Conversa imaginária num matabicho

Conversa imaginária num matabicho entre rum-mates sobre a Bazuka, em tempos de orçamento, onde a filha bastarda Cultura nem direito tem a um digíto. 

Bitch – Chegaram-me rumores verdadeiros, vindos de um país com seriedade em contas e responsabilidade, de raiz protestante, logo com noção de trabalho, transparência e prestar contas, os Países Baixos, apesar do envolvimento em papéis e caixas de pandora e outros símbolos míticos deste neo-sistema onde mandam os conglomerados, e as redes de fakebut, dizia eu…que Portugal vai receber pelos próximos dez anos – dezassete e meio milhões por dia, como ajuda para a recuperação económica e social pós pandemia. 

A chamada bazuca. Parte do empréstimo europeu é a fundo perdido e parte receberás a factura para ser paga daqui a uns anos, com juros bonificados. Ouvi dizer minha amiga humana que agora és uma Portuguesa rica…

Divide dezassete milhões e meio por dia, por quase 10 milhões de tugas, durante os próximos 10 anos e eu chamo-te uma bezos em formação e bezos vem de bazuca! 

Já ouviste esta informação? Já te foi explicada de que forma deves gerir este teu tesouro, ó sua nova rica? 

Eu – 10,5 milhões por dia a dividir por 10 milhões de tugas… “bem, é só fazer as contas” …

Hum isso tem cheiro de coisa maluca, tipo rambo V, novela requentada e dejá vu…chamo-lhe antes uma uzi, que dispara muitos tiros e mata vários em simultâneo. 

Não ouvi ainda explicações, nem valores, nem para onde vão os fundos ser aplicados. O como, quando, onde,porquê e quem beneficia ainda são e provavelmente serão mistérios nunca resolvidos. Os chamados “cold cases”. Só sei que parte será investido na recuperação do SNS mas nem os partidos na AR explicam, nem o governo, assim dessa forma transparente. Seremos chamados a pagar daqui a uns anos como colectivo, certamente. 

Mas agora estou muito interessada…aguçaste-me o apetite pelo meu milhão e meio. Tens a certeza que eu vou ser a herdeira do tesouro?

Bitch – Tenho. O dinheiro é real, o empréstimo também é. Sabes que nos Países Baixos por exemplo, o empréstimo teve de ser bem explicado aos seus contribuintes. Por isso agora és a prima europeia rica. Querem saber se já vos leram o testamento e onde vais aplicar o kumbu da bazuka. 

Eles são os dadores em vida e tu a beneficiária, entendes? Começa a cobrar aos políticos a tua parte estás-me a ouvir? 

É que não penses que te vais safar do pagamento do empréstimo, pecando e pedindo perdão a seguir rezando duas avés-marias e um pai-nosso. Vai ser cobrado entendes? 

Tipo prostituta do bem: dão-te o “blow-job” e obviamente cobram. Os beijinhos no pescoço são a parte a fundo perdido. 

Eu – Eu sei, tenho sido puta barata a vida toda. Como Portuguesa então, nem se fala. 

Ainda estou sem palavras com o montante que me vai cair na conta. Só que desconfio… 

Desde o tempo do Afonso Henriques, temos sido tão maltratados, vítimas de tantos abusos que desenvolvemos o síndroma não apenas de Estocolmo mas de Alzheimer (e deve haver mais). Não apenas perdoamos, como esquecemos quem nos trata como malucos inconsequentes além de adorarmos os nossos capatazes. Até durante o comércio transatlântico de escravos houve mais antepassados meus a revoltar-se e a mandar tudo para o freitas da mutamba do que agora. Estamos mesmo empobrecidos, nus e subjugados. E sem força anímica. Cansados, debilitados e com graves problemas de saúde mental.

Na hora de pagar mandam-nos prostituir e nós vamos. Até desconfiamos deles, não acreditamos nas mentiras, já duvidamos de tudo que nos dizem e conta, pudera, mas continuamos a deixar a cabeça e o cu destapados para nos virem açoitar mais e uma vez. 

O nosso destino colectivo tornou-se previsível mesmo quando sabemos que há alternativas. 

Bitch – Blimey…até os escravizados fugiram, formaram quilombos onde se ajudavam e dançavam as suas bazukas. Há sempre alternativa – é a história do sapiens-sapiens, só que demora sempre bastante até vocês descobrirem. 

O que é que vocês fazem quando o descrédito chega ao limite? Como já só conhecem manipulações de narcisistas, dão apoio a oportunistas narcísicos ainda maiores, a futricas de segunda categoria, a manipuladores cujas camadas de verniz estalam facilmente, acreditam em factos alternativos que mais não são que mais mentiras, e, somando tudo, ficam com o qi em queda livre. Perco a esperança na vossa inteligência. 

You suck mate! 

Eu – Não nos entendo mate…Goodness me! Ó Valham-me os santinhos, somos ricos minha bitch e, não sabíamos! Dezassete milhões e meio por dia durante dez anos a dividir por menos de dez milhões de tugas (retirando emigrantes e mortos que ainda constam nas folhas eleitorais e os que não responderam ao Censos ou nem foram contactados). Ninguém elucida os compatriotas, ninguém traz as boas notícias. Vou ver o meu saldo bancário, quem sabe…

Bitch – Isto é triste! Ides morrer na ignorância. Está provado cientificamente com a História, que não aprendem nada com a História!

Quando fordes reclamar do saldo negativo e começardes a pagar a factura por entre apitos e gritos de reclamação… vão-vos responder:

– Se não tendes pão, comei brioches…

Vou beber um shot de rum, só de perceber a tragédia anunciada na tua vida minha rum-mate!..

Eu – minha mate, serve-me também um rum de aperitivo enquanto vou dançar um merengue com os meus antepassados que bazaram para o quilombo fugindo dos filhos de puta dos seus donos …pode ser que me inspire e aos meus concidadãos a pedir explicações transparentes e …responsabilidades!

Anabela Ferreira

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