Carta Aberta a Maria Luís Albuquerque

maria luis albuquerqueEx ma. Senhora Ministra das Finanças

Eu, Paula Margarida Cunha Tavares, cidadã portuguesa da Região Autónoma dos Açores, venho por este meio mostrar a minha indignação face às suas declarações proferidas ao jornal Financial Times, quando refere que os elevados níveis da emigração, registados nos últimos dois anos, vão trazer e já estão a trazer aspetos positivos à economia portuguesa, justificando estes tais benefícios com o regresso de profissionais com “conhecimento e experiência”.

Sabe Vossa Excelência muito melhor do que eu que a emigração portuguesa é a saída mais fácil para o governo do qual faz parte, uma vez que os dados revelados pelo Instituto Nacional de Estatística mostram que dois terços da diminuição do desemprego verificada no quarto trimestre de 2013 ficaram a dever-se à emigração.

O que Vossa Excelência parece ter esquecido é que são as medidas de austeridade e a falta de incentivo ao desenvolvimento económico português que estão a forçar os nossos jovens a abandonar Portugal.

O que Vossa Excelência parece ter esquecido é que muitos dos que agora emigram são pessoas altamente qualificadas e que poderiam contribuir para o enriquecimento desta nação.

Vossa Excelência esquece-se que muitos dos que partem vão enfrentar realidades cada vez mais competitivas e, caso consigam afirmar o seu sucesso, não me parece que desejem voltar para um país que os abandonou, retirou as suas esperanças e os seus sonhos.
No momento em que Vossa Excelência se vangloria pelos benefícios da emigração dos nossos jovens, milhares e milhares de pais e mães estão a efectuar um esforço brutal para formar os seus filhos e para possibilitar-lhes as habilitações necessárias à entrada no mercado de trabalho.

No entanto, enquanto Vossa Excelência satisfaz-se com os benefícios da emigração, estes mesmos pais e mães ganham a consciência que, neste país, o esforço feito em prol das gerações mais novas é uma batalha contra a própria visão e estratégia do governo. Que fez baixar, como nunca antes, as expectativas dos jovens; que está a incitar uma campanha de cortes que chacinam o ensino público; que está a sufocar a população com cortes cegos e que está a estrangular a economia portuguesa, onde os postos de trabalhos vão-se extinguindo e onde as hipóteses de empregabilidade são cada vez menores.

Enquanto cidadã e enquanto mãe com toda a sinceridade lhe digo que as suas palavras são uma afronta ao esforço feito pela educação da minha filha.

Enquanto cidadã e enquanto mãe, envergonho-me por ter governantes neste país que parecem querer ser chefes de uma nação vazia.

Enquanto cidadã e enquanto mãe, peço-lhe que reflicta sobre o peso das suas palavras. Pois enquanto as profere existem milhares e milhares de jovens que desejavam construir Portugal e são forçados a deixar as suas terras e as suas famílias, e existem milhares e milhares de pais cada vez mais angustiados, temendo pelo futuro incerto dos seus filhos.

Enquanto açoriana desejo sinceramente que nesta minha região em que temos autonomia se contrariem palavras e discursos como os seus: espelhos de uma má governação e de uma falta de visão face àquilo que se deseja ser o futuro dos cidadãos portugueses, um futuro de bem-estar dentro do seu país.

Despeço-me com a certeza que por mais cortes que me imponham, que por mais que me forcem a pagar a má gestão, a corrupção e os lobbies que permitiram (e pelos erros que não cometi e com os quais não sou conivente) e por mais árdua que seja a batalha, não lhe irei fazer a benesse de emigrar, não contribuindo para a sua satisfação. Irei sim lutar por um estado menos assistencialista, mais intervencionista, com um sistema de justiça que não seja moldado à medida dos grandes corruptos que afundam este país e irei lutar por um estado social português onde todos possamos através do esforço, da educação e do trabalho contribuir para uma sociedade com mais igualdade, mais coesão e onde cada cidadão possa ter a ousadia de sonhar com um futuro melhor.

Ponta Delgada, 14 de Abril de 2014.
Paula Margarida Tavares.

Nota da redacção: Texto originalmente publicado aqui

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