Pinto da Costa foi visitar hoje José Sócrates à cadeia de Évora, onde se encontra detido em prisão preventiva. Fê-lo a título pessoal, usando um direito que lhe assiste, e fez questão que o sublinhar várias vezes perante o pelotão de jornalistas que o aguardavam, à entrada do estabelecimento prisional.
Pinto da Costa é uma figura pública de relevo. Concita amores e ódios, é polémico, e é normalmente certeiro nos comentários que faz no espaço público, goste-se dele ou não, fale de futebol, de sardinha assada, do Futebol Clube do Porto, ou das marchas de S. João.
Nesse papel, sabia perfeitamente, à partida, que a sua visita não iria reunir o consenso que é normal os seus atos e declarações reunirem entre os adeptos do FCP. Sabia-o, mas ainda assim teve a coragem de fazer aquilo que a sua consciência lhe ditou como justo: visitar um amigo numa situação difícil, visitar alguém que até não é portista, pois ao que consta, José Sócrates é um reconhecido adepto do Benfica. Por isso, honra lhe seja feita, por colocar a amizade acima do clubismo e de arrostar com as consequências e críticas de muitos indefetíveis adeptos do clube que dirige há décadas.
O que Pinto da Costa não sabia, é que o seu ato pudesse vir a ser alvo de crítica, e atacado em plena Assembleia da República, por esse iluminado deputado do PSD que dá pelo nome de Carlos Abreu Amorim. Amorim deu nota do seu desconforto, na qualidade de portista, e veio dizer que o Presidente do FCP tinha cometido um ato de inquestionável significado político, que só podia reprovar, e qualificou-o como a segunda derrota da semana, depois do desaire futebolístico do FCP, no domingo último.
Amorim ultrapassou todos os limites do bom senso. Do seu ponto de vista, Pinto da Costa, sendo Presidente do FCP, e por o ser, tem os seus direitos pessoais e de cidadania cerceados, e não tem o direito de ter os amigos que quiser e de estar com eles quando lhe aprouver.
Eu até compreendo o iluminado Amorim. A visita de Pinto da Costa não ajuda nada na campanha que ele e os seus apaniguados de partido, mancomunados com uma Justiça seletiva e ínvia na sua atuação, estão a conduzir na comunicação social para julgar Sócrates na praça pública, condenando-o antes de qualquer julgamento limpo e justo.
Para Amorim, os valores da amizade e da solidariedade devem ser sempre subordinados ao cálculo político e ao benefício imediato e egoísta. Foi sempre assim que ele, o Amorim, agiu. Vejamos:
Amorim iniciou-se bem lá para a as bandas da direita mais à direita, na Nova Democracia de Manuel Monteiro. E foi-se deslocando, com inegável jeito e eficaz sentido de oportunismo, na direção do PSD, a cuja ideologia liberal se colou no exato momento em que o PSD estava em condições de chegar ao poder. Antes disso, quando as SCUT’s marcaram a agenda política do PSD na oposição, insultou os nortenhos que não o acompanharam nos seus histéricos incitamentos contra as imposições de pagamento, chegando a insultá-los com o epíteto de “carneirada”. Mas, mal chegou ao poder, Carlos Amorim transformou-se, de imediato, num vulgar membro da dita “carneirada”, aderindo, sem qualquer pudor ou tentativa de resistência, à implantação dos referidos pagamentos por tudo o que é sítio, mesmo onde não existam percursos alternativos dignos dessa designação!
É este o retrato de Amorim. Não tem estatura cívica, nem grandeza ética, nem princípios políticos que se vejam e que estejam para lá do mero tacticismo de ocasião. É mau, mesmo. Mau entre os piores.
Por isso Amorim, sobre os comentários que teceu sobre a visita de Pinto da Costa, só quero dizer-lhe o seguinte: você não está à altura do clube que diz que é o seu nem do Presidente que o dirige. Desfilie-se do FCP que é azul e crie um clube alaranjado.
Por mim, entre o Amorim de Gaia e o Costa do Porto, mesmo sendo eu do Benfica, prefiro Pinto da Costa.
E Amorim por Amorim prefiro o da cortiça. Pode ser que um dia destes, também ele vá visitar José Sócrates. Quem sabe?!
(*) Nota da Redacção: Estátua de Sal é pseudónimo dum professor universitário devidamente reconhecido pelo Noticias Online.
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