Nada é mais difícil do que reeducar um povo (por Claudio Lopes)

10881485_10204460895655555_4924513316876632516_nA manipulação do povo está tão vergonhosamente avançada que as coisas são feitas cada vez mais à descarada. No geral, as pessoas já não param para pensar, para questionar. E quando não se questiona, coloca-se em causa a própria evolução. Foi o questionar, a curiosidade, o querer saber mais, o inconformismo, que nos trouxe até onde estamos – seja lá onde quer que estejamos. O indivíduo que deixa de fazer perguntas é um indivíduo que cometeu suicídio, ainda que a morte seja lenta. Somos bem mais do que este monte de carne a quem não é permitido escolher a data em que nasce nem a data em que expira. Se aos assuntos do espírito nenhum tempo dedicarmos, a vida tornar-se-á um fardo provavelmente mais pesado do que já era suposto ser…

É extremamente urgente que se perceba que muitas das coisas que são vistas como verdades, como factos, talvez não o sejam. O facto de serem repetidas ao longo de décadas, séculos ou mesmo milénios não as faz serem indiscutivelmente verdadeiras; O facto de uma lenga-lenga ser repetida pela maioria das pessoas não a torna verdadeira; E por fim mas não menos importante – o facto de ser cuspida pelo telejornal das 8 da noite não a torna uma verdade universal.

Quantos de nós demos ao telejornal o poder de ser algo sagrado na nossa vida? Quantos de nós sintoniza a caixa da magia há muito desvanecida, à hora do jantar, para religiosamente ouvir o que o amigável estranho nos diz acerca do mundo? Muitos dirão que gostam de estar informados, de saber o que se passa diariamente no mundo. O que vos leva a pensar que a verdade virá da mesma fonte que vos vende veneno nos intervalos? Já se questionaram de onde vêm as notícias? Pesquisem e perceberão que todas vos são dadas por “meia dúzia” de fontes muito pouco imparciais. E depois – e talvez ainda mais importante – como podem vocês permitir que vos mostrem horrores tais como corpos despedaçados vítimas de acidentes de avião enquanto vocês jantam em família?! Como conseguem vocês permitir que um suposto terrorista corte a cabeça a um outro ser humano em pleno horário nobre enquanto os vossos filhos jantam? Como é possível pactuar com tamanha violência gratuita? Quando passaram a achar isso normal? Porque raios vocês pararam de questionar?

A extrema violência que vos entra pelas casas adentro tem dois objectivos indissociáveis:

1) O ser humano, face à violência a que é exposto é assolado por sentimentos negativos. Os anúncios publicitários que se seguem terão bastante mais chances de ter sucesso, pois o potencial cliente terá mais tendência para comprar os produtos apresentados num género de remorso comercial. As mensagens subliminares (…) há muito foram proibidas, mas engane-se quem pense que a publicidade de hoje em dia é eticamente correcta. Vale tudo, mais do que nunca.

2) Quando exposto a violência constante, o indivíduo vai-se tornando cada vez mais insensível ao sofrimento alheio. A dessensibilização é a arma mais vil que tem vindo a ser usada pelo capitalismo. Quando a violência gratuita do evangelizador telejornal te afecta, poderás tentar aliviar a tua consciência pesada ao comprar o que eles te “propuseram”. Ao mesmo tempo, quando a violência gratuita começa a fazer parte do teu ser, quando começa a ser banal ver corpos despedaçados, humanos a deceparem outros, sangue a jorrar como se de um filme se tratasse, tu irás tornar-te mais frio e irás dar menos valor à vida – humana ou não humana – e assim, poderás comprar algo eticamente discutível, sem os mínimos remorsos.

Não acham que o telejornal deveria ter a famosa bolinha vermelha no canto superior direito?

Falo do telejornal, pois é sem dúvida o mais eficaz método de propaganda da sociedade actual, mas seria tolo pensar que na internet já conseguimos a “verdade”! De facto, a internet poderá ter mais fontes disponíveis, mais variedade – desde canais oficiais a blogs de desconhecidos mas capazes há de tudo um pouco – mas é importante que se saiba que a manipulação dos suspeitos do costume chega a todos e a todo o lado. Um exemplo rápido e simples: eu escrevo neste momento no meu google “manipulação” e tu, no teu canto longe de mim, fazes o mesmo. Sabias que vamos ter resultados diferentes? O google vai levar em conta os teus dados de navegação, as tuas preferências, o teu histórico e sabe-se lá mais o quê…

Assim sendo, o importante a perceber é que a verdade nunca será algo absoluto mas sim algo sempre relativo, dependente de quem, onde, quando, porquê e para que vê/ouve/escreve. A necessidade de saber mais é natural e recomenda-se, mas existe uma sôfrega necessidade de conhecimento acerca de acontecimentos tão efémeros e superficiais como os que nos são mostrados em telixornais. Uma vida inteira não chegará para saber tudo de tudo mas isso não nos deve impedir de QUESTIONAR! Existem muitos exemplos para os quais não precisamos de ter provas para perceber que algo está mal. Nós temos a resposta dentro de nós, mas ela só surge se fizermos as perguntas.

A manipulação é tão grande, está tão bem instalada nas sociedades de informação por aqueles que nos querem explorar, que até para aqueles que estão mais atentos se torna difícil discernir a verdade. Existe, no entanto, algo que deveria ser o mínimo: nunca deveríamos fechar os olhos à informação disponível, às discussões com amigos e até com estranhos. Existe uma frase que roda pela internet que tem a sua validade: “Na era da informação, ignorância é uma escolha”. Isto é verdade. Até podes não encontrar a resposta que procuras, a certeza que queres ter, mas o simples facto de questionares, de pesquisares, fará crescer-te como pessoa. A cada nova aprendizagem, novos neurónios se unem e fazem novas sinapses (ligações entre os neurónios).

Eu nunca paro de me surpreender quando alguém vem argumentar sobre um assunto qualquer, munido de um cliché antigo e que quando confrontado com oposição – “isso é um cliché, não é verdade”, reaja com estupidez e – mais grave – se recuse a tirar algum tempo para se informar. É como se vivêssemos numa época em que o que importa é que a nossa opinião vingue, mesmo que os factos demonstrem algo totalmente oposto. Utilizam-se subterfúgios, argumentos laterais para fugir a questões centrais.

Livremo-nos das vicissitudes do ego. Não há vergonha alguma em mudar de opinião. Aliás, é uma estupidez ser agarrado a ideias, a conceitos, regras, sendo nós criaturas mutáveis vivendo nós num mundo que se transforma dia a dia. Cria espaço para a dúvida.Não te prives do conhecimento. Não te prives de fazer perguntas. Tenta saber o mais que podes, analisa, raciocina, e se achares por bem, AGE!

ACORDA!

LIBERTA-TE!

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