedir – me a fundamentação dessa baixa. O médico de família prontamente me passou um atestado que lhes enviei. Responderam um mês depois a informar que a minha baixa não foi aceite por isso não ia receber.
Recorri enviando vários documentos e expliquei toda a situação. Como não tive resposta, recorri ao presidente do Instituto de Segurança Social e, finalmente fui chamada para uma junta médica uma vez que “por causa da covid19 não tinha sido avaliada pessoalmente.” Não foi Junta médica nenhuma -sei o que são juntas médicas onde já fui com a minha mãe várias vezes -foi só mais uma comissão de verificação como se eu estivesse de baixa.
Hoje, a médica que sabia tudo, perguntou – me desde quando é que estava de baixa. Respondi– lhe que estou a trabalhar, que só fui ali para que a minha baixa de Abril e Maio fosse validada. Perguntou-me ainda se era sócia gerente de alguma empresa. Não sabia que a função das médicas era saber este tipo de coisas.
O documento de avaliação comissão de verificação é um documento tipo e só tem duas hipóteses, apto e não apto. Claro que fui considerada apta porque estou a trabalhar e eles sabem que estou porque recebem lá os meus descontos todos os meses mas não sabem o que andam a fazer, por isso vou ensinar – lhes, vou levar isto até às últimas consequências. Não têm o direito de me roubar dois meses de descontos numa época destas da minha vida só porque são incompetentes.
Eu estava doente, não recebi, não fiz descontos e tenho dois meses de descontos em branco.
É esta a segurança social a quem pagamos todos os meses para nos proteger na doença. Já me alonguei bastante e tenho muita pena de não saber o nome da médica que me disse que se eu não faço neurotoxina pulmonar como posso sentir falta de ar. É que a neurotoxina só se faz nos músculos.
Não desista. Isso é o que eles querem.
Se é doente oncológico tem mais uma incapacidade que tem que ser registada. Vá com isso para a frente. Escreva à ministra, à Inspecção geral da saúde, ERC – entidade reguladora da saúde e ordem dos médicos e se não for suficiente vá à TV. Vou fazer tudo isto.
Li o seu relato do contacto com a “junta médica” com a tristeza inerente ao facto de já conhecer a incompetência com que somos esbofeteados nesses locais. Desejo-lhe que fique bem e que tenha a melhor sorte.
Fui também a uma junta médica na R. S. Ciro em 2019 para renovação da minha incapacidade de 86%. Apresentei-me com os exames referentes à coluna vertebral, pois quase não consigo andar, para além de outros problemas ortopédicos graves nos joelhos e num dos braços. Fui analisado antes por um especialista perito legal em ortopedia que me classificou com uma incapacidade superior a 89%. O médico que me recebeu, acompanhado de 2 médicas, não leu qualquer exame. Recebeu-me durante 1 minuto e 30 segundos, rigorosamente, desde que entrei a porta até sair. Estive sentado menos de 1 min. Registou uma incapacidade vitalícia de 70%, ou seja diminuiu o grau de incapacidade, sem qualquer referência a incapacidade motora!
Este ano tive um caso oncológico mas não vou outra falar novamente com semelhantes imbecis. Têm complexos de balcão esquerdóides e ridículos.
Portugal está entregue a gente sem escrúpulos que dá exemplos de corrupção activa a quem não tem carácter firme. Nada a fazer. Há que aguentar 2 ou 3 gerações, no mínimo, se é que alguma vez o país volta a ter pátria e nação, e princípios sãos e normais.
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