Ou muito me engano ou o esquema que põe informação tão suculenta ao dispor de Marques Mendes e de que ele, generosamente, atira umas migalhas cuidadosamente seleccionadas à plebe, vai acabar mal.
Há entre Mendes e os seus, por assim dizer, informadores, um arranjo que não pode deixar de ser em duas vias: estes, evidentemente, divulgam antecipadamente o que não querem ou não podem assumir oficialmente; em troca, o que recebe Mendes?
Ninguém acreditará que se contente com a medíocre satisfação de suplantar o pantomineiro Marcelo na frescura do anúncio. É pouco e não chegaria para competir com as outras lantejoulas do criador do género em Portugal – as grimaces, a superficialidade criativa, a enorme panóplia de truques circenses.
Ora, MM não diverte – adverte; não é um oráculo – é um arauto; não analisa – anuncia. Nunca chegará aos calcanhares (et por cause…) do grande “entertainer”. O retorno, para Mendes, das informações que divulga – e ninguém acreditará que não haja retorno – é, assim, o mais intrigante.
Já não deve fazer parte dos seus sonhos de futuro tornar-se um gigante do komentariado. Um retorno a cargos partidários ou governativos como prémio da sua actividade de dispensador de doses úteis de “inside information” poderá ser parte da resposta mas não a esgota.
O que motiva, então, a Águia de Fafe?
Mas vejamos a prática em si. Sentadinho no estúdio, o causídico minhoto cresce, se assim me posso exprimir. Cresce em importância porque detém o saber, a tal informação que o chavão assegura ser Poder. Ele sabe, até às casa decimais dos números, as malfeitorias que a troika ou o FMI ordenaram aos seu serventuários que sejam aplicadas amanhã, conhece a antecipadamente a resolução que acaba em bancos de bondade diversa, pode anunciar o que tal Ministro decidiu para isto ou para aquilo.
Ele obtém do Governo e arredores informação de grande importância que é vedada aos seus concidadãos e que, como digo acima, só é difundida por este sacerdote da manipulação parcelarmente.
Corre, por isso, pelo menos dois riscos: tornar pública informação qualificada e/ou, pior, usar ou permitir que outros usem informação, que não tornou pública mas possui, em proveito próprio ou de outros. Isto é, corre o risco de parecer facilitar tráfico de informações, “inside trading”, antecâmara da corrupção.
É isso, ou me engano muito ou “isto” acaba mal.
António Russo Dias
(Publicado originalmente na página do autor)
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