As sondagens publicadas configuram o que me parece serem meros palpites de conveniência, ou contas «a vol d’oiseau» … Além duma imprensa manipuladora e rasca, a ultradireita dispõe também dos favores dos empresários das sondagens sem escrúpulos. E toda esta corja beneficiada com dinheiro público, age e protege-se como uma irmandade !
De facto, o que estamos a assistir é a uma descarada aldrabice e desonestidade somadas, com estas sondagens encomendadas pelo militante nº 1 do PSD, Pinto Balsemão, dono do Expresso/SIC, cujos resultados são: PS 35,5%, Coligação PSD/CDS 34%, CDU 10,3% e Bloco 5,2%. E o caricato é que exactamente no mesmo dia — 18 de Setembro, uma outra sondagem da responsabilidade dos opusdeístas que controlam a Universidade Católica (e provavelmente realizada em Marte), fornece um resultado grosseiro, absolutamente oposto e longínquo da publicada no Expresso: Coligação PSD/CDS soma 41%, PS 34% e o Bloco à frente da CDU, e com 32% de indecisos. Sim, é para gargalhar à fartazana. E isto significa o quê? Significa tão só que as sondagens são para isso mesmo, i.é., intoxicar, lançar a confusão e manipular os eleitores mas, na hora H, «o povo é quem mais ordena» e, ainda bem.
O Expresso online prometeu para mais tarde uma explicação sobre a distribuição de mandatos alegadamente resultantes da sua sondagem ontem publicada. Mas não preciso de esperar por ela para escrever o que se segue.
Com efeito, desde há vários anos que escrevo contra esta «técnica» de, com base numa amostra nacional, deduzir dos resultados em % e deputados eleitos em cada um dos 22 círculos eleitorais.
O ponto principal (que me separa do Expresso e da Eurosondagem) é que eu considero que uma amostra nacional de 1510 inquiridos estará muito bem para os resultados globais em percentagem mas, a distribuição dessa amostra pelos 22 círculos conduz a amostras distritais clamorosamente insuficientes e, portanto, sem qualquer fiabilidade. Vejamos em concreto esta sondagem : o Expresso declara que foram ouvidas 1510 pessoas — e eu até deixo de parte o abatimento que devia ser feito das 302 que aos quesitos disseram nada, népia, nicles e que portanto não contam para nada.
E a ficha técnica fornecida pelo Expresso (ver abaixo) sobre esta sondagem anterior diz-nos por exemplo que na Área Metropolitana de Lisboa (atenção, são os distritos de Lisboa e Setúbal) foram ouvidas 410 pessoas e que, no «Sul» (distritos de Portalegre, Beja, Évora e Faro) foram ouvidas umas espantosas 147 pessoas. Ora, dividam-se estas 147 pessoas por estes quatro distritos e constatamos quantos pessoas foram então realmente ouvidas em cada um deles: 36,7 por cada distrito!
E, um pouco por caridade, até acrescento que estamos a tratar de distritos e que, em eleições autárquicas, nenhuma empresa séria de sondagens se arriscaria a fazer uma sondagem concelhia com base numa amostra de 30, 50 ou 60 pessoas. E prever os resultados no distritos de Setúbal ou Lisboa com base numa amostra para aí de 200 pessoas em cada um, também me parece não ser apenas uma aventura arriscada, mas também extraordinariamente enganadora e desonesta.
Para quando a proibição da publicação de sondagens aldrabadas? A associação directores de jornais/Coligação de Direita é asfixia democrática, mas a coligação directores de jornais/sondagens publicadas já cai no domínio da fraude eleitoral e do roubo de votos.
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