Numa Imprensa portuguesa completamente dominada pela direita, não é de espantar o ódio profundo que directores e comentadores de jornais, rádios e televisões nutrem pelo Governo grego democraticamente eleito (que não recorreu a nada que se pareça com a meia centena de mentiras de Passos Coelho em 2010-2011) e o enorme desprezo que ostentam, com arrogância e pesporrência, pela esquerda (a que muito me honro de pertencer) que se tem pronunciado pelo apoio a esse governo decidido a defender com coragem o Povo grego, evitando o seu esmagamento para pôr termo à terrível crise humanitária resultante de cinco anos de sacrifícios desumanos.
É escandaloso que a Grécia seja tratada por jornais portugueses ditos «de referência» como se fosse uma leprosaria, cujo «perigo de contágio» é preciso evitar a todo o custo. E é ridículo que as politicas de austeridade brutal, impostas pela dupla «prussiana» Merkel-Schäuble e pelos eurocratas de Bruxelas, sejam consideradas como um combate «em defesa da liberdade ocidental» (João Carlos Espada ‘dixit’). Uma loucura destas só é concebível na boca e na pena de vira-casacas oriundos da extrema-esquerda, que a seguir ao 25 de Abril – lembro-me bem! – acusavam pessoas como eu de serem defensores da «democracia burguesa», chegando mesmo alguns deles ao ponto de preconizar que «burgueses» assim fossem, pura e simplesmente, metidos na cadeia e «encostados ao paredão».
É impressionante que vira-casacas como João Carlos Espada (ex-director do jornal da UDP, «A Voz do Povo»), José Manuel Fernandes (ex-chefe de Redacção do mesmo jornal), José António Saraiva (ex-PCP), Henrique Monteiro (que nem sei a que extrema-esquerda pertenceu), Nuno Crato (ex-UDP), José Manuel Durão Barroso (ex-MRPP), Vital Moreira (ex-PCP e ex-PS) e outros que tais – que «se passaram» para a extrema-direita neoconservadora e ultraliberal – não se limitem a usufruir das oferendas que o capitalismo proporciona aos oportunistas deste jaez, e se atrevam a dar «lições de democracia» a quem sempre foi democrata, com o mesmo fanatismo, intolerância e dogmatismo (palas nos olhos) com que militavam nos partidos de extrema-esquerda que abandonaram à má-fila.
Criaturas assim, sem carácter nem vergonha na cara, apoiam abertamente este (des)governo medíocre que empobrece o país e os portugueses há quase quatro anos, são serventuários da plutocracia que deles se aproveita, e ainda por cima disputam a primazia aos genuínos militantes da direita que defendem convictamente as empresas e empresários que tomaram conta dos principais órgãos de informação (e de manipulação) para defender interesses próprios e destruir a esquerda. São uma «raça danada» de seres reptilíneos que envergonham o género humano.
(Esclarecimento: Politicamente, só considero vira-casacas os que se passam da esquerda para a direita, em todas as modalidades…)
Artigo publicado originalmente na página do Facebook de Alfredo Barroso
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