Era uma vez na América… Uma relembradura aos interessados

Em 1492 três embarcações – a Santa Maria, a Pinta e a Niña pagas pelos Reis Católicos de Espanha sob o comando um Colombo desconfiado de que iria encontrar a Índia rumando para Ocidente, (tinha levado uma nega do Soberano Luso, que com um sorriso sardónico no canto do olho mandou o Gama em direcção a Oriente), encontram-se com massa firme – estava encontrada a ilha que hoje se chama Bahamas (logo conquistada e roubada), para perceberem o território de dimensões incalculáveis, a transbordar de recursos naturais e povos indígenas, de vários tons de escuro, formatos, tipos de cabelo, cultos, línguas e caldos culturais tão diversos quantas as especiarias da Índia.

Só que não era a Índia, antes sim o que hoje chamamos América (as origens do nome são diversas e para este resumo relembrador não interessa nada). Supõe-se que o Cristóvão nem nunca assentou o traseiro lá na parte dos Americanos, que lhe dedicam mesmo assim um dia nacional por ter encontrado a terra que lhes trouxe todas as oportunidades.

A terra estendia-se de um Oceano (Atlântico) a outro (Pacífico).

A árvore gigante com inúmeros ramos iria fazer nascer muitos ramos distintos, uns bastante podres, outros mais sãos. Na parte sul da vila continental os Espanhóis tomaram conta, matando ferozmente, roubando, pilhando, saqueando tudo o que encontravam aos povos indígenas a quem chamaram(de novo) selvagens e inferiores.

Neles encontravam resistência, faziam alguns negócios com vista a roubarem-nos nas próximas viagens de saque. Na parte norte da vila continental foram as gentes europeias de origem nobre e outras muito pobres, falantes de língua inglesa ou sob o domínio Britânico que fizeram o mesmo que a espanholada do salero.

Pilhar, saquear, dominar, roubar e todos os verbos para a palavra colonizar que encontraram no léxico das línguas. Os povos nativos viviam tranquilos sentados em poços de petróleo, ouro, água, gás natural, terrenos férteis e outras mil riquezas.

De repente viram chegar homens que traziam numa mão uma arma e na outra uma Bíblia, submetendo-os com ambas.

Defenderam-se, morreram, foram massacrados, confinados a reservas porém mantiveram-se fiéis aos seus cultos e línguas (como os escravizados).

O sol, a terra, as árvores, os animais a água são até hoje os seus tótem(s).

A ganância e a cobiça sobre as riquezas imensas que os invasores nada pacíficos iam descobrindo, sobrepunha-se à vontade da maioria de viver em paz e sossego o sonho americano, de uma casinha com cerca de madeira branca ouvindo a brisa passar, um carro com uma junta de bois enquanto aprendiam a ser sussurradores de cavalos a pastar.

Nã! Que chatice seria a vida. Afinal quem são os selvagens?

A 4 de Julho de 1776 declaram-se Independentes da Corôa Britânica. Diversos Europeus tinham chegado e povoado os territórios tão cobiçados, levando consigo das suas terras de origem o espírito de guerra, da máfia, de conspirar para obter poder, de submissão, de matar, de enriquecer, de conquistar não importando os meios.

Roubaram terras a todos os que conseguiram dominar. A outros europeus compraram (na guerra Mexicana roubaram a Califórnia, o Nevada, o Utah, o Texas, o Arizona, o Colorado e o Wyoming), o Luisiana compraram aos Franceses, o Oregon aos Ingleses, a Flórida aos Espanhóis, o Haiti mataram o Rei e a Rainha e conquistaram o território, o Alaska compraram aos Russos), sacaram Porto Rico, as Ilhas Virgens e a Samoa Americana.

Esta é uma história de sangue, cowboys sem lei, e leis mafiosas ao longo de muitos anos.

Durante a guerra que travaram uns com os outros (Norte e Sul) fizeram-no pelas razões do costume. Sem esquecer que os do Sul queriam manter a Escravatura e os do Norte se opunham. Toca de se matarem sem apelo nem agravo.

À chegada a Ellis Island os migrantes eram separados por cores, sabiam? Os mais escuros iam nos bancos de trás dos autocarros junto com os Irlandeses famintos. Resquícios do tempo, não tão longínquo assim.

As maçãs que os cavalos gostam, nas corridas a que os obrigavam e geravam grandes negócios, não ficaram só na Big Apple, eram cobiçadas por todos.

