Carta aberta a Leonilde Santos.

Cavaco SilvaO Noticias Online publica a carta aberta da nossa leitora Elvira Biscaia relativa ao artigo de opinião “Cavaco Silva, mito realidade ou a volta da censura?” da autoria de Leonilde Santos.

Esta publicação é feita no estrito cumprimento daquele que consideramos ser um direito fundamental dos leitores em geral e dos nossos em particular, o direito ao contraditório.

No final da carta aberta é também publicada uma nota da direcção do Noticias Online com algumas considerações e correcções factuais.

CARTA ABERTA À JORNALISTA LEONILDE SANTOS

Exma .Senhora

Não sei que tipo de Jornalista é, nem me é necessário esse pormenor, para repudiar vivamente o que teve o arrojo de publicar. Sendo a senhora uma jornalista “sabe” que, nessa condição, pode, impunemente, escrever o que bem lhe aprouver, atendendo a que, quando da chegada ao poder dos arautos da Liberdade em Abril de 74 tudo foi feito para permitir, a si e aos seus colegas, usar do direito vergonhoso de difamar seja quem for, propalando boatos e informações desejadas, verdadeiras ou falsas, com outros fins em vista e que, depois do dano causado, ninguém lhes possa imputar responsabilidades.

Subentende-se que a senhora, do alto da sua importância, chegou à conclusão de que o Presidente Cavaco Silva sofre de doença impeditiva de cumprir com competência o seu mandato até ao fim e que existe o propósito,” de algo ou alguém “, de esconder essa realidade para que os portugueses não percebam a gravidade da situação. Além disto informa-nos que suspeitou desta situação há já 5 anos quando, nos Açores, o Presidente entra hesitante e com um ar confrangedor mantendo-se cerca de dois minutos em silêncio, com um ar apático, com um vazio e inexpressão no olhar, mastigando em seco. E têm que lhe chamar a atenção para começar o discurso. Logo aí a senhora ficou com a certeza. Para os menos atentos e para os que não conhecem os sintomas da doença, tudo isto é motivo para piadas e anedotas, segundo afirma e nisso dou-lhe os parabéns, pois conhece bem os seus compatriotas. Refere-se ainda a que estas coisas ferem a dignidade do Presidente e do indivíduo Cavaco Silva. Também diz, a “talho de foice” que existem pessoas que filmam e tomam notas das coisas que têm vindo a suceder para memória futura (?) sem manipulações nem mentiras. Para isso mune-se de informações recolhidas a partir de estudos genéticos, tais como hereditariedade, partindo da doença e causa da morte do seu irmão há 4 anos, que sofria de esclerose lateral e ainda porque na família do Presidente existe um historial de doenças neurológicas degenerativas. Possivelmente a sua argumentação é, cientificamente, verdadeira e digna do maior crédito e não sou eu, respeitando o já famoso Princípio de Peter, que aqui irei combater as suas certezas. Adianta ainda, ao longo das suas considerações, que a personalidade de Cavaco Silva era a de uma pessoa inflexível quando na posse das faculdades mentais inalteradas.

Parece-me também que a sua notícia lesa a obrigação de reserva da informação médica, que proíbe a divulgação dos dados de qualquer doente, ainda mais evidente quando se trata de uma figura pública exercendo o cargo máximo da Nação e cujo conhecimento alargado da delicadeza da situação pode levar a danos colaterais irreversíveis. Teria sido bom que tivesse tido esse pormenor em conta, a bem da resolução dos problemas nacionais.

E aquele algo ou alguém, sabendo da casmurrice dele e da doença eminente assim foi conduzindo esta questão para levar do mesmo modo, ao poder Pedro Passos Coelho, outro que, segundo diz, também é manipulável e também demasiado estúpido para perceber que está a ser usado. E envereda pelo assassinato de Sá Carneiro e Adelino Amaro da Costa. Fala em raposas velhas que pelos vistos todos devíamos conhecer, não especificando quais nem onde estão. Parece-me que essa informação lançada como suspeita no final da sua missiva, era a única que, depois de identificada poderia ter algum aspecto positivo. Porque ainda estávamos a tempo do seu abate. Mas não, preferiu guardar mais essa Caixa para futuros eventos jornalísticos, que, como todos sabemos, para além de representarem para o jornalista um excelente aspecto positivo, gostam de chafurdar nas misérias e desgraças alheias.

