Acho que o Programa eleitoral do PS só peca por defeito relativamente às medidas que seriam necessárias para o País mudar de rumo. E por uma razão: se fosse mais além o PS teria que pôr em causa o Tratado Orçamental e renegociar a dívida, e sobre estas questões, o PS assobia para o ar e nada diz, a não ser que vai cumprir tudo o que a UE determinar.
A Direita, não tem nada para apresentar, a não ser mais do mesmo. Mais cortes, mais austeridade, mais miséria, mais desigualdade social, mais privatizações ao desbarato para apaniguados e companheiros de estrada.
A Direita já que nada tem para dizer, não anda a discutir o Programa do PS, em termos da valia de cada medida tomada de per si. Ou seja, não diz que as medidas sejam más, a maioria delas. Aquilo que imediatamente pergunta, sobre cada medida, é quanto custa, e questiona se a União Europeia nos vai deixar implementar as mesmas. O PSD não tem programa, a não ser o programa que a troika lhe deixou e impõe. Quando vê qualquer coisa de novo, mesmo que seja tímido, olha para a troika e pergunta: “Será que isto vai ser possível de implementar? Nunca tínhamos pensado nisto.”
Só que há um problema. É um problema de contas e de macroeconomia. O programa do PS é um exercício de macroeconomia, com objetivos, e restrições que assume e pretende cumprir, mormente as restrições do Euro, da dívida e dos Tratados. Ora, a maioria, que nunca teve programa político que fosse além do governar à vista, gerindo o País como se fosse uma mercearia com um livro de fiados, fica aterrada.
Não percebe, que toda a ação económica se desenrola no tempo, sendo a resultante final um saldo que advém das interações variadas de múltiplos agentes. E, decorrendo no tempo, e fazendo uma aposta sobre o futuro, existem sempre riscos de falha na antecipação de cenários futuros, e a necessidade de ajustamentos.
Mas estes riscos, são os que derivam de qualquer cenário de investimento. Se as empresas privadas que o Governo tanto elogia tiverem tanto receio dos riscos do futuro, como o Governo, já que propagandeia o pavor desses riscos para destruir a valia do Programa do PS, nunca mais o País sairá do estado miserável em que se encontra.
A questão toda, portanto, é esta. Ao PS exigem-se contas. Quando as apresenta, não as entendem, nem as percebem, por incompetência, má-fé ou enviesamento ideológico. O PSD não tem, nem programa, nem contas, porque quem lhe faz o programa é a troika e o FMI.
A tristeza final, ainda assim, é que o PS precisou de justificar a sua “austeridade amenizada” com um modelo macroeconómico que lhe pretende sustentar a plausibilidade. Ou seja, teve que justificar as suas opções políticas com o tecnicismo dos modelos. Não para convencer os cidadãos, mas para convencer as instâncias europeias, obtendo assim luz verde para as propor e levar à prática.
Quanto ao PSD/CDS não precisa de dizer nada e nada tem a dizer. Basta-lhe olhar para a troika e para o FMI e pedir instruções. Não tem que apresentar contas. O seu único programa é acenar com o medo e o pavor de dias piores, dias que, em verdade, vai querer continuar a impor se os portugueses se assustarem e lhes confiarem o seu voto.
A falha do PS, é que julga que a Europa está de boa fé e vai ser sensível aos seus argumentos técnicos, permitindo-lhe, caso ganhe as eleições, levar avante o seu programa, por muitas limitações que possa ter no sentido de corrigir o atual quadro económico.
Eu até queria estar enganado mas duvido. O programa do PS, volta o enfoque da economia e da governação para os rendimentos do trabalho e para a procura. O enfoque da União Europeia sempre foi inverso e continua ainda a ser. É um enfoque que privilegia os rendimentos do capital e a oferta, pelo que, e ainda que o PS não seja Syriza, o choque será inevitável.
(*) Estátua de Sal é pseudónimo dum professor universitário devidamente reconhecido pelo Noticias Online.
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