Carta aberta a dois Carlinhos!

O Notícias Online publicou no passado dia 20 de Novembro a carta aberta que Carlos Paz endereçou a João César das Neves  com o título “Carta Aberta a um MENTECAPTO (João César das Neves)” e que pode ser consultada aqui.

Nos comentários à referida publicação apareceu uma carta aberta em resposta à publicada. Como no Notícias Online defendemos que o contraditório é importante para que os leitores possam retirar as suas conclusões e como defendemos que o contraditório deve ter o mesmo destaque que a publicação original publicamos a “Carta aberta a dois Carlinhos” escrita por José Carmo da Rosa.

Ao Carlos Paz (ex CEO da Groundforce), que acerca de uma entrevista dada pelo economista João César das Neves à TSF o manda à merda numa ‘carta-aberta a um mentecapto’ que foi publicada no Notícias Online. E ao Carlos A. Augusto, que aproveitou a boleia para postar aqui a tal carta-aberta do outro Carlos sem um link para a entrevista, mas com um NEM MAIS como aprovação e título.

Carlos Paz diz na sua carta “ouvi-te brevemente nos noticiários da TSF no fim-de-semana e não acreditei no que estava a ouvir. (…) disseste coisas absolutamente INCRÍVEIS, como por exemplo: “A MAIOR PARTE dos Pensionistas estão a fingir que são Pobres!”

Carlos Paz diz que ouviu brevemente!

Talvez resida aqui o problema, porque quando se faz acusações graves deve-se ter o cuidado de ouvir atentamente e ser preciso nas citações. Mas claro, precisão nunca foi o forte da nossa elite, que se deixa facilmente levar por emoções e pressentimentos, e depois, o que fica do que poderia ser uma interessante discussão é apenas isto: peixaria, berraria e insultos…

O que eu ouvi com a devida atenção do economista João César das Neves, foi que “Há uma data de gente a falar dos pobres que não são pobres e que em nome dos pobres querem defender o seu e a fingir que são pobres.”

Ora, Carlos Paz, que não parece viver no Casal Ventoso, nem deve ser pensionista e muito menos um pensionista que alguma vez teve fome, parece corresponder ao público-alvo a que o economista se refere: dos que ficam surdos de tanto fingir de pobre… Mas é verdade que o João César das Neves  na tal entrevista disse que:

“…. A maior parte dos pensionistas não são pobres”

O que, segundo estatísticas da Pordata sobre a Caixa-Geral de Aposentações, também é verdade…

Para ser franco, isto surpreendeu-me!

Sempre pensei que os meus pais fizessem parte da grande maioria, mas não, só 20% dos pensionistas recebem uma pensão abaixo do salário-mínimo; 54% situam-se num escalão que vai de 500 a 2000 euros; outros 25% no escalão entre 2000 e 4000 euros; e só 1% recebe mais de 4000 euros. Neste escalão encontram-se certamente os advogados reformados das PPPês, políticos e os presidentes do conselho de administração de grandes empresas.

Carlos Paz:  “João, disseste mais coisas absolutamente INCRÍVEIS, como por exemplo: ‘Subir o salário mínimo é ESTRAGAR a vida aos Pobres!’ Estarás tu bom da cabeça, João?” [as capitais são da autoria de Carlos Paz – CdR]

Carlos Paz volta a ouvir mal

Neste caso o economista até disse pior, não falou em ESTRAGAR mas em DESTRUIR a vida dos pobres. Ora, em toda a Europa esta temática está a ser actualmente discutida entre políticos, sindicalistas e economistas nas calmas e, tal como o nosso João César das Neves, usando apenas ARGUMENTOS. Uns acham que aumentar o salário mínimo faz perder postos de trabalho: os patrões empreguam menos gente e há o problema da concorrência. Basicamente são estes os argumentos. Outros acham que a um aumento de salário se segue automaticamente um aumento do consumo, o que é bom para a economia.

Eu, que não percebo patavina de economia, para poder formar uma opinião como cidadão, gostaria de ouvir calmamente as duas versões com argumentos que toda a gente perceba – de preferência sem demagogia, berraria e insultos em cartas-abertas. Resumindo, de gente boa da cabeça…

Voltando ao tema da pobreza

Toda a gente percebe que viver em Portugal com um salário-mínimo oficial de 565,83 euros é bastante difícil, mas um economista percebe um pouco mais (ou devia). Percebe que existem na Europa onze países com um salário-mínimo mais baixo que o nosso – e todos eles são potencialmente nossos concorrentes.

Picante detalhe. A Grécia tem o salário-mínimo fixado em 683,76 euros e tem também – talvez por isso, digo eu a medo! – uma situação económica bem pior que a nossa. Mas os 117,93 euros, que representam a diferença entre Portugal e a Grécia, é grosso modo o salário-mínimo na China…

A partir de aqui acho que não é preciso ser economista para perceber que:

–   ou estala a curto prazo uma revolução salarial na China que vai multiplicar o salário-mínimo chinês por dez;

–   ou vamos trabalhar mais do que eles;

–   ou vamos ter que arranjar maneira de fabricar coisas que eles (ainda) não conseguem fazer;

–  ou fechamos as fronteiras hermeticamente.

