Só se pode sair limpo quando a entrada não foi suja. Ninguém mergulha no lodo para sair de lá limpinho. A não ser, talvez, Cavaco Silva, que na “saída limpa” ganha mais 2200 euros de reforma do que ganhava antes. Ou para a Assunção Esteves, que como é mais nova, teve apenas direito a um aumento de 850 paus…
O total do crédito oferecido a Portugal no âmbito do programa de assistência da “troika” é 78 mil milhões de euros. Deste valor, quase metade, 34,4 mil milhões são para pagar juros e comissões à “troika”, designação usada para o conjunto de entidades compostas por Fundos europeus e pelo Fundo Monetário Internacional. As taxas de juro do empréstimo serão, inicialmente, de 3,25 %, mas são “taxas flexíveis”… Flexíveis para o mau, ou seja, a partir do 4º ano são de 4,25%.
O FMI só “contribuiu” com 28 mil milhões, com uma maturidade média de sete anos e três meses. O restante “contributo” da U.E. é dado através do Fundo Europeu de Estabilização Financeira (FEEF) e do Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEE), com uma maturidade (duração) média de 12 anos.
O que eu pergunto é se um “bom pai de família” iria contrair um empréstimo para pagar outros, sendo que metade desse empréstimo servirá para pagar os juros deste último… Evidentemente que não.
Pior, ainda, é perceber que daqui a 4 anos estaremos a braços com a necessidade de pagar uma dívida, que só poderá ser saldada contraindo um empréstimo para pagar este empréstimo que serviu para pagar os outros empréstimos.
E assim se compreende o que ( e sem o querer defender…) Sócrates queria dizer quando afirmou que o PEC IV, que já tinha sido aprovado pela U.E. quando Cavaco silva forçou a queda de um governo democraticamente eleito, era notoriamente mais favorável do que “isto”.
Já que falámos da entrada suja, falemos agora da “saída limpa. Portugal terminará o programa de assistência financeira daqui acerca de duas semanas, regressando sozinho aos mercados financeiros. É nisto, basicamente, que consiste a tal da “saída limpa”. Mais ou menos limpa. Porque, durante o seu discurso, Passos Coelho deixou bem claro que a escolha tem o apoio dos parceiros europeus e que Portugal poderá “contar com eles nesta nova fase”. E assim, à cautela, “em caso de necessidade futura o programa cautelar continuará disponível”. Pelos vistos Portugal tinha o futuro do Euro na mão e não soube aproveitar o “trunfo”.
A única coisa que agora importa é que até a diminuição do número de desempregados inscritos nos centros de emprego, causada pela emigração e pela saturação de quem desistiu de procurar emprego, são para esta “gente” sinais da vitória certa e de que a coisa entrou nos carris… E o pior de tudo é que os problemas do país estão todos por resolver. O colapso do sistema de reformas está longe de estar resolvido, a reforma administrativa está por fazer, a reforma da justiça é uma catástrofe que o cidadão comum não consegue sequer imaginar.
Não pode haver saída limpa para o que foi uma asneira absoluta.
Sujo, mais sujo, não podia ser.
Nem a entrada, nem a saída.
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