A bendita de merda da escravatura nunca acabou.
Menos ainda para as mulheres. Menos ainda para as pretas.
Foi com a evolução das conveniências que a escravatura recebeu novas formas, escalando o grau de gravidade, aumentando o grau de violência, inculcando mais medo, mais separação, derramando mais sangue, violando, roubando mais vidas, tornando-se mais barbárie, cancelando culturas e pessoas com base na sua cor de pele, sempre por conveniência, sem piedade, e quando por fim enterrada debaixo de alcatrão e penas do que era impossível esconder e prosseguir, para que não se chegasse ao âmago da sua feiúra, pensaram-se novas formas de escravatura que não desse pelo mesmo nome, nem tivesse uma só morada, género e cor de escravos.
Silenciada, logo a aboliram e arranjaram uma puta substituta, continuando sem género.
Foder, fazia-se com qualquer género, desde que gerasse lucro. Os escravos simulavam orgasmos então, por sobrevivência, como ainda hoje, mal fodidos, ainda os fingem. Porque somos escravos.
“Fiquem para aí livres, sem nada, apenas com os trapos do corpo, seus pretos inferiores e desenrasquem-se, nunca chegarão a lado nenhum porque não deixaremos, criaremos obstáculos sucessivos, pagaremos até”, foi a substituição por cristãos da escravatura antecedente imposta por árabes “fiquem por aí eunucos, com os trapos do corpo, obedeçam, seremos sempre mais fortes que vós”, em substituição da frase “ nós velhos brancos, sábios sabemos o que é melhor para todos vós, sois nossos, deixar-vos-emos apodrecer, enquanto nos apetecer”. As mulheres são inexistentes.
Até Cleópatra apagaremos da vossa História como rainha, sacerdotisa, deusa inteligente, dona de um Império próspero e humanista, e guerreira sem par. Diminuiremos e cancelaremos qualquer Rainha Ginga, Okimpa Pampa que tenha mantido reinos prósperos e em paz, em riqueza, com direitos iguais e em liberdade. Por cima delas construiremos histórias de prostitutas, manipuladoras, narcisistas. Exactamenteo espelho dos homens que as apagaram.
Obrigada meus caros.
A dada altura, esses mesmos velhos, jovens, espalhados por diversas geografias e latitudes, maioritariamente brancos, sábios, de barrigas proeminentes com a gordura vinda dos lucros, perceberam ser mais fácil alargar a escravatura a quase toda a população do planeta, criar essa e bendita merda da pobreza absoluta, cavaram fossos maiores, lavraram guerras inventadas e sem sentido, pandemias com vacinas obrigatórias, manipulação de informação, destruindo o tecido de que uma sociedade é feita, impondo fugas para salvar a vida a escravos ilegais que morrem pelo caminho, mas também criaram tratados de circulação para que parte dos escravos legais se movimentassem onde pudessem criar lucro, com a sensação de liberdade.
Se alguém se lembrar de mais formas de manterem manietados com algemas na vida, os seres humanos que nasceram livres porém pagam para viver e dar lucro a uns filhos de um Adão menor, ajudem-me que eu acrescento. Não se pode confiar em ninguém, e quando te disseram que estão a fazer algo para teupróprio bem, desconfia e questiona.
Cuidado, estás a ser observado e tens uma arma apontada. Tu és o escravo. Há parasitas psicopatas por aí, a aguardar pelo teu sangue para criar lucro.
Se repararam no meu escrito, as figuras femininas estão numa cova, bem enterradas, comidas por bichos.
Elas foram ensinadas por esta gente sábia e gorda de lucros a ser o bom exemplo dos princípios da escravatura:
– calar-se, ser submissa, servil, fraca. Ser ninguém. Desumanização.
Eu descendente de todas estas gerações de escravos, subo nos seus ombros:
-não me calo, sou insubmissa, levanto-me, cresço e luto. Sou tudo o que quero.
Escrava sim, porque pago em vida um duro preço por existir. Dou-lhes lucro e muito.
Como outros, parto as algemas. Estou é no lugar de números irrelevantes, obscuros e sem voz.
Imaginem o mundo, se estas mulheres deixassem de fazer qualquer trabalho que gerasse lucro aos seres pensantes das várias formas de escravatura?
Imaginem que no mundo as mulheres começavam a gritar:
-Vós fodeis mal! Pelo vosso lucro, nem merecem que simule mais os orgasmos.
Imaginem finalmente a beleza do momento quando todos os escravos soltarem o grito em epígrafe, em uníssono… será o fim, de todas as formas de escravatura.
É por isso que escrevo sentimentos, emoções, paixões, que ensinem a qualidade da poesia da vida em liberdade. Para nunca esquecermos quem somos e de onde vimos. Para reconhecer a beleza, trazer harmonia e bondade ao meu tempo de vida.
A humanidade é mais e melhor que o que os psicopatas ao nosso desserviço. Ou, dado o padrão, a periodicidade e o controlo com que a escravatura cria ciclos para gerar lucros, talvez não. —
Anabela Ferreira
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