Estou ASSUSTADO com tudo isto! (por Carlos Paz)

Carlos PazEstou muito, MUITO assustado com a forma como órgãos de informação tratam a realidade e abordam as notícias. Estou muito, MUITO assustado com o rumo que as coisas estão a tomar (e com a falta de intervenção de quem tem por obrigação: INFORMAR.

Três casos recentes que ilustram esta falta de intervenção:

– Tecnoforma; Livros de Economia; Encargos do BES.

1) TECNOFORMA:

 A) A História (contada pela Imprensa):

O Dr. Pedro Passos Coelho criou uma ONG que tinha por objetivo a captação de fundos comunitários para formação.

Tratava-se de uma “organização de fachada”, sem quadros ou competências próprias. Servia unicamente para ganhar acesso a fundos comunitários e subcontratar a Tecnoforma (onde, entre outros ilustres, pontificou o Dr. Marques Mendes) para desenvolver os projetos.

Através de um processo de contabilidade criativa a referida ONG e a Tecnoforma tinham despesas muito maiores que os fundos que captava (quer da União Europeia, quer dos organismos estatais, nomeadamente do tempo em que o Dr. Miguel Relvas era Secretário de Estado e contratava, ou “forçava” a contratação, dos serviços sem qualquer transparência ou regra de mercado).

O resultado final foi a falência da ONG e da Tecnoforma (com dívidas enormes à Banca, nomeadamente ao BES) e o enriquecimento ilícito de todos os envolvidos no processo.

Acontece que, durante uma parte do tempo em que dirigiu a referida ONG, o Dr. Pedro Passos Coelho era também Deputado na Assembleia da República.

Durante todo o seu tempo de Deputado, o Dr. Pedro Passos Coelho podia ter optado por um Subsídio de 10% do Ordenado de Deputado por estar em regime de exclusividade (não trabalhar em mais lado nenhum) ou, alternativamente, receber um SUBSÍDIO de 15% do Ordenado de Deputado, por ser Vice-Presidente da bancada parlamentar. Como o subsídio de “Vice-Presidente” (15%) era MAIOR do que o de “Exclusividade” (10%), o Dr. Pedro Passos Coelho optou (NATURALMENTE) pelo de Vice-Presidente.

Nesse mesmo período, o Dr. Pedro Passos Coelho dirigiu a referida ONG. Caso recebesse SALÁRIOS da ONG ou da Tecnoforma, não poderia receber o subsídio de exclusividade (que, de facto, não recebeu por este ser MENOR do que aquele que recebia).
Acontece que no final do seu mandato parlamentar o Dr. Pedro Passos Coelho requereu um Subsídio (OUTRO) de reinserção no mercado de trabalho, referindo, por escrito, que tinha direito ao mesmo por ter sido Deputado em “Exclusividade”.

Surgiu então uma denúncia à PGR (Procuradoria Geral da República) referindo que o Dr. Pedro Passos Coelho teria ESPOLIADO o Estado do referido subsídio (de exclusividade, na reinserção na sociedade) uma vez que seria mentira que estaria em exclusividade, por receber Salários da ONG (da Tecnoforma).

Foram então questionados os Serviços Administrativos da Assembleia da República. Estes serviços, dependentes do senhor Presidente do Conselho de Administração da AR, Dr. Couto dos Santos, responderam de imediato que o Dr. Pedro Passos Coelho não recebia o Subsídio de Exclusividade (10%) enquanto foi deputado. OMITIRAM que: I) não recebia o de 10% porque recebia outro de 15%; II) RECEBEU o subsídio de Exclusividade quando saiu do parlamento.

Admite-se que estes serviços, liderados pelo Dr. Couto dos Santos (que foi Ministro quando o Dr. Pedro Passos Coelho foi, fugazmente, Secretário de Estado e que é Presidente da Fomentinvest, empresa onde trabalhou o Dr. Pedro Passos Coelho antes de ascender à liderança do PSD) possam ter percebido mal o pedido de informação que lhes foi feito.

B) A reação (da Imprensa):

Um escândalo: “Capas de Jornais e Revistas”, “Artigos de Investigação”, “Aberturas de Telejornais”, “Artigos de Opinião, em Jornais, Revistas, Rádios e Televisões).