Deveria a senhora ter aguardado o que o Presidente tem para pedir ou comunicar aos seus Conselheiros, o que certamente será público na altura apropriada, e abster-se de meter a colher em seara alheia, dado que não lhe diz respeito qualquer decisão nessa matéria.

E aproveitando a sua sugestão de alteração do texto da Constituição Portuguesa, considero urgente e inadiável, que se prevejam sanções para os jornalistas dado que, sendo as únicas pessoas, (para além do Tribunal Constitucional, que também usa de privilégios especiais) a poder levantar suspeitas, boatos e falsas ou verdadeiras notícias, sem que seja necessário participarem as fontes, tornando impeditivo às Polícias competentes de punir os difamadores. Mais uma vez a velha lição de que todos os animais são iguais, mas uns mais iguais que outros.

Elvira Biscaia

Nota da direcção:

A carta que publicamos da autoria da nossa leitora Elvira Biscaia insere-se naquele que é um dos pilares essenciais do Noticias Online, o contraditório e a liberdade de opinião.

Não podemos no entanto evitar realçar o que consideramos serem erros rudimentares de análise e interpretação do artigo de opinião “Cavaco Silva, mito realidade ou a volta da censura?” o que, em nossa opinião, condiciona de forma insanável a argumentação apresentada.

Refere a leitora Elvira Biscaia que desconhece o tipo de jornalismo que é praticado pela autora do artigo de opinião aqui referido. Queremos acreditar que por distracção e não por qualquer outro motivo menos claro a leitora não se apercebeu que repetidamente o artigo de opinião é identificado exactamente dessa forma, como um artigo de opinião e não como um trabalho de investigação jornalística.

Lamentamos a desilusão que possa causar a algumas pessoas o facto de em Portugal, embora todos os dias sejam feitos mais esforços em sentido contrário, ainda é um direito fundamental dos cidadãos o livre exercício da opinião e a liberdade de pensamento.

Insinua a nossa leitora Elvira Biscaia que existe no artigo de opinião violação da reserva de informação médica, situação que não corresponde de todo à realidade, basta ler o texto original para se concluir que todos os elementos nele constantes são do domínio público.

Não deixam de nos chamar à atenção, nem nos podem deixar indiferente, as palavras da nossa leitora “cujo conhecimento alargado da delicadeza da situação pode levar a danos colaterais irreversíveis. Teria sido bom que tivesse tido esse pormenor em conta, a bem da resolução dos problemas nacionais. Entende-se aqui uma clara confirmação do que é relatado no artigo de opinião de Leonilde Santos sendo que o que contesta é o facto de a situação se tornar pública e não a situação em si. Entende portando, a nossa leitora, com recurso ao, para alguns saudoso,  “A bem da Nação” estas situações deviam ser abafadas e afastadas do conhecimento da população em geral.

Torna-se necessário centrar o artigo de opinião no espaço e no tempo, ele é escrito na sequência do incidente ocorrido nas comemorações do dia 10 de Junho pelo que a tentativa de insinuar qualquer relação com a convocação do Conselho de Estado é extemporânea uma vez que este só na passada semana foi convocado. Refere no entanto a nossa leitora que o Presidente da República tem algo a comunicar aos seus conselheiros, aguardemos o comunicado.

Terminamos com o total repúdio à sugestão apresentada no último parágrafo da carta da nossa leitora Elvira Biscaia. Temos consciência de que a obra de ficção de George Orwell é cada vez mais uma realidade que ultrapassa a ficção mas não podemos aceitar nem tolerar o aparecimento duma Policia do Pensamento.

A direcção do Noticias Online

 

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