É oficial, perdeu-se completamente a réstia de dignidade que, embora residual, ainda ia subsistindo. Já não há vergonha, já não há verticalidade, já não há carácter, já não há moralidade.
“Há muitos que deviam pagar os seus impostos e não pagam. Porquê? Porque não declaram as suas actividades. Ora nós temos obrigação de corrigir estas injustiças. Não há nada mais social-democrata do que isso, porque aquilo que devia orientar um princípio de social-democracia é a igualdade de oportunidades. Não é o privilégio, mesmo o pequeno privilégio. Se há quem se ponha de fora das suas obrigações para com a sociedade, sendo muito ou pouco, esse alguém está a ser um ónus importante para todos os outros que têm um fardo maior.”
A conversa acima reproduzida não é de minha autoria, foi dita por Pedro Passos Coelho, o tal que não sabe, não se lembra, o tal que desconhece que tem e tinha obrigações contributivas.
O mesmo Pedro Passos Coelho que não se recordava se tinha recebido dinheiro da Tecnoforma enquanto era deputado em regime de exclusividade e que depois se lembrou que afinal tinha recebido umas despesas de representação, mas que não quis quantificar nem explicar convenientemente.
O mesmo Pedro Passos Coelho que alega desconhecer a lei que foi apresentada com ele sentado ao lado do “apresentador”, talvez estivesse a dormir a sesta, algo que Mário Soares sempre assumiu, a sesta não perdoava a ninguém o resto do mundo que esperasse que ele ia “bater choco” já voltava.
A teoria do não sabia, a teoria do desconhecia, essa desculpa esfarrapada, não serve, não só não serve ao comum dos cidadãos como, por maioria de razão não serve nem pode servir ao primeiro ministro. Bem sei que leis não é, nem nunca foi o forte de Passos Coelho, nem a lei fundamental, a Constituição da República Portuguesa, ele é capaz de aprender e cumprir quanto mais as outras todas.
Pedro Passos Coelho vem agora, com enorme desplante e falta de vergonha afirmar que “Não esperem que eu seja perfeito”. Nada disso, ninguém espera tal coisa, aliás basta ver o estado a que conduziu os Portugueses para concluirmos que de perfeito não tem mesmo nada.
Era no entanto de esperar, da parte de quem exige aos outros o cumprimento das suas obrigações um comportamento exemplar, era de esperar que o primeiro ministro de Portugal não nos envergonhasse sendo apenas mais um no rol de incumpridores, no rol dos que usam em seu proveito pessoal algumas ineficiências do sistema.
Era de esperar por parte do primeiro ministro de Portugal um exemplo de verticalidade!
Mas eis senão quando chegámos ao ridículo de se andar pelas ruas a contar vigarices. Deixou de ser importante se “A” é vígaro, se é corrupto, se rouba, se comete fraudes etc etc etc. O importante é que se possa apontar ao clube do lado que o “B” também é.
Depois entra-se na graduação da coisa…
“Ah o teu político é mais que o meu, o meu SÓ roubou uns milhares e o teu roubou umas dezenas de milhar”
“O teu político é ladrão”…
“O teu é mais”
“O teu político recebe luvas”…
“Mas o teu recebe mais”
“o teu político é burlão”…
“Quem diz é quem é lava a cara com café!”
Esta infantilidade, esta irresponsabilidade, esta falta de decência por parte de quem usa, abusa e vive à conta do Estado têm de acabar. Exige-se decência, verticalidade, honestidade.
Para os que nunca fizeram nada na vida a não ser viver à sombra dos partidos, do Estado ou de alguns tachos arranjados por via dos partidos ou do Estado tudo isto parece normal.
Mas não é!!!
Não podemos continuar a ter presidentes da república que ganham dinheiro à conta do BPN e não acham estranha a forma como o receberam. Não podemos continuar a ter aposentados em Belém que compram moradias no Algarve à mesma malta do BPN e não se recordam onde, como ou quando fizeram a escritura nem dos termos do negocio.
Não podemos continuar a ter politicos a comprar casitas de milhões sem se saber onde é que têm as cabras para os cabritos que apresentam.
Não podemos continuar a ter processos a prescrever, ou melhor, a ficarem “esquecidos” nas gavetas até prescreverem e a vermos noutros países os corruptores a serem punidos enquanto em Portugal, os corrompidos, são louvados.
Não podemos continuar a ter ex-membros do governo a esquecerem-se de declarar o património, nem putativos futuros primeiros-ministros com rabos de palha.
Não podemos continuar a ter partidos políticos a depositarem milhões em dinheiro nos bancos utilizando o argumento de que eram donativos que estavam por lá perdidos no canto do cofre.
Também não podemos ter um primeiro ministro que não sabe o que recebe, de quem recebe, se podia receber uma vez que estava em exclusividade na Assembleia da República. Afinal recebia mas eram despesas de representação. Não pagava as contribuições porque não sabia que tinha de pagar e ninguém lhe disse, mas… quando lhe disseram esperou mais 3 anos para pagar e pagou menos de metade.
E o Povo?
O Povo ri muito e vai dizendo, “ai os malandros, eles é que a sabem toda! São todos iguais… mas o do teu clube é mais ladrão do que o do meu”
Bem dizia Eça de Queiroz “Os políticos e as fraldas devem ser mudados de tempos em tempos, pelos mesmos motivos”.
Continuam distraídos? Não sabem qual é o motivo referido por Eça de Queiroz?
Irraaaaa ACORDEM!!!!!
[…] Continua… […]
[…] Source: O meu político é menos vigarista que o teu (por Jacinto Furtado) – Notícias Online […]