O tema escolhido pela Imprensa: O Dr. Pedro Passos Coelho teria MENTIDO ao Parlamento sobre a exclusividade e teria Espoliado o Estado ao receber indevidamente o referido subsídio.
Pior, mais grave, segundo a Imprensa: o Dr. Pedro Passos Coelho teria OMITIDO às Finanças os Salários recebidos da ONG (da Tecnoforma) e teria, desse modo, fugido às suas obrigações fiscais (NÃO PAGOU o IRS correspondente).

 C) A conclusão (do caso na Imprensa):

O Dr. Pedro Passos Coelho demonstrou que NÃO recebeu Salários da ONG (da Tecnoforma), tendo recebido o dinheiro através de artifícios contabilísticos (despesas de representação, cartões de crédito, reembolso de viagens, etc…). Por outras palavras: Não era Salário, eram PAGAMENTOS de saco azul, feitos “por debaixo da mesa”.
Como se tratavam de PAGAMENTOS (feitos “por fora”) e não de Salários, o Dr. Pedro Passos Coelho não era obrigado a declarar os valores para fins de IRS.

Neste contexto (o senhor não recebia Salários legalmente, mas sim pagamentos por fora) a Imprensa achou que a história assim já não valia a pena ser explorada. E acabou “tudo em bem”: se o senhor tivesse recebido Salários era um potencial Criminoso; como recebeu Pagamentos “está tudo bem”!

2) LIVROS DE ECONOMIA:

A) A História (contada pela Imprensa):

O Dr. Pedro Passos Coelho, em declarações às Televisões, afirmou que o conjunto de políticas económicas que foram implementadas (com os resultados desastrosos que se conhecem) são as recomendadas pelos “Livros de Economia”.

De acordo com o Dr. Pedro Passos Coelho: “quando não seguimos o que dizem os livros de economia, as coisas correm mal” (foi exatamente a frase proferida).

B) A reação (da Imprensa):

As declarações do Dr. Pedro Passos Coelho foram transmitidas pelas Televisões sem qualquer comentário.
Os Jornais Económicos (bem como os comentadores das rádios e das televisões) nada disseram sobre o assunto. Por outras palavras: acharam NATURAIS as declarações do senhor Dr. Pedro Passos Coelho.

C) A conclusão (do caso na Imprensa):

Acontece que, por cada Livro de Economia que afirma que a verdade é “A”, há pelo menos um segundo que afirma que a verdade é “B” (o contrário de “A”). Geralmente existe, quase sempre, um terceiro Livro de Economia, normalmente o mais SENSATO, que diz que em algumas circunstâncias a verdade é “A” e, noutras, é “B”.

Ou seja, o Dr. Pedro Passos Coelho, enquanto aluno na Lusíada da Dra. Maria Luís Albuquerque, leu SÓ um conjunto de Livros de Economia (os que afirmam que a verdade é “A”). Nunca leu NENHUM dos que afirmam que a verdade é “B” e, provavelmente, desconhece que existem outros, mais sensatos, que dizem que a verdade tanto pode ser “A” como “B”.
NADA disto foi referido pela Imprensa. NADA disto foi considerado relevante pela Imprensa. O facto de termos opções políticas encabrestadas por uma única linha de pensamento económico (a que prevalece na literatura sugerida pela Dra. Maria Luis Albuquerque enquanto professora de Economia), aparentemente é aceitável por Jornalistas, Comentadores, etc…

Seguimos alegremente de erro técnico em erro técnico até ao desastre final mas, uma vez mais, para a Imprensa: “acaba tudo em bem”!

3) ENCARGOS DO BES:

A) A História (contada pela Imprensa):

No processo da chamada “resolução do BES”, foram utilizados fundos públicos para evitar o colapso do Banco.

A esses fundos públicos foram adicionados fundos vindos da Banca Comercial. Uma parte significativa (cerca de 30%) destes fundos provêm da CGD (Caixa Geral de Depósitos) que é propriedade INTEGRAL do Estado.

Por outras palavras: ao dinheiro público foi somado dinheiro, chamado privado, mas do qual 30% é, também, dinheiro público.

O Banco resultante da resolução vai acabar por ser vendido com um enorme prejuízo em relação aos fundos injetados na operação.

O senhor Governador do BdP (Banco de Portugal), Dr. Carlos Costa é o PRINCIPAL responsável pelo descalabro da situação: I) por falta de supervisão até 2013; II) por inércia a partir do final de 2013, quando eram já conhecidos (e foram escondidos) os detalhes do problema por parte do BdP; III) por ter desenhado uma solução muito pouco clara e muito atabalhoada, que vai provocar um verdadeiro descalabro no sector financeiro (e que vai acabar por ser pago pela Economia Portuguesa, em geral, e pelo Estado, em particular).

