Declaração prévia de interesses:
Por livre decisão minha, e por conselho do meu médico, tomei recentemente a terceira dose da vacina para a covid-19, bem como a da gripe. Contudo, não aceito nem concordo com a imposição coerciva da vacinação.
Estamos há quase dois anos em verdadeiro estado de excepção (inclusive com um estado de emergência sucessivamente prorrogado durante meses, contra a sua natureza em absoluto temporária e extraordinária), com os nossos direitos e liberdades fortemente restringidos, sendo certo que, em matéria de muitas dessas mesmas restrições, o actual regime dito de calamidade[1] vai até mais longe do que o dito estado (formal) de emergência.
Tal como antes do 25 de Abril ou como no tempo da Tróica, a tese de que os fins invocados justificariam os meios foi levada, sob o argumento da necessidade (agora já não financeira, mas sim sanitária) aos seus pontos mais extremos, atingindo um dos seus auges com a questão da vacinação das crianças. E, tal como naqueles tempos, tudo isso apresentado como medidas meramente “técnicas” e “neutrais”, que são, afinal, verdadeiramente políticas, impedindo o debate sério e fundamentado acerca dos respectivos pressupostos, antes alardeados e impostos como axiomas indiscutíveis[2].
A questão das vacinas
As vacinas são, obviamente, um importante instrumento das políticas de Saúde Pública. E as da covid-19 desempenham um papel relevante na atenuação quer da possibilidade de contrair a infecção, quer dos seus efeitos, muito em particular nos pacientes mais vulneráveis, nomeadamente os idosos.
Porém, ao contrário do que nos afiançaram os dirigentes políticos e os seus “especialistas” de serviço – e com isso justificaram as mais autoritárias medidas – as vacinas da covid-19 não só não evitam o surgimento de novas estirpes (o que é, aliás, absolutamente característico de vírus como o SARS-COV2), como vão perdendo eficácia ao fim de alguns meses (primeiro referiam-se 12, depois 5 ou 6, e agora até já se fala em apenas 3…) obrigando a novas e consecutivas inoculações. Também não evitam – ao invés do que pelos mesmos responsáveis e especialistas, e com toda a ênfase do mundo, nos foi feito crer – nem que a pessoa vacinada possa afinal contrair a doença, e até com particular gravidade, nem que ela a possa transmitir a outros. Deste modo, por muito que nos repisem diariamente o contrário, não raramente logo apelidando de “negacionistas” aqueles que simplesmente colocam estas questões, a tese de que uma vacina impediria em absoluto a infeccção e a sua propagação ficou irremediavelmente posta em causa. Mesmo que se imponha a lei da rolha e a censura prévia aos que simplesmente querem que de discuta de forma séria este assunto.
O caso da variante Ómicron
Esta é mais uma das inúmeras variantes[3] que se sabia ou se deveria saber que surgiriam, mas com base na qual se procuraram justificar as medidas restritivas mais recentes, inclusive a de mandar para casa, para junto dos encarregados de educação, turmas inteiras de crianças porque surgiu uma infectada. Mas esta variante tem-se caracterizado, na verdade, por um grau de gravidade de sintomas e de perigosidade, ou até letalidade, bem menores do que as restantes já conhecidas, e em particular a Delta. E, todavia, foi também invocando a Ómicron e – pasme-se! – culpando por ela os países africanos (em particular a África do Sul e países vizinhos como Moçambique), que primeiro a detectaram e identificaram, que os países europeus correram a fechar portas[4], ao mesmo tempo que apenas uma porção ínfima das vacinas – inclusive as já pagas, como sucedeu com o Uganda – tem chegado aos povos de África…
Por outro lado, e em qualquer caso, conviria estudar com seriedade intelectual a realidade dos números e procurar compreender se é ou não verdadeira, em que medida e quanto a que estratos da população, e porquê, a relação directa que se tem procurado estabelecer entre maiores taxas de vacinação e menores números de mortos, pois é sabido – mas não conhecido, por ser censurado – que vários países com taxas de vacinação bastante mais baixas do que outros têm também taxas de letalidade, relativamente ao número total de infecções, bastante mais baixas[5].
Não se trata, obviamente, de negar a importância e a utilidade da vacinação – mesmo que as vacinas da covid-19 não tenham, nem de longe, nem de perto, os tempos de experimentação e de aplicação necessários para se poderem ter conclusões cientificamente seguras – mas sim de pôr a claro que aquilo que nos foi apresentado como pretensas verdades científicas, apenas questionadas por ignorantes, pessoas de má-fé ou conspiradores, estão, afinal, muito longe de o ser.
