Era uma vez na América

Aqui que ninguém nos vê nem ouve, desconto algumas das minhas frustrações profundas sobre a direcção recente em que gira o triste planeta. Temos em tempos recentes levado com um toro de madeira nas pernas e de cada vez que tentamos fazer o esforço de levantar, eis que surge de novo o toro na nossa direcção.

Dá um desgaste inimaginável que faz até perder o cabelo e dobra as costas.

Eu vejo a nossa estadia neste planeta como História com histórias. Não somos mais que isto. Somos hoje a história do futuro. Presenciamos, somos actores e agentes. Cada vez mostramos mais as nossas cores verdadeiras. Para o bem e para o mal. Para o que temos de bom e de mau. Estamos tristes, revoltados, amargurados, ácidos mesmo.

Sabes, aproxima-se o dia naquele país gigante como um continente. Rico e desenvolvido, de fazer inveja a qualquer um, que veste fato e gravata na frente e mata pelas costas. Nestes últimos trezentos anos temos sido no mundo, tremendamente influenciados por ele.

O país tem a ambição de ser o dono dos experimentos psicológicos, científicos, tecnológicos, militares, económicos para implementar a sua Lei de cowbows – ganha quem tem o poder do dinheiro na bala que matar mais rápido.

Não tenho nenhum cavalo na corrida mas quando penso que de um lado da cavalariça há um mal, símbolo de um palhaço criminoso, absurdo e perigoso, com potencial a ganhar, a minha pele arrepia-se com o susto. No outro lado da cavalariça há uma mulher, a “underdog” desta corrida, mulher, mestiça representante de imigrantes que conseguiram realizar o tal sonho que eles falam à chegada em Ellis Island.

Só que ela é também a sombra dos seus manipuladores que a querem numa casa branca com um jardim de rosas bonito e uma cerca (elétrica) para continuarem a gerir o sistema económico mais feio, o sistema tecnológico de vigilância mais assustador, e claro sem esquecer o principal, o sistema militar que mais vidas aniquila em diversas geografias do mundo. E é isso que me espanta no pior sentido – o poder e a influência que têm sobre o mundo.

Há cerca de trezentos anos o país tornou-se uma força, desde que começou a sua história com povos europeus a migrarem para lá, empurrados pela pobreza, doenças mentais e por penas de prisão.

Nota à parte – tal como quando Portugal começou há quinhentos anos a levar a sua migração e colonialismo numa nau com a estrutura racista e os seus pobres, para os países conquistados noutro continente a sul do Trópico de Câncer.

Quando com armas, criminosos e psicopatas invadiu, saqueou terras e riquezas aos Índios, impôs a lei da bala com os seus cowboys, mafiosos, espiões, assassinos a soldo e a mando de psicopatas em instituições com três letras, concebeu os planos para conquistar, dividir, lavar cérebros, criar ainda mais criminosos, cultos com fétiches sexuais e doenças psicológicas nos seus registos históricos, temos tudo dito.

Chegamos ao por fim e talvez mais importante – para se impor, importou mão de obra gratuita com a escravaria negra, deixando cair sobre os ombros destes a construção do império que se fez em seguida. Não sou eu que inventei uma história – há documentos, registos e recibos com assinaturas.

Assim também eu seria uma força poderosa, dizem vocês e digo eu. O problema é o poder e a influência que a bandidagem tem sobre o mundo ocidental que lhes é servil num sistema de capitalismo que nos é fatal e olha apenas como produtos de comercialização.

Por outro lado, demandam a Liberdade. Esta é a forma de manipulação suprema porque têm todos presos pelo brutal passado e presente nas garras da crueldade do sistema que obtém lucro com humanos. E isso é só genial.

Quando confrontamos quem eles são, de onde vieram e as suas acções ao longo da sua curta história o espanto cresce. A manipulação está tão bem feita que eles não se vêem.Hoje eles são a história de amanhã representando o passado, e isto é insofismável.

Liberdade e “free enterprise”? Para quem?

Só na superfície para vender o frasco de banha da cobra que tudo cura. Por cima um creme luzidio e macio a esconder palha d´aço. Quem impõe as regras são o dinheiro, o lucro, os negócias das seguradoras, da industria farmacêutica e claro a principal – das armas. São cerca de quatrocentos milhões que vão a votos na próxima terça-feira escolher o pior do circo. Talvez aquele que melhor se assemelhe a uma visão distorcida do Gary Cooper.

Evoluíram? Claro que sim. São grandes, produzem grandes espectáculos e constróem arranha-céus espantosos. Têm o Noam Chomsky, e o Matir Luther King Jr entre outros. Porém não ao nível espiritual e psicológico. No geral como seres humanos ainda a evolução vai no adro. Quando ainda sentem o impulso de matar, obter lucro, enganar e manipular que é o seu legado hoje, igual ao de ontem, deixam muito a desejar.

Passei por lá em 2002 e gostei de lá viver. Fiquei a conhecer melhor um povo tão distinto quanto o são as diversas latitudes daquele país. São o centro do mundo e o mundo gira à volta dos seus umbigos. O resto? Isso fica muito distante dos seus mamilos.

São ignorantes ao ponto da ingenuidade. São crédulos ao ponto da estupidez. Basta olhar para a história do crime naquele país. Com os seus corredores dos criminosos sentenciados à morte às mãos do estado, por crimes de morte horrendos. Quando visitei Ellis Island – a porta de entrada para o Mayflower – pensei em tudo isto.

Este texto surgiu ontem numa conversa entre amigos de queixo caído, entre o a lamber do molho do arroz de grelos com filetes de corvina, e o espanto de quem não tem cavalos nesta corrida, nem apostam em nenhum dos males. Ou será que um mal é menos mau que outro. Não sei de nada, até porque o financiamento das guerras do lado de fora da América vem do lado de dentro da América. Ao seu velho estilo e imagem de marca emoldurado a cera.

A liberdade para negócios e morte, pode definir aquele país, na sua recente história de trezendos anos. O queixo mantém-se descaído no peito ao fazer a leitura pessoal sobre um imensamente rico e belíssimo país cujas “taras e manias” a nível mental (o gosto pelo crime), a compulsão sexual escondida e subjugada, fazendo desvios para a pedofilia e tantos outros crimes sexuais, a compulsão criminosa para o engano, são as perversidades onde assentam as suas fundações.

Deixam um amargo na boca por ver neles os maiores esqueletos a encher os armários americanos. Fui reler e buscar James Baldwin para deixar o que também ele pensa sobre a identidade da América. É a mesma perplexidade da qual sempre sofri.

Seja qual for o cavalo que ganhe, vai impor (por defeito) o mesmo passado gasto. A ideia de uma mulher e preta atrai-me. Se não estivesse com baias. A ver.

“It’s astounding to me, for example, that so many people really appear to believe that the country was founded by a band of heroes who wanted to be free. That happens not to be true. What happened was that some people left Europe because they couldn’t stay there any longer and had to go someplace else to make it. That’s all. They were hungry, they were poor, they were convicts. Those who were making it in England, for example, did not get on the Mayflower. That’s how the country was settled. Not by Gary Cooper. Yet we have a whole race of people, a whole republic, who believe the myths to the point where even today they select political representatives, as far as I can tell, by how closely they resemble Gary Cooper. Now this is dangerously infantile, and it shows in every level of national life.”

Anabela Ferreira

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *