Estou longe, porque também fui obrigada, pela purga a que nos forçaram, desde a imposta austera “crise” de 2008, altura em que os bancos passaram a ser os humanos a salvar, e, os humanos passaram a ser coisas a descartar e fazer falir, mas nunca me desligo da raiz que me coube em destino. a minha Ítaca, Portugal. Acompanho-lhe sempre o caminho como um artista desapegado e bem, acompanha uma obra sua: -quer-lhe saber para onde vai, por onde se aventura ir e quem a quer bem.
Alguns pensam que sou louca por não colocar um padrão de descobrimento e vida em lugar nenhum…
Em todos os que piso, semeio uma árvore, uma planta e celebro um descobrimento: mais um pouco de mim. Comigo carrego os que me tocam.
Porém, tenho um padrão e esse nunca me abandona: por ser mulher e ainda para mais, portuguesa, ninguém pode abusar, ninguém se atreve a passar o limite da decência quando comigo se confronta. Esses, como-os com prazer aos pequenos-almoços.
A minha bisavó escrava habita em mim. Pisaram-na mas não a dobraram. Eu, mantenho a tradição. De quebrar tradições e nunca me dobrar. Nem que isso me custe o preço de oferecer as costas às vergastadas amarrada a um poste.
Esperanço o dia que o sol vai brilhar, e eu me vou desamarrar e mais uma tradição quebrar.
A tradição foi feita para manter, se tiver na sua essência a bondade, a dignidade, se que respeitar a humanidade.
Todas as restantes são para quebrar em caso de incêndio. Por um lado qualquer se começa qualquer coisa.
Os homens e mulheres envolvidos na luta actual por um rumo diferente no país, por quebrar tradições, são os extintores.
São os homens que escrevem as suas histórias, que acrescentam tradições, sistemas políticos, económicos e sociais (escravatura foi tradição, apartheid foi tradição, racismo é tradição, o dinheiro é tradição, entre alguns exemplos).
São tempos, e, estamos sempre a tempo, de ter esperança, do verbo esperançar.
Dos navegadores portugueses, das sufragistas, dos escravos, dos colonizados, dos aventureiros que buscavam vida ao partirem na Companhia das Índias, dos refugiados de todas as guerras que fogem da morte ao encontro da vida, dos novos emigrantes (no caso concreto dos portugueses) todos se encontram com os Adamastores de serviço. Ou com os cínicos, os perversos, os oportunistas que Camões também escreveu. Os que quebraram tradições e dobraram Cabos violentos, foram nossos antepassados. Com muito medo fizeram-se à dobra e chegaram a novos oceanos. Desconheciam o que estava do outro lado, no entanto, nomearam a Esperança do verbo esperançar, como o vela orientadora.
Não sei o que estes homens e mulheres conseguirão fazer. Mas já começaram a mudar algo subtil. Se estão por bem, os ventos conduzi-los -ão a portos fecundos.
Quando temos medo da mudança, fugimos de nos confrontar com ela. Estes homens e mulheres, a partir do medo do desconhecido, abrem caminho à esperança. Abriram as velas e o vento dos tempos que estão a mudar empurram-nos.
A esperança do verbo esperançar começou a mostrar-se uma força, na acampada do Rossio há uns anos atrás. Jovens e jovens mais velhos que não se revêm neste sistema capitalista sem freio. Nem na política corrompida. Nem no sistema de representação obsoleto. Nem numa dívida que não se sabe se onde vem, como veio, porque existe, de quanto, e a quem.
Ali gritava-se: já não conseguem enganar todos.
Esta foi a semente da mudança. Eu estava lá e senti um orgulho profundo do meu país e da gente que me deu alma.
Hoje ao ter noticias da minha Ítaca volto a esse estado de espírito. Tenho esperança do verbo esperançar.
A esperança do verbo esperançar vem de Mário Sérgio Cortella um professor que me inspira há muitos anos.
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