A vacinação das crianças e a realidade dos números
Mas onde todas estas realidades e questões são ainda mais relevantes é na questão da vacinação das crianças, e muito em particular das que têm entre 5 e 11 anos de idade e de cuja vacinação se pretende agora impor por mecanismos (directos e indirectos) de constrangimento e principalmente por uma gigantesca campanha de desinformação da opinião pública. Exagero? Vejamos:
A Direcção-Geral da Saúde (DGS) veio recentemente referir[6] que, desde o início da pandemia até 3/11, de um total de 640.000 crianças daquela idade, teria havido 68.000 crianças infectadas (diagnosticadas por detecção do vírus) e 217 hospitalizações. Porém, e como bem assinalou recentemente o médico pediatra José Gonçalo Marques, considerando-se a taxa de seropositividade que foi identificada no 2.º inquérito serológico nacional, é possível estimar que, até Março deste ano, já existiriam 89.000 crianças infectadas (sensivelmente o dobro das identificadas por detecção directa do vírus) e que desde Abril até agora ter-se-iam verificado mais 37.500, totalizando assim, não 68.000, mas cerca de 126.800.
Ora, destas, a DGS afirma que 217 teriam sido internadas, mas “esquece-se” desde logo de que só cerca de metade de todos os internamentos pediátricos em que foi feito um teste e foi detectado o vírus da covid-19 é que são efectivamente motivados por doença associada ao mesmo vírus. Ou seja, em 126.500 crianças em que se detectou o vírus desde o início da pandemia, apenas 109 (0,086% dos casos) teriam tido de ser internadas devido à covid-19! E segundo a Sociedade de Cuidados Intensivos Pediátricos, desde o mesmo início da pandemia até hoje, terá havido um único caso de uma criança com idade entre os 5 e os 11 anos que era anteriormente saudável e que, por causa da covid-19, terá tido de ser internada numa Unidade de Cuidados Intensivos, sendo zero o número de mortes registadas em tal escalão etário em tal período de tempo e por tal causa.
Significa tudo isto que, como igualmente bem demonstrou, entre outros, o Dr. José Gonçalo Marques, mesmo considerando – erradamente, como já se viu – que a vacinação fosse capaz de prevenir 100% dos casos graves, a vacinação em massa das referidas 640.000 crianças dos 5 aos 11 anos iria supostamente evitar… 0,18 (um vigésimo de unidade) de internamentos em cuidados intensivos e zero mortes!
Ora, onde estão então as verdadeiras e cientificamente fundadas razões de emergência sanitária e de saúde pública que fundamentam toda esta contínua e enorme pressão para a vacinação das crianças? Como justificar todo o alarme social sistematicamente incutido a este propósito (chegando-se à brutalidade de fazer crer às crianças que, se não cumprirem com os confinamentos e isolamentos ou com a vacinação, elas serão responsáveis pela doença e até pela morte de pais ou avós!?) e todos os enormes meios, de organização e de propaganda, mobilizados para esta “campanha”?
É sabido que o vírus responsável pela grande maioria das infecções dos brônquios das crianças – o chamado VRS – determinou, entretanto, só no Hospital de Santa Maria e no mesmo período de tempo, cerca de 120 internamentos hospitalares de crianças, mais de 20 deles em Cuidados Intensivos. E, todavia, não vimos ninguém (Governo, DGS ou “especialistas”) proferir uma só palavra a defender medidas como as de mandar turmas inteiras para casa por um único caso de uma criança infectada, rastrear (fazer testes) a todos os seus possíveis contactos, impor-lhes isolamentos profiláticos, e só permitir o regresso das crianças às aulas após dois testes (ao quinto e ao décimo dia) negativos consecutivos…
Quais, repete-se, são, afinal, as verdadeiras razões para tudo isto?
É que a imposição da vacinação – ainda que sob a forma hipócrita de afirmar que ela não é obrigatória, mas logo de seguida impor essa mesma obrigatoriedade através, por exemplo, da exigência do respectivo certificado para toda uma série de actividades – revela-se, antes de mais, um eficiente e hábil instrumento de exercício do poder (nas áreas de actuação do Governo e da Administração Pública, da Comunicação Social e do próprio patronato) e de garantia de uma muito mais fácil governação de cidadãos, assim colocados entre o “cientificamente” anestesiados e confundidos e o permanentemente amedrontados.
