Polémica: um miúdo _________ (entre as designações seguintes, escolha a que preferir: “de cor”, “negro”, “preto”, “de ascendência africana”) com oito, nove, dez anos aparece num cartaz de uma determinada marca com uma frase estampada na sua camisola verde:
“The coolest monkey in the jungle”
A loucura inundou as redes sociais (uma indignação galopante, histérica, desmedida!). Depois os canais de notícias (o jornalismo encontrava finalmente uma causa digna, séria e fundamental). Por fim, e como consequência, as lojas da H&M (roubadas e vandalizadas, muitas foram obrigadas a fechar).
Um miúdo “de côr”, num cartaz de uma marca conhecida, vestido com uma camisola a dizer “the coolest monkey in the jungle”. O racismo disto é inacreditável. A insensibilidade de quem usa uma criança “negra” relacionando-a – directa ou indirectamente – com um símio deveria ser motivo para julgamento sumário. A desfaçatez de colocar um “preto” a fazer estas figuras perante o mundo é tão abjecta que só nos faz questionar que tipo de evolução conquistou o mundo nos últimos 100 anos. Vilipendiar assim um ser de “ascendência africana” por motivos publicitários e propagandísticos revela-nos as reais motivações que estão na base destas grandes empresas de vestuário, sempre ávidas de discriminar certos nichos de mercado que só poluem a reputação de marcas tão elitistas como a H&M e outras suas semelhantes.
A pergunta que devemos fazer é: se uma criança _________ (entre as designações seguintes, escolha a que preferir: “sem cor”, “alva”, “branca”, de ascendência europeia”) com oito, nove, dez anos aparecer num cartaz de uma determinada marca com uma frase estampada numa camisola verde:
“The coolest monkey in the jungle”
isso é racismo?
Ou o racismo é uma voz que, como semente, cresce dentro de todos os que abdicam da verdade? Ou o racismo é aceitar um pensamento sobre o mundo que faz atalhos ao pensamento? Ou o racismo é deixar de ver a pessoa por aquilo que ela é para começar a ver o que é suposto que vejam nela? Ou o racismo é ver em tudo racismo?
Na extraordinária série da Netflix sobre o julgamento de O.J. Simpson, o que perpassa e indigna não é só a absolvição de um suposto homicida; é a forma como a defesa do réu se constrói não pela procura da verdade mas por uma estratégia (vencedora) de condicionar a opinião pública a uma luta racial. De repente, já não importa saber se Simpson matou duas pessoas; só interessa absolvê-lo porque é “preto” (ou “de cor” ou “negro” ou de “ascendência africana”). A justiça secundarizada ao tom de pele do acusado. O circo demagógico – racista – a vencer sobre a necessidade real de valorizar a integridade das vítimas.
Há um vídeo no youtube, um questionário sobre racismo. Entre as 20 pessoas que aparecem, quase todas no registo politicamente correcto, um homem diz:
“Sim, devo ser racista. Levei a vida toda com amigos, familiares, gente na televisão a dizer disparates, coisas inacreditavelmente maldosas, de um racismo evidente. O que eu faço é lutar todos os dias contra essas influências”. Talvez as pessoas que vandalizaram as lojas da H&M possam ver esse vídeo.
Ricardo Silveirinha
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