O País foi hoje surpreendido pela contratação de Maria Luís Albuquerque, ex-ministra das finanças, por uma empresa financeira inglesa que adquiriu no ano anterior duas empresas portuguesas a quem o Banif tinha vendido créditos sobre clientes, supostamente tóxicos ou de elevado risco, venda essa que só pode ter ocorrido com a concordância da própria ex-ministra.
Não vou tecer considerações éticas sobre este comportamento que, podendo não ser ilegal, é no mínimo de suspeita promiscuidade entre política e negócios. Até porque a camarilha de Passos Coelho sempre considerou o reino da moral e dos bons princípios como uma espécie de arcaísmo de velhos e de esquerdistas, usado contra o seu programa de liberalismo flibusteiro. Nesse contexto, Maria Luís não surpreende. A sua atitude é totalmente concordante com o amoralismo pafioso que defendeu e executou com brio e dedicação.
Mas, o que deve ser extraído da notícia é o que ela revela sobre o estado de espírito das hostes da Direita, mormente das hostes do núcleo duro de Passos: as tropas começam a desertar.
Primeiro foi o irrevogável Portas, o mais rápido a perceber a situação e a emigrar, pé cá, pé lá, ao que se diz a fazer negócios na Colômbia. Antes já tinha sido o Gaspar a escapar-se para o FMI, depois de ver que não ia poder continuar a cortar nos salários e nas pensões devido ao Tribunal Constitucional, a não ser que fizesse um golpe de estado. Como não tinha pólvora para tanto foi-se embora.
O ministro do pastel de Belém, o Álvaro Santos Pereira, esse também já tinha emigrado para a OCDE. Outros, anteciparam mesmo a derrocada e emigraram antes, até com alguma pompa. Como Paulo Rangel e Nuno Melo que se refastelaram nos confortáveis assentos do Parlamento Europeu, gozando das mordomias que recebe aquele teatro de deputados eunucos, não passando de uns impotentes de luxo e não mais que isso.
Ou seja a Direita começa a fazer as malas. Lá no fundo já não acredita que o atual Governo caia a curto prazo e o melhor é mesmo seguir o conselho de Passos Coelho e começar a emigrar. Só que, se alguns dos que emigram ainda hoje, emigram apenas com a mala de cartão ou com a mochila de estudante, a Maria Luís emigra com a mala forrada de milhões de euros em créditos entregues a preço de saldo aos nossos amigos da City de Londres.
Depois de terem tentado tudo e mais alguma coisa, primeiro para evitarem que o Governo de António Costa visse a luz do dia, depois para que a aprovação do Orçamento se tornasse num momento de crise política, chamando todas as pragas do Egipto, a Comissão Europeia, a D. Merkel, as agências de rating, o Conselho Económico e Social, a UTAO, e finalmente a D. Teodora e todas as cobras e lagartos deste mundo e do outro, a Direita contava ainda com o inefável professor Marcelo para conseguir ir ao pote rapidamente e satisfazer a sua gula incontrolável.
Pois bem, ao que parece o professor já informou Passos Coelho que vai ser muito menos catavento do que Passos dizia que ele era. Isto é, que não conte com ele, Marcelo, para fazer cair o Governo do PS, sendo portanto coerente com aquilo que foi repetindo durante a campanha eleitoral que fez e que o levou à Presidência da República.
Passos, lá lamuriou e fez caretas, mas Marcelo foi-lhe dizendo que se quer que o Governo de António Costa caia, que se faça à vida. E ele lá vai andando pelo País inaugurando umas coisas que já foram inauguradas, debitando diariamente dislates no prime-time, com um séquito de jornalistas e televisões atrás, gente que não lê jornais há três meses e que acha que Passos ainda é o Primeiro-Ministro de Portugal. Curiosamente, quando hoje foi questionado sobre a contratação de Maria Luís, Passos Coelho que disserta sobre tudo e mais alguma coisa, só conseguiu olhar para o chão e fugir dos jornalistas e das câmaras como o Diabo foge da Cruz.
É deprimente que Passos Coelho não veja, ou finja que não vê, que a Direita já começou a empurrá-lo para o caminho da porta dos fundos, porque ele já não faz parte da solução para chegar de novo ao poder mas é sim o nó górdio do problema.
E assim, em total contraciclo, ele lá vai andando pelo País, qual último moicano, e assim andará, fazendo figura de pateta alucinado, até ao dia em que olhará em redor e verá que as tropas todas já desertaram e que ficou sozinho a pregar no deserto, pelo que só lhe restará desistir e mudar de vida.
Contudo, como nunca fez nada de jeito que se visse, nem tem sequer currículo e competências de realce, não vai certamente fazer companhia à Maria Luís e muito menos ao Gaspar ou ao Santos Pereira.
Cá para mim só lhe vai restar uma solução: vai para administrador do Banco do Relvas. Os amigos são para as ocasiões.
(*) Estátua de Sal é pseudónimo dum professor universitário devidamente reconhecido pelo Noticias Online
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