Inocente… Not Guilty! (por Jacinto Furtado)

Carlos CruzO título do livro de Patrícia Lucas e Nicolas Bento é também o título deste meu último texto de 2013. Não apenas pelo título mas pelo conteúdo do livro, se fosse uma questão de título, embora nunca tenha sido um apreciador da obra de José Saramago pedia-lhe emprestado o “Ensaio sobre a cegueira”.

Inocente, not guilty retrata a história do Português Nicolas Bento, um Português a trabalhar em Inglaterra que em Dezembro de 2005 é confrontado com o desaparecimento da sua namorada, mais tarde é encontrada morta. Estão lançados os dados para uma asquerosa manobra de manipulação de factos e provas por parte da polícia Inglesa que ignora as opiniões dos peritos e vai “comprar” um perito aos Estados Unidos, perito que se suicidou quando foi desmascarado.

Enfim um rol inqualificável de situações que não podem acontecer, não pode a baixeza, a falta de carácter atirar para a prisão com um inocente. Não se pode destruir a vida das pessoas apenas porque sim, apenas porque se quer arranjar um bonito argumento para a vampiragem da comunicação social e para ofuscar o povinho.

O livro não é recente, foi lançado em 2010 mas é uma leitura que recomendo. É uma leitura duma simpática profilaxia,  ajuda a libertar a mente de ideias preconcebidas, ajuda a despertar nos que têm a mente sã a vontade de saber, de entender, de concluir pela própria cabeça e não por aquilo que querem impingir. Refiro que o livro é uma ajuda simpática para desbloquear vontades e pensamentos porque afinal trata de um”simples” suicídio que foi transformado em homicídio por policias sem escrúpulos, por procuradores que só podiam ser débeis mentais, por uma testemunha comprada e por um perito incompetente.

Nicolas Bento ao fim de mais de dois anos foi finalmente declarado inocente da pena de prisão perpétua a que tinha sido condenado. Foi declarado inocente porque teve sempre a seu lado a família, foi declarado inocente porque teve sempre amigos a acreditarem nele, foi declarado inocente porque encontrou um advogado que se recusou a alinhar pelo mesmo diapasão e lutou a seu lado e que quando os recursos financeiros já permitiam que recebesse honorários continuou a trabalhar probono, por fim o monstro caiu morto pelo peso da verdade.

Depois de ler Inocente, not guilty,  com especial destaque para o penúltimo parágrafo “Quantos Nicolas existirão? Quantos estão ainda privados da sua liberdade por causa de erros judiciais?” não me foi possível deixar de fazer comparações com um caso bem nosso conhecido. Não me é possível evitar que as últimas linhas que escrevo neste ano de 2013 sejam dedicadas a Carlos Cruz numa referência directa à coisa a que chamaram processo.

Policias com poucos escrúpulos, procuradores com problemas mentais, testemunhas pagas a peso de ouro, peritos de ouvir dizer e por parte dos juízes uma magnifica nova figura jurídica a que deram o nome de ressonância da verdade (ainda ninguém conseguiu descobrir que raio é isso). Uma coisa é certa, temos a mesma espécie de aldrabões mas mais preguiçosos. Os ingleses ainda se deram ao trabalho de falsificar provas, cá no burgo nem tal se tenta, basta pagar às testemunhas, basta inventar uma ressonância  e dar-lhe gás. Junta-se ao menu a imprensa vampiresca e está o pitéu feito.

Lembram-se de no inicio ter referido a vampiragem da comunicação social? Volto ao tema apenas para chamar a vossa atenção para o facto de que a prisão, julgamento e condenação de Nicolas Bento teve ampla  e orgasmica cobertura de todos os desenvolvimentos, reais e, imaginem que coisa estranha, inventados. No entanto os poucos que escreveram sobre a vigarice da Justiça Inglesa fizeram-no de forma dissimulada, quase ao nível das páginas de necrologia ou dos editais.

Menciono o nome de Carlos Cruz por ser dos presos deste processo o que mais “acompanhei” nas várias fases do processo. Não tenho dúvidas da sua inocência, não tenho dúvidas da forma manipulada como todo este processo foi fabricado. Quem tiver dúvidas pode sempre fazer um simples exercício, leiam. Leiam o processo e toda a informação que sobre ele está disponível e depois tirem as vossas próprias conclusões. Não permitam que os outros vos digam o que devem pensar.

Carlos Cruz diz não desejar mal aos que mentiram e aos que o colocaram nesta situação. Eu, a esses exemplares duma estranha sub-espécie humana, desejo que hoje, pelas 23h59 quando estiverem a comer as passas se engasguem de forma permanente.

Poucos dias antes de se apresentar na Carregueira, no último SMS que trocámos Carlos Cruz terminou com um singelo “… Até à vitória final!”. Esse tem de ser o espírito, essa tem de ser a convicção, esse tem de ser o resultado.

Embora cada vez menos credível temos de acreditar que “A justiça tarda mas não falha”, mais que acreditar, temos de fazer acontecer.

Um abraço Carlos que 2014 seja o ano da verdade e da justiça… Até já!

 

2 comentários a “Inocente… Not Guilty! (por Jacinto Furtado)”

  1. 1, 2, 3... Diga lá outra vez! diz:

    Ah, eu diria mais: A luta continua, a Vitória é certa!

  2. 1, 2, 3... Diga lá outra vez! diz:

    Também eu creio que a “Justiça tarda mas não falha”. E quando ela acontecer, o estardalhaço vai ser tão grande, mas tão grande, que não sei o que acontecerá. Portugal vai afundar de vez na lama da vergonha. Vão haver grandes contas por saldar por TUDO o que lhe fizeram, quando só era preciso terem procurado a verdade e nada mais que isso. Nada nunca o vai compensar pelos anos perdidos, pela familia destruida, pela vida profissional completamente arrasada. Nem vendendo Portugal inteiro!

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