A mulher é a força renovadora do mundo. É a energia libertadora do universo. Porque cria e transforma uma simples célula em vida. É fecundidade.
É um caso sério. Um caso leve. Um caso belo. Um caso digno. Um caso inteiro de distribuição de partes de si.
Com todos os julgamentos, todos os fardos que recaem nos nossos ombros fortes e em simultâneo vulneráveis, muitas não conseguem adaptar e conjugar as suas forças com as suas fragilidades.
Reunimos nas nossas células todos os dons e talentos. Todas as injúrias, violências, violações e segregações seculares. Reunimos em nós os sacrifícios de cuidar dos outros e de nós próprias, muitas vezes esquecendo “nós próprias”.
O feminino e o masculino que todos comportamos. Somos a mãe do homem. Somos luz e trazemos luz. Somos uma parte de igual valor do todo.
Como a água do rio em busca do oceano, contorna os obstáculos que encontra e, faz novos caminhos. Cumpre o seu papel.
Com o coração e a inteligência. A sensibilidade e o bom senso. E não criaremos musgo.
As larvas habitam o coração da mulher africana, transmutam-se em borboletas, e, alimentam-se do pólen dos seus corações.
Mereces tantas palavras de reconhecimento. És a verdadeira borboleta, com diferentes metamorfoses ao longo da vida.
São crianças mãe, são mulheres crianças, crianças mulheres. As crianças que envelhecem, as velhas que de meninas nunca deixam de o ser.
Carregas fardos pesados nas costas, fardos leves no ventre, fardos tristes na alma, fardos cansados na cabeça. Mas quase sempre fardos.
São o todo e o infinito em África. As mulheres em África.
Por causa delas, eles ficaram leves.
A vida torna-se pesada nas guerras, porque lhes deita o sangue na terra e este alimenta as sementes.
Mas os frutos foram e são ainda hoje e até hoje, tratados e colhidos por elas.
Por ela e com ela, África renasce cada dia, com o sol, e adormece com a lua. Incansável. E assim será. Até se encontrar com a mãe que lhe dá a luz.
És serena, paciente, doce, altruísta. Ainda hoje abusada, violentada, excisada. Mas leve, no ser. Sem ti, o continente estaria ferido de morte. Em agonia.
Serão sempre poucas as palavras, as homenagens e os carinhos que te podemos oferecer. És filha da vida, ofereces a vida, para o resto da vida.
Deste continente tão meu, esta mulher tão sábia que se empresta para voltar sempre, eternamente, a se encontrar. A nos encontrar. A dar a sua vida. A me ensinar a ser mulher.
De um homem que sabe transformar palavras, em amor,pelas mulheres:
“Sob o céu africano volto a ser mulher. Terra, vida, água são do meu sexo. O céu, não, o céu é masculino. Sinto que o céu me toca com todos os seus dedos.” (Mia Couto)
Sinto que hoje e sempre, sou composta no meu sexo, desta terra,desta água e tocada por este céu. Diariamente e para a eternidade, nunca quis ser de outro sexo,nem de mais nenhum outro continente, como tu, mulher africana.
Anabela Ferreira
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