A autodeterminação dos povos…

Os recentes acontecimentos na Catalunha têm dado origem ao mais variado coro de protestos pelo simples facto de Portugal não ter reconhecido a declaração de independência da Catalunha.

Reclamam os reclamadores que Portugal não está a respeitar a sua Constituição porque, está lá escrito, preto no branco, “Portugal reconhece o direito dos povos à autodeterminação e independência…”.

Muito bem, o que é que lá está escrito? Dos Povos! Fantástico, o que quererá dizer esta coisa dos Povos? Quer dizer:  O conjunto de indivíduos que têm a mesma origem, a mesma língua, e partilham instituições, tradições, costumes e um passado cultural e histórico comum; ou o conjunto de indivíduos que ocupam um território determinado e formam uma unidade política, com leis próprias e sob a direção do mesmo poder; ou o conjunto da maioria dos indivíduos de um país, por oposição às classes dirigentes ou às classes mais favorecidas material e culturalmente.

Esta última definição é interessante “o conjunto da maioria dos indivíduos de um país, por oposição às classes dirigentes…” e, a não ser que a teoria brejeira de que o português é uma língua traiçoeira, significa que é necessário ouvir-se o povo, a sua maioria, respeitando a vontade dessa maioria.

Será assim tão difícil entender que a autodeterminação não pode ser imposta, a autodeterminação não pode ser decretada?

A politica é sem dúvida uma actividade orientada ideologicamente com vista a alcançar certos objectivos, mas, podemos concordar que, numa sociedade democrática, deve ser a vontade da maioria a prevalecer e não a vontade de alguns? Podemos concordar que o destino dum povo não pode, nem deve ser decidido por um qualquer cabeça de Playmobil, Puigdemont ou lá como se chama o homem. Pronto, para facilitar, chamemos-lhe cabeça de espanador (o estranho gosto de alguns políticos da actualidade por penteados estranhos devia ser objecto dum estudo).

Ora bem, o cabeça de espanador decidiu fazer uma espécie de referendo sem primeiro acautelar a legalidade e representatividade desse referendo, provavelmente porque não lhe interessava. Um referendo que, não estando acautelada a legalidade e representatividade apenas servia para extremar posições criando condições para confrontos sociais de todo indesejáveis, pelo menos indesejáveis por quem quer representar e proteger o seu povo, o seu território ou, indo mais além, o seu hipotético futuro país.

As patacoadas do cabeça de espanador são fantásticas, primeiro faz o referendo (chamemos-lhe assim) e com o resultado desse referendo faz uma declaração que não é carne nem peixe e que deixa toda a gente sem saber se estava a declarar a independência ou a pedir ovos para o pequeno almoço, ou seja, o cabeça de espanador limpa o pó superficial sem se comprometer muito com o resto da casa.

Mais tarde, faz-se homem e declara alto e bom som a independência da Catalunha do poder opressor do invasor espanhol. Foi no entanto sol de pouca duração, provavelmente alguns esteroides de efeito rápido porque, tão rápido quanto apareceu o efeito assim desapareceu e o cabeça de espanador, ainda o “novo país” não tinha 24 horas úteis de existência e já ele tinha dado “às de Vila Diogo” e pôs-se ao fresco para terras belgas aproveitando pelo caminho para contratar o mesmo advogado que representou parte dos terroristas da ETA.

A Catalunha e os Catalães merecem mais e melhor que um espanador!

Não ficamos por aqui, também Madrid, através do Sr. Raaa Raaarrr Rajoy,  não sei porquê mas ao pronunciar este nome fico sempre com a sensação que significa raiva, talvez pelos comportamentos raivosos que tem tido com toda esta situação.

Se o espanador tem estado muito mal neste processo o raivoso não tem estado melhor, a prepotência imperialista e colonizadora que tem demonstrado não beneficiam em nada os interesses e a razão, legítima ou não, de Madrid.

Espanha e os Espanhóis merecem muito melhor que um raivoso!

Não adianta tentarmos defender ideologias de extrema direita pró-Espanha ou de extrema esquerda pró-independência em relação à Catalunha, não adianta argumentar com o facto de que no século XVII também nós nos livrámos do domínio espanhol.

Tudo isso é treta, no dia em que deixarmos de olhar para a mão esquerda ou para a mão direita e olharmos apenas para a cabeça, pensando livremente e decidindo em consciência então sim, nesse dia conseguiremos ser verdadeiramente livres e autodeterminados.

A Catalunha merece muito melhor, Espanha merece muito melhor. Os povos merecem muito melhor!

Autodeterminação dos povos? Sim!

Determinação-auto dos povos? Não!

Jacinto Furtado

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *