Covida 2020

Nestes tempos de difícil compreensão quando um nano ser vivo, mortífero e invísivel, a fazer a sua missão, que tomou de assalto as nossas vidas, as aprisiona e as deixa conscientes do sistema que criámos, venho deixar uma palavra de esperança. 

Há amanhã. Vamos sair deste buraco ligados por laços mais fortes. Vamos aprender lições interessantes (incluindo lavar as mãos, ser solidário, não açambarcar), entre tantas para as quais há muito optámos não tempo. Esta é a esperança. 

Há esperança também de que depois disto, saibamos que a terra é de todos sem excepção, respeitemos o código da estrada incluindo o uso dos piscas, não cuspamos para o chão e que este ser vivo não provoca diarreia, logo extra papel higiénico não é um conforto, mostra apenas o quanto somos estúpidos e egoístas. 

As razões deste caos estar a acontecer? Não sei. Há muitas teorias e cada um encontrará a que lhe trouxer mais conforto. Tentei ligar para o universo mas as linhas estavam ocupadas e cruzadas. Tudo parece ser possível incluindo o facto de sermos seres vivos num planeta cuja natureza não controlamos mas também por dissonância cognitiva nunca prestamos atenção. Refiro-me às sms´s que a natureza envia a todos sem excepção. 

Há gente abalizada para nos confortar, ensinar e sobretudo ajudar a pensar. Eu escrevo poesia e crítica vinda do pensamento rebelde, indomável e insatisfeito. Que não se sujeita nem acomoda. Que não foi feito para viver em prisão. Pode não ser útil agora, nem sequer relevante, mas quero deixar três resumos, dois pensamentos e uma poesia/canção que escrevi num dia já em isolamento social, quando fui cumprimentar o mar. Na sua companhia não apenas me curo, mas também me inspiro. Sobretudo se a praia estiver vazia.

A todos desejo saúde e esperança no dia de amanhã, afinal a esperança é o que nos move para sermos melhores. Desejo que cada um seja a melhor versão de si mesmo hoje e no final deste tempo. 

Quero contagiar-vos e repetir o que todos sabemos e aprendemos com os médicos. A maioria da população do mundo vai receber este vírus, combatê-lo – alguns sem sintomas – desenvolver anti-corpos a este nano-organismo, que não resiste ao sabão e viver normalmente. 

A quinzena de isolamento serve para controlar a transmissão do vírus mortífero, que afecta os pulmões, sobretudo nos grupos de risco (idosos e pessoas com outras doenças graves), combatê-lo se tivermos sido por ele infectados ou afectados e, por fim, não criar um peso insuportável no coração dos serviços de saúde, saturados e depauperados. 

Concluindo, avizinha-se a vida para a maior parte das pessoas no planeta. Adivinha-se finalmente a descoberta das profissões realmente importantes para a vida no planeta e em sociedade. Não são elas banqueiros nem outras relacionadas com finanças, ou economia.

Ao meu pensamento chega-me indomável a ideia de que este vírus nos afectará a todos de forma diferente. Se mata a população mais velha e mais vulnerável na saúde, também atira para a corrente do lixo, os mais vulneráveis do sistema. Não estamos todos no mesmo barco. Ou estamos, mas em classes diferentes. Se estivéssemos todos no mesmo barco havia coletes salva-vidas para todos. Assim não acontece. 

É um pouco como a medida preventiva dada ao Ricardo Salgado, correndo a frase Orwelliana ” uns são mais iguais que outros”. Vejamos, estamos todos em prisão domiciliária. Mas uns serão punidos com pena efectiva de pobreza. Outros têm fundos nas ilhas Caimão. 

Este sistema selvagem deve se regenerar e criar ventilação assistida para todos sem excepção, cumprindo os Direitos Humanos. Ou talvez esta seja uma esperença disparatada e em plena dissonância cognitiva. Seremos capazes? Porém esta deveria ser uma exigência colectiva. 

Deixámos que nos tirassem o suporte da vida na Educação, na Ciência, na Investigação e na Saúde. Não seria altura de exigirmos ventilador para todos até sermos capazes de não ter de escolher quem vive e quem morre? 

Que seja este o parto do novo mundo que está a nascer. Porque assim que isto estiver controlado, quero a minha liberdade de volta. E a minha vida. Mas de forma diferente. Mais conciente e humanizada.

Por fim, a informação que quero partilhar é a de que quando escolhemos entrar numa sala de cinema vemos o filme até ao final. Não saimos a meio, cumprimos o propósito. Por compromisso de honra com a vida. É esta colecção de episódios das nossas histórias que nos faz quem somos, nos torna ricos e mostra a humanidade que há em nós. 

A canção/poema que vos deixo, inspirada na minha visita ao mar, é a oferta destes tempos difíceis mas carregado de esperança. Tem um cheiro de pandeiro e sambinha no pé.E muito carinho meu. 

Eu vim abraçar o mar, o mar eu vim abraçar

penteei os cabelos das ondas,

com mãos de sal e braços de Iemenjá

Quando o sol me cumprimentou

falou pra eu ir no mar

pedir a bênção de Iansã

pra limpar meu amanhã

A consciência fez o seu trabalho,

se levantou,

arrumou pra sair

o bom senso se aperaltou

de mãos lavadas com sabão e amor

saindo pr´abraçar o mar

Vive um vírus no meu portão

democrático, anti-capital,

ecológico 

volúvel,

com todos se enrola,

usa coroa e espigão

salta logo pró pulmão,

é anti-social,

não quer beijo nem fala

nem sequer aperto de mão

na falta de um abraço,

que entre no meu coração,

procurando me curar

eu fui abraçar o mar, o mar eu fui abraçar

Anabela Ferreira

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