Em legitima defesa… (por Anabela Ferreira)

IG,FR,LIBTodas as vidas são iguais mas há umas mais iguais que outras. Quase em poesia e…

Em legítima defesa…

Uma história de violência:

Prometo amar-te…

Até que a morte nos separe!

Diz o marido à mulher,

antes de a violar, maltratar e…matar.

Prometo respeitar a constituição, ser um fiel representante dos cidadãos que me elegeram…

Diz o político fascista, o sem escrúpulos, o sem ética,

pago por interesses económicos

o verme ignorante, corrupto, ganancioso

antes de nos matar! Por dolo ou negligência.

-Morte ao infiel,

ao homem, à mulher, à criança, ao gay, ao preto,

que não obedeça

e de nós falar…diz o fundamentalista religioso

Longe das palavras de amor ensinadas

por profetas feitos homens

ramos da mesma raiz:

Até que a morte nos separe!

São espelhos da mesma face: a violência

no casamento privado, em comunidade, na vida pública, em sociedade

São as violências impostas,

nascidas de profundos complexos de inferioridade

Dos mundos que desconhecem o direito à vida

Que levam crianças bomba, a explodir

Homens e mulheres com esperança, a partir

A ir sem mais poder regressar. Da vida

Que roubam o direito de rir. Ou de fazer rir.

De amar e de se dar.

Que não nos querem ver almoçar,

um pão com o doce de um entardecer

com um pôr-do-sol feito de cores roubadas

num quadro de Van Gogh

e por elas poesia escrever.

Roubam-nos o direito de cultivar

e a terra da imaginação arar,

para ver sementes sadias nascer.

Roubam valores sagrados:

o amor, a esperança, a dignidade, a bondade, a espiritualidade.

Pois conheço uma solução:

Faço o que tenho de fazer,

não largarei as canelas de quem há muito

perdeu a graça com tamanha negação

ou nunca a teve.

E quer continuar inferiorizado.

Em bombas atolado e no seu campo de guerra

refugiado.

Ofereço-lhes lágrimas saídas de um estômago em convulsão pelas gargalhadas.

Mesmo que em agonia de fome.

Vocês que me escravizam e me dominam através do medo, do terror ou de qualquer guerra.

Que me matam de fome.

Com a vossa prostituição obscena.

Com o ódio insano pela minha existência

Com a vossa violenta insanidade

querem-me arrastar para o delírio,

contrário ao terno que a vida pode ser?

Morrerei sim

Mas depois de me defender

Podem clamar: ingenuidade !?

Utopia !?

Sim, no caminho para o meu encontro com ela,

o meu destino final, o meu sentido a minha direcção,

apenas com o amor que carrego no ventre da minha humanidade,

contra a vossa desumanização

contra a imitação de comportamentos grotescos

que não me conduzem à evolução

Viverei para matar a morte gratuita.

Prometo sim, nunca vos matar com uma bala ou uma bomba.

Do lodo nutrido pela água e pela terra,

trazendo apenas o amor de uma gota do oceano

por outra gota de igual raça.

Sem cor, religião, sexo ou pátria

Eu sou todas as gotas do oceano feitas vida

Com as palavras

que a inspiração me depositar num cesto,

na minha janela

com o trunfo do meu lápis

em nome de um

por um todo comum,

visto-me com o gorro do fanatismo da bondade,

calço-me de paixão pela justiça,

junto-lhe as luvas do extremismo da compaixão

e combaterei

pelo pão,

defenderei a liberdade, o riso, a vida,

De pé,

em legítima defesa.

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