Recordo que o Dr. Carlos Costa (escolhido pelo Governo Sócrates por pressão do PSD e da Presidência da República, depois do vergonhoso desempenho do BdP, liderado pelo Dr. Vitor Constâncio, no caso BPN, dos Drs. Oliveira e Costa e Dias Loureiro) antes de ser Governador do BdP era o responsável pela auditoria interna do BCP, no tempo dos desvarios da Administração do senhor Eng. Jardim Gonçalves (se, enquanto responsável pela auditoria interna não se apercebeu das trafulhices da Administração, então era incompetente e, como tal, NUNCA serviria para Governador do BdP; se, ao contrário, se apercebeu das trafulhices e nada fez, então foi cúmplice de um crime e, como tal, NUNCA serviria para Governador do BdP).

O senhor Dr. Carlos Costa, enquanto Governador do BdP, afirmou que a solução encontrada para o BES não teria custos para o Estado (e para os contribuintes).

Como tal situação parecia DEMASIADO estranha, alguns deputados inquiriram a senhora Dra. Maria Luis Albuquerque sobre o assunto, tendo esta reconhecido que afinal a solução VAI TER CUSTOS para os Portugueses, mais que não seja pelas PERDAS que terão de ser assumidas pela CGD.

Confundida com estas declarações CONTRADITÓRIAS, a Imprensa inquiriu sobre o tema o Dr. Pedro Passos Coelho que SUBSCREVEU a tese, correta, da sua antiga professora de Economia, a Dra. Maria Luís Albuquerque. E, naturalmente, a Imprensa fez eco destes esclarecimentos que DESMENTIAM o senhor Dr. Carlos Costa (que entretanto se calou sobre o assunto; sobre qualquer assunto).
Acontece que o senhor Prof. Aníbal Cavaco Silva, que depois de dizer, antes do ESTOURO, que o BES e o GES eram entidades da maior credibilidade, se tinha remetido ao silêncio sobre todo este assunto, resolveu, FINALMENTE, falar.

E, nas suas declarações DESMENTIU a Dra. Maria Luis Albuquerque e o o Dr. Pedro Passos Coelho, tendo-os apelidado de IGNORANTES por não perceberem o papel mercantil da CGD.

B) A reação (da Imprensa):

As declarações do Prof. Aníbal Cavaco Silva foram transmitidas pela Imprensa sem qualquer comentário em especial.

O facto do senhor Presidente da República achar que o senhor Primeiro Ministro e a senhora Ministra das Finanças são IGNORANTES não mereceu qualquer comentário da imprensa.

Pior, o facto do senhor Prof. Aníbal Cavaco Silva estar COMPLETAMENTE ERRADO nas suas afirmações, também não mereceu QUALQUER reação da Imprensa.

Recordo aqui que a DEMONSTRAÇÃO de IGNORÂNCIA por parte do Prof. Aníbal Cavaco Silva em matéria de Finanças Públicas é MUITO MAIS GRAVE do que o que parece. O senhor foi professor, exatamente de finanças públicas, e foram seus alunos grande parte dos principais decisores do País nos últimos 30 anos.

C) A conclusão (do caso na Imprensa):

NADA disto foi referido pela Imprensa. NADA disto foi considerado relevante pela Imprensa.

O facto de termos um Presidente IGNORANTE e que chama IGNORANTES ao Primeiro Ministro e à Ministra das Finanças, aparentemente NADA tem de relevo para a Imprensa.
Continuamos alegremente de ignorância em ignorância e de incompetência em incompetência até à destruição final do património público mas, uma vez mais, para a Imprensa: “acaba tudo em bem”!

Acabo como comecei: Estou ASSUSTADO com tudo isto!

Texto publicado por Carlos Paz na sua página do Facebook

Um comentário a “Estou ASSUSTADO com tudo isto! (por Carlos Paz)”

  1. Ana Horta diz:

    Também eu estou assustada tanto mais que já estou com uma aposentação de miséria e, a continuar assim, serei, ao fim de 44 anos de trabalho e de descontos obrigatórios, mais uma sem abrigo nas ruas de um qualquer lugar. A imprensa como sempre faz os jogos políticos. Informação nada.

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