Há algum tempo um Amigo meu comentava recorrentemente que os trambiqueiros, entenda-se por trambiqueiros os chamados criminosos de colarinho branco, só eram apanhados quando e porque se começavam a sentir indestrutíveis, quando e porque não sabiam parar com a “actividade de sucesso”, quando e porque começavam a ficar pouco atentos aos pormenores, aos detalhes e, lá está, nos pormenores é que está o Diabo.
Ricardo Salgado e Zeinal Bava, na fase de inquérito do conhecido como Processo Marquês contrariaram a teoria do Ministério Público afirmando que as transferências feitas por Salgado para uma offshore controlada por Bava não eram corrupção coisa nenhuma, eram simplesmente um processo negocial, uma estratégia para dotar Bava de verbas que lhe permitissem comprar acções blá blá blá. Além do mais essas transferências milionárias até estariam justificadas e eram suportadas por um contrato feito e assinado em 2010. Não era corrupção eram negócios, uma alocação fiduciária.
Ora, até aqui tudo bem, os arguidos apresentam justificações para as acusações e o Ministério Público, como é seu apanágio, não acredita está-se nas tintas para a justificação, tem a sua história, ou melhor, a sua estória montada e nem pensar que uma eventual verdade venha estragar essa sua estória. Os arguidos juntam o contrato ao processo e nada, o Ministério Público não quer saber de papeis que o atrapalhem, dizem que é forjado e feito em data posterior apenas porque sim, porque dá jeito à estória. O Sérgio Moro Tuga, também conhecido por Super Juiz, tal como o seu congénere Zuca, sempre muito alinhado com o Ministério Público faz o mesmo. Papeis? Siga para o monte de papelada inútil!
Convêm não esquecer que a acusação, ou seja, o Ministério Público e o Super Juiz tudo fizeram e tudo disseram para minar e comprometer o desempenho a instrução deste processo duma forma geral e as posteriores decisões de Ivo Rosa que pudessem ser desfavoráveis à estória do Ministério Público. Exemplo disto o facto de que todas as decisões tomadas pelo Juiz de Instrução que não são favoráveis à acusação são de imediato escrutinadas, criticadas e dão origem ao já useiro e vezeiro coro de justiceiros que, tal como a pescada que antes de o ser já era, também para estes o processo antes de chegar a julgamento já tem sentença ditada, transitada e aplaudida pelos acusadores e pelos super qualquer coisa.
Ironia do destino, porque o destino é muito irónico, nem os competentes magistrados do Ministério Público, nem o competentíssimo Super tiveram a capacidade e a habilidade, no fundo a competência, de olhar para o famoso contrato com olhos de ver e, vendo, entenderem que um contrato assinado em 2010 nem por artes mágicas podia ter dados dum Cartão de Cidadão alegadamente emitido em 2014. Teve de ser o Juiz de Instrução incompetente, aos olhos dos seus detractores, o tal juiz que ia destruir o “excelente” trabalho do Ministério Público e do Super Qualquer Coisa, o tal juiz que não se queria na instrução a descobrir este pequeno mas enorme pormenor.
Gostava de ver, mas vos esperar sentado, todos ou pelos menos alguns dos detractores de Ivo Rosa virem agora a terreiro fazer o mea culpa e admitir que foi este juiz que deu comprovadamente a maior machadada na credibilidade dos arguidos deitando por terra a presunção de inocência até prova em contrário. Aí está a prova e não as comuns e vulgares enfabulações do Ministério Público.
Certamente as defesas virão agora a jogo com uma explicação para a coisa, certamente a justificação até poderá ter razão de ser e até poderá ser verdadeira, mas há erros que não se podem cometer e este, a ser um erro como certamente as defesas vão tentar dizer é um erro imperdoável.
Jacinto Furtado
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