As acusações do governo ao TC pela derrapagem das contas públicas, já não convencem ninguém, até porque só um escasso terço da derrapagem foi influenciado pelas decisões do Tribunal Constitucional. Há muitas e muitas explicações para o desvario, que não ficam por aqui. Mas adiante, que lá chegarei.
A lata do energúmeno Passos é coadjuvada pela sua professora, miss Swaps Albuquerque, cujos erros de cálculo ajudam a explicar as trapalhadas deste governo em matéria financeira. Ora vejamos:
– O governo cobrou, até Julho, mais 735 milhões de euros em receitas fiscais, do que em igual período de 2013. Foi um crescimento de 4%, quando Marilu previra apenas 2%. Ou seja, metade;
– Ao contrário do que o governo afirma, o défice orçamental neste período, sem incluir salários e juros, aumentou 618 milhões de euros. Foi uma subida de 1,5%, quando o governo se tinha comprometido a reduzir a despesa em 2%;
– O governo previu uma queda de 0,4% na cobrança de quotizações e contribuições, mas os resultados apresentados pela DGO permitem concluir que, afinal, este valor subiu 3,1%;
– As receitas de IRS cresceram 357 milhões de euros em relação a ano passado (aumento de 6,1%), enquanto as empresas pagaram menos 272,6 milhões, em virtude da descida do IRC. Ou seja, os trabalhadores estão a meter no bolso dos empresários parte dos seus salários, para eles os colocarem em contas offshore.
Das duas uma: ou a miss Swaps é mais incompetente do que pensávamos e não sabe fazer contas tal como o ‘genial’ Vitor Gaspar que nunca acertou em nenhuma das suas previsões, ou os membros do governo andam a viver acima das suas possibilidades e, pior ainda, por cima das nossas. As “gorduras do Estado” eram para cortar, lembram-se? Foi trave-mestra da campanha da corja do PSD-CDS em 2011. Mas o facto é que ainda há pouquíssimos dias ficamos a saber, só para exemplificar, que a renovação da frota de automóveis que começaram a ser atribuídos em Julho aos 56 chefes de gabinete dos ministérios e secretarias de Estado, custa mais de um milhão de euros (1).
Mas depois de satisfazer a vaidade dos boys com os brilhantes ‘popós’ novinhos em folha, eis que manda “apertar despesas com os salários dos funcionários públicos” (2). A cabra sabe sempre onde vai buscar dinheiro para os luxos em tempo de austeridade e quem vai pagar os milhões com os novos carros, com as viagens de grupos em 1ª classe, com os serviços de assessoria externa contratados por ajuste directo (3), e tantos outros desvarios que somam milhões de milhões.
A perversidade e o descaro desta escumalha vão a tais níveis que só consigo comparar com os finais do século XVIII, quando os privilegiados arrogantemente sonhavam que se manteriam como tal, inatingíveis, inimputáveis, pairando acima da Lei e do povoléu ignaro e miserável. A guilhotina explicou-lhes que não era bem assim. Mas já passou muito tempo, e essa memória (da guilhotina) parecer ter-se diluído. É certo que a guilhotina está ultrapassada, mas hoje qualquer arma automática de repetição faz o serviço colectivo mais rápido e com menos aparato, em qualquer lugar.
(1) http://www.cmjornal.xl.pt/detalhe/noticias/exclusivo-cm/governo-gasta-um-milhao-em-carros
(2) http://observador.pt/2014/07/21/financas-querem-contas-apertadas-sem-ligar-chumbos-tc/
(3) http://www.publico.pt/politica/noticia/defesa-contrata-este-ano-quase-500-mil-euros-em-assessorias-externas-1667082
Telmo Vaz Pereira
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