De outra forma não vejo maneira de como manter o mesmo nível de vida na Europa, com inevitáveis repercussões sobre o salário-mínimo.

E não vai adiantar muito escrever cartas-abertas, insultar, fazer greve, rezar, cantar a Grândola, respeitar a constituição ou as directrizes do Tribunal de Contas. Os chinocas são 25% da população mundial.

Mas há pior. Os próprios chineses já começaram a sentir na pele a concorrência de países com um salário-mínimo ainda mais mínimo, como o Vietname, Cambodja, Índia, Bangladesh, e este ano foi registada na China a menor taxa de crescimento dos últimos 13 anos: 7,8%. E segundo eles 8% é o mínimo necessário para manter a taxa de desemprego sob controle. Mas se os chineses empobrecem, então é que estamos lixados: não vão ter poder de compra para importar o nosso Vinho do Porto e as lojas de chineses no nosso país vão triplicar. “

A publicação original por ser vista aqui

8 comentários a “Carta aberta a dois Carlinhos!”

    • O que é que este link tem a ver com o assunto?

      Só o facto de alguém colocar numa caixa de comentários apenas um LINK sem qualquer explicação, é uma total falta de educação! É como entrar em casa estranha sem cumprimentar quem está e, sem autorização, ir ao frigorífico, pegar numa cerveja e bebê-la pela garrafa sentado no sofá com as patas encima da mesa!!!

  1. Albino Bras diz:

    Mais um disparate, o SMN oficial, porque não há outro, é de 485 Euros e não de 565,83 Euros. Conseguiu no seu texto aumentar o SMN em 80,83 Euros. Espantoso. Mais 16,6%.
    Como é que se manipulam os números para defender uma tese que já de si é manipuladora, a de que os salários em Portugal são elevados? O Sr. José Carmo da Rosa não só não é economista como não lê os jornais, não ouve os notíciários, mas se preocupa na precisão do que diz o César das Neves. As palavras do referido professor universitário, católico e defensor do actual estado de coisas, que nunca ganhou o SMN ou o IAS (419.22 Euros), fariam corar de vergonha o Papa Francisco, e, o Sr. também devia ter vervonha. Antes de escrever, nem que seja à sua vizinha, informe-se, estude e pense duas vezes, se faz favor.

    • Sr. Albino Bras,
      Na caixa de comentários do meu blogue um alfacinha disse a mesma coisa: que o salário-mínimo é 485 euros. E eu dei-lhe os dados da Pordata: 565,80, que aliás correspondem aos dados da UE, onde inicialmente me guiei (vá lá ver). Você também é alfacinha?
      E eu a seguir sobre o salário-mínimo acrescentei que (creio que isto responde às suas preocupações religiosas sobre o corar de vergonha do Papa) :
      É evidente que não é uma fartura, nem o dobro seria uma fartura, e em muitos casos é mesmo trágico. Mas um economista tem o direito, eu diria o dever, sem ser insultado, de colocar a questão: será que a economia (leia-se as empresas) portuguesa pode pagar muito mais?

      Mas na situação em que o país se encontra, moralmente, os nossos governantes não podem cortar nas pensões e nos salários da maioria e ao mesmo tempo aumentar (ou não tocar!) as suas benesses, ou desperdiçar dinheiro do Estado (que é dos contribuintes) em obras de prestígio sem mais-valia económica – só para encher o cu de empreiteiros e advogados amigalhaços, por exemplo….

      P.S. Não sou economista (salvo seja sem cabeça, cruzes cruzes canhoto). Não leio jornais (para evitar de sujar as mãos). Nunca estudei (mesmo quando andava na escola). Mas não me preocupei com a precisão do César das Neves. Você lê tão mal como o Carlos Paz ouve, caneco! Isto já começa a ser um problema nacional… Eu falei na falta de precisão do Carlos Paz, senhor!…

  2. António Gomes diz:

    Não conheço o Sr. Carlos Paz de parte nenhuma, tal como não conheço este Sr. Carmo da Rosa. mas depois de ler as duas cartas e parafraseando o Sr. Carlos Paz: “vai à merda Carmo da Rosa”

    • Pelos vistos. Começo mal a frase. Na realidade sei isso muito bem, mas infelizmente os Carlos Paz(es) da nossa praça continuam a fazer escola. Ou seja, mais um excelente argumento!
      E quer esta malta, com um quadro mental de terceiro-mundo, ganhar mais salário mínimo! Nunca pensei que iria ter pena de patrões…

  3. Finalmente um blogue com tomates.

    Agradeço à redacção do Notícias Online a coragem intelectual de ter publicado a minha carta-aberta. Um comportamento em vias de extinção e que tanta falta faz à construcção da nossa democracia. Já sabem, quando quiserem assim mais umas coisas que saem ligeiramente dos trilhos politicamente correctos, é só pedir por Bocas do Norte.

    • José Não Interessa diz:

      Bem haja pelo seu bom senso e seriedade…, porque de carneiradas da direita e da esquerda está este país cheio.

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