VAMOS CONTEXTUALIZAR SALAZAR

Os brasileiros têm a Adriana Calcanhotto que quer «comer Caetano»; nós cá temos uma horda de delinquentes engravatados que querem «contextualizar Salazar». A desculpa para um Museu sobre a vida e patifaria da Velha (cognome de grande mérito e invenção de Mário-Henrique Leiria) é a de ser necessária a devida contextualização do momento, do tempo,…

A ORIGEM DO FUTEBOL

O começo desta história de que fatalmente todos somos cúmplices fez-se aos pontapés a cabeças pelas ruas sinuosas de Londres. Uma turba de bêbados com turbantes, bandos de malfeitores, carteiristas, putas, até advogados e ministros pontapearam os primeiros esféricos cadavéricos que encontraram junto às sarjetas e deram-lhes uso da mais primária forma que podiam: ajeitaram…

Gin-Henrique Leiria

Comecei a beber gin ao mesmo tempo que comecei a ler Mário-Henrique Leiria. Minto: os livros vieram primeiro, o gin depois. Completavam-se. O meu Pai, que me mostrou o gin e o Mário-Henrique Leiria, lia o gin e bebia os livros. Eu segui-lhe as bebedeileituras. Andávamos ali pelos anos 90 e as pessoas geralmente não…

FECHADOS PARA SEMPRE

A Morgadinha da Estefânia fechou. As grades cruzaram-se em losangos e fecharam o estabelecimento para nunca mais. Nos vidros duas folhas nas duas montras dizem o mesmo “FECHADOS PARA SEMPRE Quero agradecer a todos que nos visitaram nos últimos 40 anos pela simpatia, amizade e companheirismo… Muito obrigado, a Gerência.” As palavras desta triste mensagem…

AUTO-RACISMO

Polémica: um miúdo _________ (entre as designações seguintes, escolha a que preferir: “de cor”, “negro”, “preto”, “de ascendência africana”) com oito, nove, dez anos aparece num cartaz de uma determinada marca com uma frase estampada na sua camisola verde: “The coolest monkey in the jungle” A loucura inundou as redes sociais (uma indignação galopante, histérica,…

O NOSSO RIO

                    Há tanto tempo reduzido a duas margens asfixiado pela corrente e raízes com braços de terra o nosso rio transbordou. De todos os mares naufragado com a sede de todas as fontes o nosso rio galgou os dois lados da vida molhou, pingou os pássaros,…

Lugares remotos

Algures, num lugar tão remoto ou tão íntimo, há uma fotografia de mim ou de parte de mim a olhar a vida de uma família, a sua intimidade. Uma sala em Copenhaga mantém parte do meu corpo (a minha meia-cara, um perfil, e o tronco) numa fotografia em cima da lareira (a família dinamarquesa passeava…

O que fica nos livros

Uma mancha de sangue na página 68, a meio do texto sobre a palavra “vulnerável”, esbatida. Com o tempo, o vermelho foi desaparecendo até se imortalizar numa espécie de bordéus ressequido. Uma pincelada, apenas. Um borrão. Alguém que sangrou do nariz e terá passado um dedo desatento pela leitura? Um espinho de rosa que picou…