Mesmo Frida jamais me Khalo

Celebro o dia da mulher no dia que eu quiser.

Ter uma vagina é há séculos sinónimo de viver acima das possibilidades. 

Quem tem pénis afinal decide e julga quem podemos ser, o que queremos e podemos fazer, o que devemos escolher, quanto devemos ganhar ou se somos capazes de fazer trabalhos muito complicados. No entanto fazemo-los desde sempre. Cientistas, escritoras, arquitectas, engenheiras, investigadoras, mães, professoras, médicas, cuidadoras. Basta escolher.

Também são os pénis a decidir se podemos abortar,  se devemos aceitar a maternidade mesmo quando vítimas de violação, se queremos ter filhos, se devemos ter planeamento familiar. 

Se podemos ser solteiras e inteligentes, se podemos ser sensíveis e poderosas, se podemos ser gordas e feias, ou magras e feias, ou lindas e inteligentes, sem sermos julgadas em permanência. 

Se formos feministas ferrenhas (vulgo feminazis como um adepto dos No Name) é porque somos lambedoras de outras vaginas e odiamos pénis. Um adepto dos No Name será apenas um ardente defensor do Benfica e bom chefe de família de quem todos nos orgulhamos. A vagina será sempre uma histérica maluca.

Ainda continua a ser uma festa para o macho – aqueles que fazem questão de não perder esse poder – ter poder sobre as escolhas das fêmeas.

No entanto, apesar deles, nós elas, somos tudo. 

Quem julga e decide por quem tem vagina esquece esse pequeno defeito associado às ditas. Somos tudo. Incluindo bruxas. Malvadas. Maquiavélicas. Narcisistas. Cruélas. Manipuladoras. Doces, maternais. Cuidadoras. Carregamos nas costas os homens e as crianças no colo. Damos tudo sem pensar. Matamos por desespero e cansaço. Somo tripolares. Temos várias cores e formas. Temos uma beleza que até o céu inveja. Somos uma alegria para os olhos e para os sentidos. 

Quem me ensinou a ser uma vagina orgulhosa foi um homem. O meu avô. Um feminazi, heterossexual, que não gostava de futebol. Um anti-machonazi.

Também foi ele que me ensinou a olhar para a Igreja – fonte machonazi do patriarcado e misoginia que em tantos séculos sublimou todo o poder feminino – com olhos críticos. 

“Observa, lê, ouve, pensa e percebe” era o seu lema. 

Homens travestidos de mulheres, com um livro de contos de guerra e poder entre homens, escondem a sua verdadeira vocação na igreja – um armário seguro que é, para passarem despercebidos e viverem sem medo, antes de mais um armário “non woman friendly”– doutrinando para humilhar, diminuir e controlar o poder do papel da mulher. Foi com o dogma da religião destes homens que tudo começou a correr mal. 

Pobre Maria Madalena que para a história é lembrada apenas como prostituta. 

Não tivesse a igreja castrado violentamente e visto o sexo como pecado e, tudo seria diferente para as mulheres. Talvez aqui resida também um dos motivos da violência doméstica. 

Das mães que educam os seus filhos homens para que um dia batam e violentem as suas mulheres. Ou queiram escolher as mulheres que devem ser as suas criadas e concubinas.

São complacentes e coniventes com a cultura, tradição e papel de domínio que a igreja (de novo) composta de homens e para homens tem nas suas vidas. 

Pénis com medo de vaginas ouçam-me. Cada dia da minha vida é dia de vos dizer que ter vagina é aceitar as vossas condições e naturalmente vos obedecer. Seremos passivas e obedientes. Seremos frágeis e complacentes. Comeremos e calaremos. Se quiserem até nos oferecemos para ir parar de novo à fogueira. 

Peço desculpa, enganei-me. Risquem da acta o que escrevi acima. 

Hoje e em cada dia é dia de combater a religião que nos sufoca e castra, o machismo, o patriarcado que julga, impõe, viola, abusa, mata e que não aceita a mulher como ser seu igual. Hoje nasceu o dia para ensinar a mulher a não se submeter mais fora do seu papel complexo, vital e activo na vida de todos.

É que se nós pararmos o mundo pára! E vós machos nem sequer chegam a nascer. 

Hoje e em cada dia é dia de dizer, viva a mulher. Aos que não gostarem ide-vos foder! 

Anabela Ferreira

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