Todos os dramas que Shakespeare escreveu, suspeito terem origem neste território, ou deram inspiração ao nascimento dos “Bureaus e dos escritórios” com o objectivo de espiar, de chantagear, armadilhar,escutar, trair com facas nas costas, assassinar e ofertar cabeças de cavalos sacrificados. Poder e domínio em acção. Sempre, desde sempre.

Estava montado o clube de uma espécie de “elite” (por serem os donos daquilo tudo, com um plano de acção a cumprir escrupulosamente), mencionado por Geoge Carlin, que não apenas ganha muito dinheiro na Big Apple nas corridas de cavalos, como em negócios paralelos, sujos, proibidos, debaixo do pano. E claro, na política. Dentro e fora de portas.

Este clube de meia dúzia de herdeiros dos genes dos conquistadores a qualquer custo, quando ficam aborrecidos sem nada para fazer e não lhes é suficiente as guerras internas e políticas. Precisam de se expandir e criar terror seja lá onde for.

Assim foi a sua política internacional ao longo dos anos, sem nunca deixar de ser até aos dias de hoje. Mesmo quando nos tentam impingir mentiras dizendo que há uns de “fora” do sistema, é uma armadilha, é falso. São peritos nas astúcias da lei do engano.

Pensem por um segundo em toda a História contemporânea e passada. As mentiras para invasões recentes, ou as chegadas tardias às Guerras Mundiais, na Primeira levando do Oregon a chamada “Gripe Espanhola” para a Europa, na Segunda levando as bombas de Hidrogénio para o Japão, a expansão da Nato (sendo o país que mais bases militares tem pelo mundo, em particular na Europa, quebrando compromissos e tratados). Pensem nas implicações sangrentas em golpes de Estado em diversos países com o propósito de os desestabilizar. Quanto mais fracos e vulneráveis, divididos e em guerrilhas, mais fáceis são de manipular, como também os levam à imposição das suas empresas e dos seus petródolars para explorar os negócios e recursos naturais dos outros e da vida dos países dos outros.

Pensem no passado e nos actuais vergonhosos e desumanos embargos a Cuba, à Líbia, ao Irão, Síria, Venezuela, Coreia do Norte.

Porquê? Escolham a opção que preferirem em vista da história.

São a maior democracia do mundo, da liberdade individual, da escolha da prática de negócios para todos os gostos e carteiras. Do capitalismo puro e duro. Do modelo de neo-capitalismo selvagem, desumano.

Dos esquemas em pirâmide, dos cultos sexuais, religiosos, de dinheiro, de poder, de favores.

Por trás, está sempre uma mentira maior. Eles dizem : neste ninho de doidos comprem enganos, comprem…nós vendemos barato…

Liberdade e escolha? Venha o diabo separar o trigo do joio.

Claro está que a sua História não foi só isto, é feita também com o maior elemento de persuasão e violência. Sem perderem da mente a outra das razões importantes para o domínio, o poder e a alavancagem da máfia na vida corrente de qualquer americano que dorme com a Bíblia na cabeceira, juntamente com a arma debaixo da almofada, temos o sexo.

As três maiores indústrias americanas com raiz conservadora: armas, sexo proibido e chantagem. Como resultado temos a violência inerente a esta combinação.

Se combinarmos o desenvolvimento científico e potente da indústria farmacêutica para diversos tipos de depressões, dores e doenças mentais, fruto do estado constante em guerra, experimentos de manipulação, espionagem e chantagem, aos poderosos impulsos sexuais (em particular com crianças com idades abaixo dos 13 anos), temos o caldo de marshmallows apurado.

Junte-se o sexo em jactos particulares, em ilhas de amores que nada têm de consensual, à prostituição, ao tráfico humano, a crimes hediondos na violência entre casais e outros, esta civilização que deu ao mundo literatura, pintura, cinema, teatro, música e músicos ciência, tecnologia, arquitectura e desenvolvimento como nenhuma outra da modernidade, deu também os dramas mais sujos e bestiais alguma vez imaginados por Shakespeare, na qual incorpora o maior número de psicopatas por metro quadrado como actores principais.

Por último, a palavra de memória aos milhões de Escravizados Africanos que foram sendo levados pelos Britânicos colonizadores, usados na Independência, combatentes na guerra civil entre Norte e Sul (com a bandeira dos Estados Confederados, os tais da Bíblia e da arma, os racistas dos três kapas, a favor da Escravidão, que hoje desprezados e esquecidos pelo seu país vivem a esperar um regresso ao passado mais primário e básico), dizia eu, estes Negros roubados das suas terras, deixados na América, construiram o país, com força de trabalho gratuita, objectos de violação sistémica, e violência extrema.

