Ide bardamerda! (por Anabela Ferreira)

retornados” Encheram o céu de bandeiras mas só há duas nações-a dos vivos e a dos mortos” Mia Couto

uma criança de oito anos a disparar uma espingarda

para matar quem o quer matar

uma criança de 6 anos a chorar paralisado

um queixo de um adulto que treme e precisa do amparo de uma mão

os morteiros, as balas caiem no jardim,

entram pela janela do quarto

denúncias nascidas de ódio

prisões aleatórias

portos cheios, barcos cobertos

aeroportos com o chão feito de corpos

cobertos de lágrimas, cobertos de poeira feito medo

só resta a dor, o terror,

o vazio

na minha casa, na casa ao lado

na alma de quem tudo perdeu

Este foi o cenário de quem viveu os dramas das guerras civis em Angola e Moçambique em 1974/75 de onde saíram milhões de refugiados de uma guerra que nasceu sem ser querida.

Portugal, pobrete e miserento, sem vontade e rancorosa, teve de receber esta gente sofrida, desamada e desarmada pelos seus países de origem.

Em 1998 na Guiné-Bissau repete-se o cenário. Gente e mais gente,foge da morte que incansável os busca.

De novo Portugal, menos miserento, menos pobrete mas de nariz franzido, acolheu.

Neste mundo com fronteiras e bandeiras criadas pelo homens que nada são de bem, por interesses sobre recursos, interesses geopolíticos, estratégicos, de poder e domínio, só temos uma obrigação como humanos: combater os que não o são e acolher quem precisa.

Ps:  Não esquecer que Portugal enquanto pode colonizou, explorou, sacou, pilhou, no mundo onde atracou. Hoje tem milhões de filhos que saíram em busca de vida porque se tornou ainda mais pobrete e miserento. Uma guerra sem armas.

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