A lógica fascizante da eliminação das vozes incómodas
As limitações e restrições aos nossos mais básicos direitos e liberdades (desde a de circulação e de expressão, até aos direitos ao ensino, à cultura, ao lazer e até ao próprio trabalho) têm assim sido reiteradamente impostas sob o tal velho/novo argumento de que o fim (de combate à pandemia) justificaria os meios (mesmo os mais ilegítimos e anti-democráticos) e também com a lógica de que todos os discordantes, logo pressurosamente apontados como agitadores ao serviço de interesses inconfessáveis, podem e devem ser silenciados e expulsos do espaço público, político, social, académico e até profissional.
Os ainda poucos médicos e cientistas que ousam ir contra a corrente e pôr em causa a bondade das teses dos “doutrinadores” do regime são de imediato fulminados com os anátemas de “negacionistas” e de “adeptos das teorias de conspiração”.
Grande parte dos jornalistas opta por nada reflectir nem nada investigar e antes reproduzir servilmente os takes das agências de comunicação ou das “fontes oficiais”, colaborando assim também, e activamente, no amordaçamento e no assassinato cívico dos dissidentes e na criação de uma opinião pública enganada e manipulada.
Os organismos públicos (em especial os seus dirigentes) e os responsáveis políticos actuam na lógica, sinistra e fascizante, do “Estado de Segredo” (ainda pior que a do Segredo de Estado), bem como fazem uso dos mais diversos mecanismos repressivos.
Grande parte dos homens e das mulheres do Direito, da Justiça, da Cultura, das Artes e das Humanidades põem o joelho em terra perante aquilo que bem sabem (ou deviam saber…) constituírem verdadeiros atentados à Democracia e abusos intoleráveis num Estado que se diz de Direito, aceitando deste modo tornar-se cúmplices neste processo de aniquilamento da Democracia.
Quase ninguém ousa falar nos lucros gigantescos embolsados pelas multinacionais da Indústria Farmacêutica (20 a 25 dólares de ganho por cada vacina vendida!…) nem das principescas remunerações pagas a alguns dos “fazedores de opinião” [7] que todos os dias nos entram pela casa a dentro.
Querem fazer-nos esquecer que a vacinação constitui um acto, invasivo, de natureza médica, que só pode ser praticado relativamente a um cidadão que foi prévia e devidamente informado e pôde assim formar uma vontade livre e esclarecida no sentido do consentimento. E, claro, entre nós ninguém sabe que a própria Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa[8], na sua recente Resolução n.º 2383, recordou a sua anterior Resolução n.º 2361 (2020), onde encorajava os Estados-membros a assegurar “que os cidadãos são informados de que a vacinação não é obrigatória e de que ninguém sofre pressão política, social ou outra para ser vacinado, se não o desejar”. Tal e qual como cá, como se vê!?
Temos assim visto como os cidadãos, e muito em particular os mais jovens e os mais velhos, se vêm cada vez mais assustados, constrangidos, impedidos de circularem e de conviverem, impossibilitados de aprenderem, de se cultivarem ou, simplesmente, de se divertirem ou até de trabalharem[9]. E, sobretudo, se sentem cada vez mais impossibilitados de falarem livremente, de ouvirem as várias correntes de opinião, de debaterem e de assim se esclarecerem devidamente.
Impõe-se assim que não seja possível aos cidadãos, literalmente esmagados e postos em choque com as permanentes e avassaladoras “notícias” e “comentários” do pensamento dominante sobre a covid-19 e sobre o circo das “últimas” da Justiça Criminal, discutirem os grandes problemas da nossa sociedade, como a gravíssima crise económica e social que se aproxima a passos largos, a cada vez mais evidente subida dos preços dos produtos essenciais, a iminência da explosão do desemprego ou as centenas de milhares de despejos que estão aí à porta com o fim das moratórias.
Basta! Basta, porquanto é precisamente assim que se destrói um país e porque não é mais possível aceitarmos este autêntico sufoco, feito de acantonamento, de servidão e de condenação a vidas cada vez mais infelizes e miseráveis. Temos direito a ser felizes e temos o dever de construir um mundo melhor e mais justo!
António Garcia Pereira
[1] Decretado por meio de (mais) uma, aliás, extensíssima, mera Resolução do Conselho de Ministros (RCM n.º 157/2021, de 27/11), que determina limitações e restrições de vários direitos fundamentais.
[2] Salazar proclamava, a propósito da guerra colonial, que “a Pátria não se discute” e, no tempo da Tróica, também não se podiam discutir questões como a do (não) pagamento da dívida ou a da imposição do limite do défice!…
[3] Haverá mais de 1.000 variantes do vírus covid-19, sendo que apenas tem merecido atenção uma escassa dezena delas.
[4] Praticando, assim, um autêntico “apartheid de viagens” como certeiramente o qualificou o próprio Secretário-Geral da ONU, António Guterres.
