Em defesa do Dr. André Ventura

Nos últimos anos o Dr. André Ventura tem sido uma vítima da falta de reconhecimento duma parte da sociedade. Chamam-lhe demagogo, chamam-lhe populista, chamam-lhe xenófobo e até há quem tenha o desplante de lhe chamar mentiroso. Em resumo, um chorrilho de injustiças sem precedente!

Ora vamos lá por partes. Primeiramente vamos ter de identificar quem é quem. Será o Dr. André Ventura académico ou o Dr. André Ventura político? Segundo o próprio são pessoas diferentes, embora aprisionadas no mesmo corpo. Um usa a ciência, a razão e a verdade, o outro usa em seu benefício a mentira, a falsidade e a manipulação num exercício bacoco de perigoso populismo.

O Académico Ventura defendeu em 2013, na Universidade de Cork, uma tese de doutoramento sobre um tema importante, “Para um novo modelo de sistema de justiça criminal na era da criminalidade globalizada: os grandes desafios para a lei de processo penal”, tese que, entretanto, passou a estar indisponível para consulta a pedido de André Ventura, certamente o político porque o académico jamais faria tal coisa. 

O que defendeu o Venturoso Académico nessa tese? Que as políticas anti-terroristas são “medidas restritivas e altamente intrusivas das liberdades dos cidadãos, que nunca seriam possíveis num contexto normal” provocam “alta conflitualidade social e um aumento da suspeição em relação a determinadas comunidades” tendo como único fundamento “o medo” discriminando e estigmatizando as minorias. Criticava também a existência de detenções sem provas concretas. A tese, com quase três centenas de páginas mostra um humanista, preocupado com os povos, os seus direitos, liberdades e garantias. Países como Portugal e a Irlanda não devem esquecer o seu passado e devem acolher o maior número de migrantes

Quando confrontado, em 2019, com a insanável dicotomia entre o que defendia na sua tese e o que defendia no seu discurso eleitoralista o que respondeu o Dr. André Ventura? “A minha tese não é uma questão de opinião, é uma questão de ciência. Sempre distingui muito bem a parte científica da parte opinativa.”. Traduzindo para linguagem corrente a explicação de André Ventura é que a ciência é a ciência baseada em estudos e em factos, a opinião do político será um chorrilho de tretas que serve para iludir a malta, um auto de fé.

A explicação, ciência é ciência, opinião é opinião, embora revele alguma desonestidade intelectual podia passar não fosse dar-se a estranha situação de, em Setembro de 2015, o político opinador André Ventura escreveu um artigo de opinião no Correio da Manha intitulado “Os refugiados e o mar do norte” onde referia o enorme drama humano e acrescentava “Países como Portugal e a Irlanda não devem esquecer o seu passado e devem acolher o maior número de migrantes”. Ora, está bom de ver que até esse momento o académico e o político opinador ainda não se tinham sido separados por razões duvidosas e ainda eram ambos humanistas progressistas.

 Em 2017, na campanha eleitoral para a autárquicas, André Ventura foi candidato pelo PSD a Loures, mesmo não usando o famoso bigodinho, resolveu dar uma de Adolf e atirar, generalizando, contra uma comunidade. Foi o momento de viragem e de separação definitiva entre o académico e o político populista, a partir daí foi sempre em crescendo e sem qualquer tipo de pudor aumentando o discurso xenófobo, criando fracturas e navegando ao sabor do populismo com um único objectivo não declarado, destruir a democracia, eliminar direitos liberdades e garantias sem se preocupar com as mentiras que vai dizendo, são muitas.

A lista seria exaustiva, mas vamos só referir umas quantas que foram transmitidas nos últimos debates entre os candidatos às legislativas. André Ventura afirmou que em Braga 30% da população é emigrante, é mentira são 3,0%. Claro que para o académico Ventura a virgula teria toda a importância, para o populista André essa virgula é irritante. O populista defende que a verdade não pode estragar uma boa estória. Ainda nos debates e cavalgando a questão criada com os subsídios concedidos à PJ e ainda não concedidos às outras forças de segurança o populista André veio afirmar que queria que polícias e guardas se pudessem filiar partidariamente como já acontecia com os elementos da PJ. É mentira, o académico e jurista Ventura saberia que o populista André estava a mentir porque, e muito bem, nem PJ, nem polícias nem militares se podem filiar partidariamente, está bem escarrapachado na lei dos partidos políticos, nem recorrer à greve. E muito mais mentiras que seria exaustivo relatar todas num curto texto.

O importante é que cada um pense pela sua própria cabeça e não se deixe influenciar por populismo de taberna. Leiam, estudem, pensem pelas vossas cabeças e não se deixem enrolar.

Chegados aqui podíamos interrogar-nos se esta bipolaridade opinativa entre o académico e o político é situação única na vida de André Ventura. A resposta seria negativa, temos também o André Ventura funcionário da Autoridade Tributária, pelo menos até 2022 continuava a ser funcionário com licença sem vencimento, e o André Ventura engenheiro financeiro trabalhando para as consultoras que ajudavam a pagar menos impostos, os tais impostos que ele como funcionário da AT quereria cobrar. Novamente temos o pregador e o pecador.

E o que dizer do comentador de futebol com aquele estilo taberneiro que, entretanto, trouxe para a política. Foi nessa qualidade que André Ventura mostrou, demostrou e assumiu, sem qualquer tipo de vergonha, não dar nenhum valor à palavra dada, ao compromisso assumido. Reporto-me ao momento em que fez uma aposta com outro comentador em que garantia vestir a camisola de outro clube se perdesse a aposta. Não cumpriu!

Se em coisas banais como uma discussão de taberna sobre futebol André Ventura demostra não ter palavra e não cumprir o que promete querem acreditar que o faria na política? Não sejam ingénuos!

Valerá a pena irmos dar uma volta às biografias dos apoiantes ideológicos e financeiros de André Ventura? Façam esse exercício, pesquisem quem são o que fazem e o que fizeram, é uma forma de se habituarem a pensar pela vossa própria cabeça e não a ficarem condicionados com discursos populistas sem fundo de verdade.

Talvez a melhor definição que ouvi sobre André Ventura foi proferida por outro candidato que o definiu não como fascista, mas sim como “farsista” uma vez que todo o seu discurso, as suas ideias e as suas promessas não passam de autênticas farsas.

Temos, pois, os dois André Ventura, o académico humanista e o político “farsista”. Como não é o académico que vai a votos, vão querer dar poder a um “farsista”? Não vão pois não?

Jacinto Furtado

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