No dia 12 de Agosto, o Jornal “I”, fez uso do resultado dos censos com o titulo “Portugal a caminho da extinção”. Anuncia assim, de forma apocalíptica, a irresponsabilidade de uma juventude que, como tem sido noticiado nos últimos anos, é egoísta, prepotente, preterindo a continuidade da espécie em prol de conforto e tempo para consumo próprio.
Aparenta haver um conhecimento seletivo da parte dos responsáveis editoriais.
Por um lado, esquecem a implosão da precaridade no mundo do trabalho, a falta de apoio à natalidade, o preço da educação dos petizes, a dificuldade crescente das jovens famílias em arrendar ou adquirir casa própria e tantas outras celeumas que servem de gordas quando interessa vender jornais!
Por outro, perpetua estigmas: que nos podemos tornar imortais na carne da descendência; que nos devemos precaver da velhice e solidão impondo a culpa a quem tenha a obrigação de nos cuidar (ao invés de criarmos redes sociais de proteção que, de facto, sirvam o cidadão e não as instituições e quem nelas mandam); que quem não parir ou contribuir para o crescimento de natalidade está a ser conivente com a desgraça da segurança social e, por isso mesmo, é menos merecedor da proteção estatal… Tudo isto são ideias sub-reptícias de um discurso macroeconómico manipulativo cuja menor preocupação é o bem-estar de cada um de nós.
Na realidade, dependendo da saúde económica de cada país, este paradigma discursivo vai-se alterando. Sendo certo que, quando o que se pretende é vender jornais com a questão climática, evita-se o óbvio: somos muitos, somos cada vez mais, somos demasiados para recursos que não esticam. Ou seja, nesse campo, apesar de haver muitos casais jovens que se veem constrangidos a não formar família nuclear porque não lhes são dadas as devidas condições para isso há, cada vez mais, quem pense que essa não é a melhor opção. Assim, vemos famílias com um único rebento ou até nenhum… A juntar a esta questão podíamos e devíamos querer saber porque é que há instituições onde uma criança de 5 anos entra, saindo aos 18 e nos afirma que nunca viu ninguém ser adoptado! Porque os obstáculos burocráticos são imensos… Porque há interesses obscuros que tornam mais apelativa a institucionalização como dogma, porque é enfática a pressão para manter tudo como é, como está e como sempre foi.
Ao que parece somos capazes de racionalizar a necessidade de proteger recém-nascidos e jovens de outras espécies, mas negamos a inevitável discussão que a raça humana deve colocar em cima da mesa!
Haverá quem não queira entender o que vou dizer em seguida, julgando que comparo, mas, o que pretendo é que tentemos o paralelismo da necessidade de quem está desprotegido e ao abandono, necessitando de uma família e a reflexão do porquê desta insistência dos governos nos comandarem o núcleo familiar sem o garante de que os nossos filhos venham a ter condições para uma vida próspera, saudável, segura e feliz! Porque nos compadecemos e aceitamos campanhas de adoção exigindo que se acabe com os animais abandonados, restringindo a criação de cães e gatos, por exemplo mas aceitamos a perpetuação desta situação com os humanos? Estamos dispostos a fabricar massa biológica que sirva de força de trabalho e de consumo sem retaliar? Sem o garante de que as nossas gentes venham a ser mais que números?
Afinal, não compre adote, não causa pruridos… Mas fabricar crianças parece continuar a ser uma obrigação.
Rita Maia
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