Finalmente, as distinções merecidas vão para mulheres, pretas, com poder, cultas, inteligentes, competentes, perspicazes, detentas do espírito sagaz para enfrentar qualquer luta, vindo da sua ancestralidade.
“Conceição Queiroz é jornalista desde 1994. Repórter da TVI/CNN Portugal, aproveitou para recorrer às redes sociais para assinalar a distinção nos “Awards Charme e Prestígio: Migrantes e Afrodescendentes 2023“, dizendo:
“Eishhhhhh! Tudo isso?:) Só posso agradecer!! Dedico este prémio a todas as vítimas de qualquer forma de preconceito!! Seguimos🙏🏽❤️”
E eu, relembro as palavras sábias da Paulina Chiziane “Deus fê-la à sua imagem e semelhança, logo Deus é mulher e é preta”.
E sabem porque relembro estas palavras?
Porque na publicação sobre o prémio choveram comentários racistas.
Sim, sabem aqueles odiosos, de ódio contra uma mulher preta?
Se não sabem do que falo, ide ler e vomitar as entranhas.
Eu já estou habituada, levo 60 anos nesta luta, a Conceição leva meio-século, como diz no título do seu recente livro.
Daí ter tirado uma parte significativa da minha vida para combater o racismo.
Por todas estas razões, o livro que escreveu – Racismo, meio século de força – deve ser lido por todos e muito muito falado.
A mim, a Conceição abriu a porta (como a tantas outras vítimas diárias de racismo e preconceitos, para no livro contar umas histórias).
Na era que atravessamos, de likes, partilhas e visualizações, o racismo e os preconceitos rendem. São aliás um grande negócio como quando tudo começou há 600 anos.
Até os políticos perceberam que podiam retirar enormes dividendos. Ou apresentadores, ou Instituições da Justiça.
Já perceberam como se generalizou e aprofundou, agora que qualquer pessoa vomita bílis por conta das frustrações impostas pela vida de merda que tem, causadas pelo neo-liberalismo selvagem?
A culpa de tudo é dos pretos e dos (i)migrantes em fuga, em busca de refúgio e salvação da vida, de sobrevivência, pelas mesmas e/ou muito piores razões.
Percebem a caricatura de nós mesmos?
Foi por se comprometer como jornalista em mostrar esta face da realidade que ganhou mais este prémio.
Claro que este trabalho tem um só objectivo – educar para que desapareçam seiscentos anos de racismo. E não é pouco.
Se desaparecem? Se é criminalizado? Quem sabe? O que nasceu da mão do Homem, pode ser destruído por ela.
Os prémios, os livros, as histórias são um grão de areia, criam movimento, levantam ondas de conhecimento, fazem navegar mares nunca antes navegados, porque desmontam e desconstroem o racismo.
O que me dá um secreto prazer é saber que uma mulher, preta, de carapinha, linda, competente, jornalista feroz, ser humano precioso, está a somar conquistas, que são sonhados por gente branca, que tem uma dor de cotovelo imensa de ver esta mulher ascender profissionalmente e destacar-se.
Eish! isso é o que pensam tantas…
Sabem como é que eu sei? Porque a Conceição passa por isso diariamente e eu também sei na pele.
E só o sabe quem tem a nossa cor de pele escura, o nosso cabelo encaracolado, a nossa boca cheia, a nossa pele seda, a nossa capacidade, inteligência e sagacidade.
Só razões de fazer inveja.
Que o digam as actrizes, as escritoras, as jornalistas, as deputadas, as médicas, as professoras, as funcionárias públicas (e um largo etc.).
Aqui que ninguém nos ouve, a inveja deu a mão ao racismo tornando-se um dos piores males entre irmãos.
Só tenho um objectivo, deitar abaixo esta casa parida com a banalidade do mal, usando pessoas estúpidas, incapazes de fazerem uso da cognição para perceberem o quanto o racismo é antes de mais fruto da ignorância.
Parabéns querida Conceição Queiroz,
vuá borboleta, vuá!
Anabela Ferreira
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