Nunca em mais de trinta anos de gestão Pinto da Costa um treinador abandonou o F.C.Porto tão tarde numa época desportiva. Em março, a nove jogos do fim. Em toda a sua já longa gestão, o presidente Portista apenas deixou cair cinco treinadores da equipa principal no decorrer de uma temporada.
Quinito, Ivic, Otávio Machado, Vitor Fernandez e agora Paulo Fonseca (Del Neri e Adriaans abandonaram durante a pré-época). Em nenhum dos casos, a mudança no comando técnico se refletiu na conquista do campeonato nacional.
Paulo Fonseca despediu-se do Dragão numa já adiada morte lenta que culmina no empate em Guimarães. Foi a gota de água que os adeptos portistas, nada habituados a este nível de prestações, utilizaram para exigir à direção a cabeça do técnico. A SAD Portista bem tentou demover o treinador persuadindo-o a continuar, mas este ter-se-à revelado intransigente. Sucumbiu à pressão.
Paulo Fonseca sai por culpa própria. Falhou em três vertentes decisivas: nos resultados; na tática e na liderança.
Começou por conquistar a Supertaça numa altura embrionária da época a que pouca gente atribui importância e passou os meses seguintes a ver a equipa ganhar de forma sofrida ou a perder pontos inusitados. A fraca prestação da equipa na Liga dos Campeões, passando pela derrota em Coimbra para a Liga, culmina na derrota com o Estoril, a primeira em cinco anos de jogos no Dragão para o campeonato. Pelo meio, a sempre amarga derrota na Luz, de tão fácil que foi para os anfitriões, até acabou por ser justa num palco onde ultimamente o F.C.Porto tinha sido sempre feliz.
Para além da frieza dos resultados, é na parte tática que terá residido a principal fraqueza de Paulo Fonseca. Se não se poderia exigir a um jovem treinador acabado de completar uma época vigorosa com o Paços de Ferreira o desempenho de Mourinho ou Vilas Boas, pedia-se sim, que fosse pelo menos tão bom quanto o seu antecessor, e não foi. Desde cedo se percebeu que Paulo Fonseca quis imprimir um cunho pessoal na forma de jogar do F.C.Porto, quis deixar a sua marca. Se a ideia pode parecer legítima, deverá ter desvalorizado o facto de que mexer com o ADN de uma estrutura com anos de provas dadas é algo de mais complicado. A forma como Fonseca inverteu o triângulo de meio campo deixando dois homens mais recuados atrás causava estranheza ao grupo e desconforto visível aos intérpretes. Numa primeira abordagem com Lucho sozinho nas costas de Jackson e depois sem grandes apoios nas alas onde tentou inclusivamente adaptar Josué reinventando a espaços a estrutura mas teimosamente respeitando a sua visão tática.
As coisas não funcionaram, a máquina emperrava, criavam-se buracos enormes a meio campo e o futebol desenvolvido tornou-se demasiado contido, lateralizado, previsível e sofrido, intranquilizando a equipa. As inacreditáveis e comprometedoras falhas defensivas que se sucederam recebiam do banco meia dúzia de palmas e dois gritos de apoio. Paulo Fonseca foi quase sempre o pai amigo resignado aos erros com confiança cega que tudo se resolveria no futuro… e no dia seguinte dava palestras antes do treino. Deixou a ideia de ser pouco disciplinador, muito amigo, foi perdendo o pulso. A sucessão de resultados negativos fez abanar a estrutura onde alguns jogadores incapazes de se manterem motivados e concentrados mais que trinta minutos por jogo começou a revelar-se. A equipa cede à sua própria ineficácia e com ela Fonseca perde o grupo e por arrasto os adeptos.
Se em muitos momentos faltou a pontinha de sorte que poderia ter sido determinante, Paulo Fonseca sai porque acaba por não cumprir os mínimos, com consciência de um trabalho feito com honestidade mas sem capacidade para um clube com o nível de exigência do F.C.Porto para o qual revelou não estar preparado.
(Paulo José)
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