Também eles deram música, literatura, ciência e tecnologia, fizeram o desenvolvimento do país sem terem visto compensações sob a forma de dinheiro, educação, terra e direitos iguais aos brancos conterrâneos.

Continuam até hoje a ser mortos e vistos como inferiores, apesar do muito sangue derramado em assassinatos, em batalhas sucessivas por direitos como cidadãos sob a lei e o direito do país que também é seu.

A América encontrada em 1492 por três Naus, que deu americanos ao mundo no seu todo, hoje farol “civilizatório” são um caso de estudo.

Por causa do período que atravessamos, pergunto-me as razões das guerras de hoje, em 2024, com este país envolvido no seu âmago, implicado até ao tutano, a pagar, fomentar, a querer que no século XXI, com a espécie tão desenvolvida na sua inteligência bem como tecnologicamente, e tão sub-desenvolvida emocionalmente, tenha esta recém-formada nação dominatrix, de chicote, ligas, algemas, meias de seda preta, stilettos cujo salto enfiam nos buracos disponíveis, o direito de esbanjar os triliões que geram em infindáveis guerras de poder e manipulação.

Entre duzentos milhões de habitantes herdeiros desta história que acima contei, como é possível ter chegado aqui e ser hoje assim?

Só pode ser por estar na sua génese e dela nunca se livraram.

Ainda hei-de celebrar o “thanksgiving” não pelas razões que eles celebram, mas quando os vir evoluir e possa dizer:

– “thanks for giving the world a new adult in the room.

É quase fácil perceber o catch 22 deste grupo de selvagens. Tão fácil quanto entender a natureza humana, a máfia Italiana, a máfia Irlandesa, a crueldade ligada ao racismo dos Britânicos e dos Holandeses com o condão para os negócios, o amor pelas corridas de cavalos, pelo álcool, as adicções, pelo uso da escravidão e pelo abuso das mulheres.

Olho a maçã podre da árvore que espalhou os seus ramos de um oceano a outro e não gosto.

Até hoje, com os comparsas Europeus ex colonizadores construíram uma teia de complots baseados em mentiras, trocas de favores, negócios, espionagem, chantagem e sacanagem à qual chamam geo-estratégia mundial.

Dão dinheiro a Israel que deu dinheiro à África do Sul do apartheid, que financiou o grupo que hoje quer destruir (dizem eles), dão dinheiro à Ukrania para estar em guerra com a Rússia e assim segue a história contemporânea (e só a mais recente).

Relembro também os casos de pedofilia que destrói aquela sociedade como um todo (Franklin, Epstein, Hollywood, Pizzagate, entre outros), os experimentos científicos e psicológicos (também com drogas), os casos de espionagem, chantagem e vigilância (Watergate, Snowden, Manning, Assange entre outros), os Qanon, os três Kapas (entre tantos outros), os financiamentos de grupos de terrorismo que se transformam em grupos a abater, as tragédias e mentiras de Silicon Valley, e assim por diante numa tragédia americana com quatrocentos anos e picos. É obra!

Não se deixem enganar pelos MAGA, nem pelas mentiras pentagonais de guerra por instintos bondosos de democracia, paz e liberdade, nem se enganem pelo demónio com cabeça bifurcada um lado azul outro vermelho, cores indiferenciadas por falta de compasso moral e ético em ambos, nem pelas côrtes de conspiração em Washington onde negócios (lobbies) e mentiras são tecidos, com base em três elementos, que são as maçãs sempre a despontar na sociedade americana, os verdadeiros vírus genocidas que – como escreveu Drummond de Andrade sobre as flores – “furam o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio”.

A construção da ignorância está na génese desta sociedade.

Fez-se pedra sobre pedra sobre o medo, alimentou-se do ódio como comburente – aos Índios, aos Irlandeses, aos Ingleses, aos Italianos, aos Pretos, aos Mexicanos, aos Russos, aos Japoneses, aos Chineses, aos Indianos, aos Coreanos, aos Cubanos, aos adversários políticos, aos que expõe a verdade sobre a mentira, aos jornalistas que não se vendem, aos whistleblowers, ou seja lá quem for – todos aqueles que querem de verdade a democracia, a liberdade e a vida em paz e sossego, segundo um sonho que um dia tiveram ao chegarem à terra das oportunidades.

É pena. Têm tudo para ser flores, só que não querem. São ricos e não lhes falta nada. Porém preferem ser espinhos, impossíveis de mascarar ou limpar as provas do mal com lixívia.

A história continua… 

Anabela Ferreira

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