[5] Em 14/09/2021, de acordo com os dados do “Worldometer”: o Canadá, com 69,4% da população vacinada e 1.551,072 casos, tinha tido 27.238 mortos (1,8%); a Suécia, com 60,8% de vacinados e 1.142,770 casos, tivera 14.698 mortos (1,3%); Cuba, com 39,3% de vacinados e 801.367 casos de infecção havia sofrido 6.796 mortos (0,8%); Portugal, com 80,2% da população vacinada e 1.057,100 casos, sofrera 17.872 mortos (1,7% do total dos casos de infecção), sendo que em 2/12/2021 as percentagens eram, respectivamente, de 1,7%, 1,3%, 0,9% e 1,6%.
[6] Segundo os valores apresentados pela Comissão Técnica de Vacinação.
[7] Como já referi noutro texto, foi publicamente revelado que um desses opinadores oficiais recebeu, nos últimos anos, mais de 4.000€ por mês dos gigantes da Indústria farmacêutica, designadamente os das vacinas.
[8] O Conselho da Europa é uma organização internacional fundada em 5/5/1949, com 47 Estados-membros, incluindo os 27 que integram a União Europeia, e no âmbito da qual foi aprovada a Convenção Europeia dos Direitos Humanos.
[9] Não nos devemos esquecer que, também em nome de pretensas “verdades” científicas, foram decretados recolheres e confinamentos obrigatórios, ao mesmo tempo que se obrigavam centenas de milhares de trabalhadores a circularem, como sardinhas em lata, em atulhados transportes públicos durante a semana e em superlotados hipermercados aos sábados de manhã, mas nos quais supostamente o vírus já não entraria nem contaminaria…
Apoio totalmente o artigo
Para os ultra defensores da liberdade que não querem se vacinar quo não façam mas sejam impedidos de se misturar com as pessoas normais: da vontade de dizer se pegar a doença não vá para os hospital vá para o diabo que o carregue
Em primeiro lugar, fico satisfeito por Garcia Pereira, à semelhança da quase totalidade do povo português, aderir à vacinação. Outra coisa não esperava. Dito isto, o artigo de Garcia Pereira merece muitas críticas.
As restrições à liberdade devido à pandemia, embora indesejáveis, são na sua quase totalidade necessárias. A China tem muito mais restrições e, graças a isso, já não têm mortes por Covid há um ano num país com mais de 1000 milhões de habitantes.
As restrições não se comparam (e é “sacrilégio” politicamente incorrecto dizer que a China teve a melhor estratégia de combate à Covid no mundo) e Portugal teve que recorrer à vacinação para evitar que a catástrofe de Janeiro de 2021 se repetisse. Graças à vacinação, os portugueses puderam recuperar algumas das suas liberdades e, apesar do número muito alto de casos actual, o número de mortes está muito mais baixo. A vacinação não previne o contágio de novas variantes mas definitivamente impede que pessoas infectadas desenvolvam sintomas graves. A vacinação salva vidas. Mesmo nos mais jovens, apanhar Covid quando ainda não havia vacina muito dificilmente resultaria em morte mas resultava em lesões a longo prazo. As próprias crianças não são imunes à Covid e faz sentido que sejam vacinadas, aliás, como já o são contra qualquer outra doença para a qual haja vacina. O que mais lamento nos negacionistas e nos anti-vacinas é que os progenitores deles não tivessem sido anti-vacinas no passado.
A maioria dos portugueses (e Garcia Pereira é um exemplo) aderiu à campanha de vacinação e graças a isso não estamos tão mal como há um ano. Porque é que aqueles que não o fizeram apesar de terem a oportunidade para tal (excluindo obviamente quem de facto não podia ser vacinado) deveriam colher os lucros do trabalho que não fizeram? Pior ainda é toda a escumalha que polui caixas de comentários com lixo negacionista, e não só têm que ser catalogados como tal e judicialmente punidos por isso. A China faz isso e não consta que seja “fascizante”. Na China quem não respeita as regras de confinamento é publicamente humilhado e obrigado a pedir desculpas. Na União Soviética quem desertava durante a Segunda Guerra Mundial era fuzilado e não consta que fosse “fascizante”. Medidas drásticas sim, mas necessárias em casos extremos.
O argumento do lucro de 20 a 25 dólares por vacina é ridículo uma vez que uma hospitalização com recurso a ventilador fica bastante mais cara. As vacinas poupam dinheiro (para além de obviamente salvarem vidas) e não é às farmacêuticas mas sim ao Serviço Nacional de Saúde.
Interessante Mas, qual seria sua proposta??