“A rejeição do Programa do Governo, por maioria absoluta dos Deputados em efetividade de funções, implica a sua demissão.”
Cavaco Silva está ciente desta sua afirmação, está também ciente das opções que se lhe colocam bem como das consequências nefastas da decisão que quer tomar. O seu fanatismo ideológico levou-o a afirmar “Este é o pior momento para alterar radicalmente os fundamentos do nosso regime democrático”.
Na opinião do ainda Presidente da República a democracia tem uma agenda, a sua agenda. Deixou bem claro que prefere a instabilidade política e governativa a uma solução que passe por dar posse a um governo que não seja seguidor da sua linha ideológica. Primeiro a ideologia, depois a sua vontade e em último lugar Portugal.
“Se o Governo formado pela coligação vencedora pode não assegurar inteiramente a estabilidade política de que o País precisa, considero serem muito mais graves as consequências financeiras, económicas e sociais de uma alternativa claramente inconsistente sugerida por outras forças políticas.”
À primeira vista parece que Cavaco Silva está a caminhar para um beco sem saída. O seu governo tem chumbo anunciado, Pedro Passos Coelho já veio dizer que não aceita fazer parte dum governo de gestão, tudo apontaria para uma situação que deixaria Cavaco sem alternativas. Caso o programa de governo seja chumbado e caso Passos Coelho cumpra a sua promessa (uma vez na vida pode acontecer) de não fazer parte dum governo de gestão, a teimosia do Presidente podia ter graves consequências a nível social e até mesmo ao nível dos famosos mercados que ele tanto defende.
É conhecida a teimosia de Cavaco Silva, sabe-se que ele jamais irá ceder nesta questão. Levanta-se uma questão, como é que Cavaco se colocou num beco sem saída e como vai sair dele?
A resposta é simples, Cavaco Silva vai dar a última golpada, o seu golpe palaciano. Sem outras alternativas ao seu alcance, mas convicto de que vai levar a sua decisão até ao fim, dará esta sexta-feira posse ao governo de Passos Coelho. Em momento oportuno, entre a posse do governo e antes da sua queda, Cavaco Silva vai renunciar ao cargo de Presidente alegando motivos de saúde.
A renúncia do Presidente abre um enorme vazio, será substituído pelo Presidente da Assembleia da República que não terá poderes para nada. Pedro Passos Coelho vai poder dizer que não queria ficar num governo de gestão mas perante a gravidade do momento terá de o fazer, entretanto já inundou as secretarias de estado com todo o aparelho do PSD para melhor “gerir” a coisa.
O processo para a convocação de eleições fará com que estas, mais dia menos dia, vão coincidir com a data já prevista entre final de Janeiro e principio de Fevereiro. O novo Presidente toma posse com os já conhecidos poderes reduzidos e tudo corre conforme o desejo antidemocrático de Cavaco Silva.
Quer queiram quer não queiram, pelo menos até ao verão o governo é o que ele quer.
Felizmente, ao fim de 35 anos, esta será a sua última golpada!
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