Não há croquetes grátis!

Ora bem, já todos estão a pensar que, com este título, o texto que se segue será sobre a mais recente polémica nacional, como todos sabemos, não é o número de famílias em enorme dificuldade, não é o crescente número de sem abrigo que, a cada dia que passa, povoam as ruas das nossas cidades. Nem tão pouco será o estado de convulsão social que vamos vivendo e permitindo que aumente.

A polémica nacional do momento é a expulsão de Sónia Tavares da Tenda VIP do Rock In Rio. A moça dos The Gift achou que era tudo um gift da organização, embora as regras de acesso/consumo na referida tenda tivessem sido informadas pela organização que, acrescente-se, tinha outros espaços destinados ao consumo de quem estava a “trabalhar”. Claro que a moça que já actuou há uma década e tal no Rock in Rio, como a própria explica num vídeo que publicou nas redes sociais enquanto sorvia água dum copo e chamava “pessoinhas”, com ar meio alucinado, a quem a estava a ver e ainda lhe vai dando atenção, achava-se VIP e não “trabalhadora” e toca de se agarrar à bela da imperial. Nunca deve ter ouvido dizer que “se trabalhar não beba” ou então defenderá a teoria que artista bom é aquele que sobe a palco com uma bezana.

Foi expulsa pela organização. Muito bem, quem não sabe estar, quem não sabe cumprir as regras predefinidas só tem um caminho, o olho da rua. Nem há que perder mais tempo e dar destaque a quem, aparentemente, o que quer é recuperar alguma visibilidade. Para terminar este assunto uma nota, houve mais quem tivesse sido expulso pelas mesmas razões e, certamente entendendo que prevaricou, teve o necessário recato para não andar a criar ruído.

Chegados aqui já devem ter entendido que os croquetes do título nada têm a ver com futilidades e banalidades.

Vamos antes abordar um tema deveras preocupante, a manipulação, à margem da lei, por parte de certos actores judiciários da vida em Portugal. Há muito que não subsistem dúvidas que existem certos sectores da justiça, das forças de segurança e militares, infiltrados por elementos duma saudosista extrema-direita.

Ontem assistimos a mais um triste espectáculo de manipulação da opinião pública nacional e, neste caso específico, internacional, uma vez mais com o alto patrocínio duma determinada comunicação social.

Onde andará a Sra. Procuradora Geral da República que ainda não abriu um inquérito de averiguação interno para descobrir e punir quem, grosseiramente, viola o segredo de justiça? Não há muito por onde procurar. O número de pessoas que têm acesso aos processos em segredo de justiça é limitado, juiz, procuradores, funcionários e, parcialmente, o órgão de polícia que criminal. Estará entre estes o criminoso que cometeu o crime de violação do segredo de justiça.

Eventualmente não lhe interessará averiguar porque a selectiva e temporalmente localizada fuga servirá os interesses da infiltrada e controladora extrema-direita. No dia em que se ia realizar um importante jantar entre os lideres europeus onde um dos temas em agenda seria a eventual nomeação de António Costa como Presidente do Conselho Europeu, nomeação essa que merece o apoio de todo o espectro politico nacional, excepção feita para os fascistas do costume eis que, do nada, começam a aparecer fugas atrás de fugas, tretas sem qualquer significado mas o suficiente para reatear o fogo da pública fogueira inquisitória.

Houve um ministro que falou com um tio sobre um concurso público, mas esse tio nem sequer fez parte da lista de entidades concorrentes ao tal concurso. Crime pois claro.

Houve um ministro que ouviu o seu Pai dizer que uma entidade teria combinado com a PSP a data dumas buscas. Crime pois claro, ainda por cima combinar com a PSP buscas que na realidade seriam efectuadas pela AT e que, já agora, não dependem do OPC mas sim do MP.

Fotografias de envelopes de dinheiro, alegadamente tiradas no gabinete de Vitor Escária com a cereja informativa no topo do bolo, um dos envelopes estaria numa estante que tinha uma foto de António Costa. Crime pois claro, não sei se o facto de um cidadão ter dinheiro no gabinete se o facto de ter o tremendo mau gosto de ter uma foto dum tipo feio na estante.

Escutas, durante anos, a governantes que vão sendo revalidadas por juízes de instrução não porque tenham algo a ver com a matéria em investigação, mas sim porque subsiste a esperança de que “um dia o gajo vai confessar que passou um sinal vermelho em excesso de velocidade”.

Esta é a justiça infiltrada e em roda livre que temos e, enquanto formos permitindo que assim seja mais próximo estaremos que nos venha a acontecer o que sabiamente terá escrito Martin Niemöller.

Primeiro, os nazis vieram buscar os comunistas, mas, como eu não era comunista, calei-me. Depois, vieram buscar os judeus, mas, como eu não era judeu, não protestei. Então, vieram buscar os sindicalistas, mas, como eu não era sindicalista, calei-me. Então, eles vieram buscar os católicos e, como eu era protestante, calei-me. Então, quando vieram buscar-me… Já não restava ninguém para protestar

Não há croquetes grátis e estas borlas que vamos dando à extrema-direita, divertindo a populaça estilo coliseu romano vão sair-nos muito caras se não pusermos de imediato e de forma determinante um travão a tudo isto.

Jacinto Furtado

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