Tornou-se um desígnio nacional reagir em vez de agir, remediar em vez de prevenir. Acresce a versão mais grave, quando interessa não se age nem se reage, não se previne nem se remedeia.
Exemplos não faltam, na Alemanha houve corruptores condenados por terem corrompido o negócio da compra dos submarinos, em Portugal não se agiu nem reagiu, não se preveniu nem se remediou, arquivou-se.
Em Bruxelas concluiu-se que tinha havido fraude na Tecnoforma, em Portugal não se agiu nem reagiu, não se preveniu nem se remediou, arquivou-se.
Não deixa de ser interessante o silêncio da comunicação social em relação a isto, é um silêncio semelhante ao que se abateu sobre os Panamá Papers. Não há jornalismo de investigação, não há aquela manipulação a que alguns jornalistas já nos habituaram de tentar envolver em certos assuntos quem nada tem que ver com eles.
Voltando ao reagir em vez de prevenir. No final da passada semana um segurança dum espaço de diversão nocturna foi assassinado a tiro à hora de almoço por um estropício de 17 anos que, alegadamente o segurança tinha proibido de entrar no espaço, o estropício vai ao carro, espera que o segurança saia de serviço e dá-lhe um tiro, coisa ao estilo de qualquer país da américa latina.
Segundo parece, aquele espaço estava a funcionar aquela hora num conceito a que chamam after hours, segundo parece também a PSP já por diversas vezes tinha solicitado à Câmara Municipal de Lisboa (CML) que tomasse medidas em relação aquele espaço e em relação ao tal after hours.
O que é que fez a CML? Nada! Esperou que acontecesse algo grave e depois disso, em vez de agir, reagiu! O mesmo aconteceu em relação ao Urban Beach os inúmeros relatos, as infindáveis queixas de nada serviram, foi necessário um vídeo tornar-se viral nas redes sociais para que o Ministério da Administração Interna, mesmo sem apurar factos, mandar encerrar a discoteca.
Esta forma de actuar, de empurrão, é desastrosa e potenciadora de mais e mais trapalhadas!
Há um profundo sentimento de impunidade, a excepção passou a ser a regra. Era suposto que se prevenisse as situações perturbadoras da ordem pública ou lesivas da coisa pública (ou privada) mas não, o que passou a ser suposto é que tudo se pode fazer, em roda livre, de vez em quando alguém com azar é apanhado.
Neste preciso momento recebi a notificação de que a PJ prendeu e desmantelou a rede que andava a rebentar multibancos. Fantástico! Nada melhor para ilustrar em definitivo o que acabei de expor, reagir em vez de agir.
Foi preciso rebentarem com um multibanco no prédio onde mora o ministro da administração interna para, em menos duma semana, a coisa estar arrumada. É triste, porque, quando foi divulgada a notícia de que tinha havido uma explosão no ATM do prédio do ministro os comentários que logo se ouviram foram “Agora nem uma semana dou antes que os apanhem. Agora a investigação é rápida!”
Triste sina esta dum povo que está dependente de reações e remédios!
Jacinto Furtado
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